sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

«MEA CULPA» de Carla Pais :: Opinião


Carla Pais venceu em 2016 o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, com este romance «Mea Culpa», agora publicado pela Porto Editora. O júri qualifico-o como “um romance realista e telúrico”, o que só por si já me chama à atenção. Sou fã desse lado telúrico e da linguagem que traz agarrada a si, a terra e as suas gentes, mais simples, talvez mais sombrias, mas também mais carregadas de matéria literária. Sou por isso fã de José Riço Direitinho ou Carlos Campaniço, que nos trazem enredos em torno da terra, da gente e das histórias que sentimos saírem da boca de velhotes que se amparam na bengala e ajeitam a boina. É dessa mesma casta que me parece que Carla Pais conseguiu tecer o seu primeiro romance e nos dá a conhecer Amadeu Jesus, homem nascido do lado de lá da ponte, o lado errado. 

No mesmo ano, a autora candidatou-se à Antologia de Contos do Centro Mário Cláudio, com o conto «O Búzio do meu pai» que integra a Colectânea «A Criança Eterna» publicada em Outubro de 2017. Esse conto foi lido primeiro que este romance e deixou-me logo com um bom prenúncio para a capacidade da autora em levar o leitor até às dores dos personagens. A forma como apela ao lado mais emocional do leitor é feito através de descrições incisivas, escolhendo muito bem as palavras com que espeta o leitor e o faz avançar dentro da acção.

As dores dos personagens são, a meu ver, o principal enredo deste livro. Todos eles sufocam nos males que os condenaram a vidas cheia de segredos e ocultações. Uns por nojo, outros por medo, outros por condição social... A história tem contornos conhecidos e já ouvidos em muitas aldeias. Os abusos que os perpetuadores julgam escondidos pela geografia mais recôndita são, infelizmente só ao fim de muitos anos, revelados pelos medos mais próximos do julgamento final. O julgamento e a condenação, muitas vezes fruto da opinião e olhares alheios, alteram as vidas drasticamente. São esses injustiçados que Carla Pais acolhe e poetiza. 

"O vento é uma mão que guia os pés cegos

A esposa do senhor presidente vem outra vez nua pela rua. Traz um lenço de linho branco suspenso na ponta dos dedos, abre muito a boca, mas o grito não sai, não se ouve nada para além do vento que bate na bainha do lenço e sacode a mágoa dos olhos. A cobardia da boca pede silêncio e ela cede, fica presa naquele longo refreio que se instala na contracurva do medo. Desta vez a rua está deserta e a taberna fechada, porém há uma enorme sombra a cobrir a praça, uma sombra que fuma charuto e envenena o ar, mas ela já não tem medo, nem frio, nem nada. Tem apenas o nojo a subir a garganta e então tosse, tosse para que as palavras e os gritos embolados na vesícula biliar se escapem na debilidade de um soluço, na contracção de um músculo que a faça chorar." 

*

Uma aposta PORTO EDITORA.

«Mal me quer» M. J. Arlidge - Opinião


" - De joelhos!
Emilia sentiu os canos da arma cravados na nuca e atabalhoadamente ajoelhou-se.
- Olhe para o chão.
- Eu não conto nada à Polícia, prometo. Faço de conta que nunca aconteceu...
- Acho que já vamos um bocadinho para lá disso, não?"

Voltar a Arlidge é como seguir uma novela sombria, recheada de acontecimentos sinistros e personagens que já conhecemos e queremos rever. Helen Grace ou Garanita são as minhas favoritas e neste «Mal me quer» continuamos a acompanhar ambas numa reviravolta do seu percurso, pessoal e profissional. Helen regressa ao trabalho, depois de um período presa, no livro «Na boca do lobo» e Garanita que se vê perdida nos meandros dos jogos que sempre jogou para subir na carreira. 

Talvez este rol de crimes sangrentos que têm palco em «Mal me quer» sejam menos tenebrosos para o leitor viciado e que acompanha a saga desde o início pois em nada se liga a Helen e não explora os seus fantasmas. Ainda assim é interessante ver o efeito desastroso do abandono, expondo friamente a capacidade de desapego e mente fria de uma adolescente. 

