sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

«A Última Canção da Noite» de Francisco Camacho - Opinião

Conceda a si mesmo uma última dança. Usufrua desta «A última canção da noite» como se de um doce se tratasse.
Francisco Camacho brinda-nos com uma imaginação fértil e uma escrita exemplar, trazendo até ao leitor uma saga musical.
Jack Novak, guitarrista dos Bitters, desapareceu! David Almodôvar, crítico musical, a desaparecer... Vera, fugida, Lola caída no esquecimento e Capri, um charlatão à procura da nova oportunidade, personagens fortes que imprimem um ritmo acelerado e intenso a todo o enredo.


Pense neste livro como num Best Off. Um álbum duplo, recheado de sucessos, de grandes êxitos.
Cada capítulo é como um solo, ora a bateria, para períodos de guerra, ora uma guitarra para períodos, talvez, de maior sensibilidade e paixão, ora uma voz rouca e meio arrastada que dá um tom nostálgico às memórias que compõem a vida.
É no desenterrar dessas memórias como quem redescobre grandes êxitos do melhor rock'n'roll que Francisco Camacho constrói a vida, a carreira e a alma de uma grande banda - Bitters. Uma banda aclamada pela crítica que bebeu das melhores influências, tal está exposto no roteiro musical que o próprio livro é!
E para o qual o autor fez uma playlist e eu, sem saber, fiz outra. A minha garante-vos pelo menos 10 horas de música. Não se preocupem, o livro lê-se muito mais rápido, no entanto, se se perderem como eu pelas músicas, levarão certamente mais tempo.



A relação entre David e Jack releva uma perspectiva muito mais humana, que dá à música e aos que lhe dão corpo uma aura muito mais terrena. É olhar um ídolo como quem olha um amigo, talvez um amigo mágico e com super poderes, assim ao jeito de herói do fantástico... mas até os heróis precisam de ajuda.

Um romance que molda a nossa forma de olhar as relações, colocando em causa a autenticidade de cada um e quanto o passado e as origens condicionam as escolhas e os caminhos que seguimos.
É igualmente um romance que abre caminho para o acaso e a beleza de aproveitar cada momento como se fosse o último.

A escrita de Francisco Camacho é simples, concisa, mas muito rica, colorida, detalhada, quase como uma fotografia instantânea, assim ao jeito de uma polaroid, sem retoques nem polimentos. O roteiro musical dá vontade de ir rebuscar velhas cassetes e um walkman e sair estrada fora, então para quem já saiu daqui sem rumo definido, sabendo apenas que Marrocos era o alvo, sem gps ou altas tecnologias... deixa ainda um travo nostálgico ainda maior.

«A Última Canção da Noite» é uma melodia simples, mas intensa, numa voz peculiar e inquieta, que nos arrebata com enorme paixão.

A minha recolha musical tentou ser o mais fiel possível ao roteiro que o livro nos dá, no entanto, não resisti a incluir um tema para a aventura marroquina e também um pequeno apontamento para a Lola.

Uma leitura com o apoio D. Quixote

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