O regresso de Helen ao trabalho está muito bem conseguido, dando à inspectora um rol de dúvidas, baixa auto-estima e uma dúvida constante das suas capacidades em continuar a gerir a sua equipa.

"A dor percorreu-lhe o corpo e de repente Helen acalmou. Olhando para baixo, viu a sua mãe ferida, os nós dos dedos rasgados e assanhados. Amaldiçoando-se, (...)Ao fazê-lo, olhou para cima para o espelho. Tinha uma fenda grossa a atravessá-lo ao meio, distorcendo-lhe o reflexo, transformando-a numa louca disforme."

Talvez este não seja dos livros desta saga que mais vá arrepiar o leitor. Não tem recantos tão bicudos ou pautados por ideias ou emoções que chocam, ainda assim, o motor que desencaminha a adolescente é transversal a muitas família e isso talvez toque inúmeros leitores que são pais. Por isso, o hábito de Arlidge nos dar personagens destroçadas e despedaçadas continua e bastante bem. 


*
Um livro TOPSELLER.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Opinião "A Troca"


Os livros de Nicky Pelegrino deviam trazer um autocolante na capa "CUIDADO! Esta leitura pode criar fortes desejos de se mudar para Itália"

Engraçado como um livro nos vem parar às mãos e acaba por ser exactamente o que queríamos ler. O que melhor do que uma viagem ao Sul de Itália para umas férias de sabores, novas amizades e descobertas pessoais? Só mesmo ir lá e viver as coisas por nós próprias.
O meu saudismo por Itália é eterno. Pergunto-me sempre quando é que lá volto. Pergunto-me o mesmo que a personagem, "se ficasse cá a morar, será que continuaria a adorar Itália?"
Posso estar enganada mas eu acho que sim.

Stella não se recorda do momento em que a sua vida não se organizava entre trabalho no atelier da estilista Milly Munro, a movimentada cidade de Londres e o seu dia a dia pacato de recém divorciada.
Mas no momento em que o atelier fecha devido à morte repentina da sua amiga e chefe, Stella fica um pouco perdida no mar alto, sem grande rumo.
Quem nunca se sentiu assim que mande a primeira pedra. Sem trabalho, sem planos e sem vontade. 
Mas tudo muda quando Stella, num acto de decidida loucura, se inscreve num site de troca de casas e entre um sítio em Madrid, outro em França e uma Villa no Sul de Itália, dá por ela a concordar trocar de casa um arquitecto paisagista napolitano que nunca viu e que irá ficar na sua casa em Londres enquanto trabalha num projecto.
Quem nunca viu aquele filme divertidíssimo com a Kate Winslet e a Cameron Diaz e que costuma passar no Natal?
Vá lá, sabem qual é. "O amor não tira férias".
"A  Troca" lembrou-me isso mesmo só que numa estação diferente. :D

A mudança de Stella para Triento, uma pacata Vila na Costa Italiana começa num compasso lento mas rapidamente ganha contornos capazes de transformar esta estadia em Itália num momento inesquecível, ou até mesmo, num ponto de viragem.
Se foi capaz de virar as costas a Londres, o que será que a prende lá? 
Qual o sentido da sua vida actual? Para onde se quer dirigir?
Será que está bem sozinha ou já se acomodou a uma situação que acha que não pode mudar?

"A Troca" é uma jornada de descobertas, individuais, colectivas, auto impostas e impingidas 
São estes tipo de histórias que fazem pessoas ponderar com os seus botões se não seriam capazes de fazer o mesmo. 
E as personagens que rodeiam Stella são muito interessantes, especialmente as novas amigas a o seu parceiro de troca de casa.
Nicky Pelegrino foi uma estreia para mim e uma muito interessante.
Acho que sempre que quiser voltar a Itália sem sair do meu lugar, vou procurar um livro dela.

Sugestões para quem gostou deste livro e quer matar saudades de Itália
Aqui fica um filme cheio de clichés italianos :P 
E outro para dar um passeio romântico.
Qual é o vosso filme para matar saudades de Itália? :D

Um livro

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Novidade Editorial Planeta :: "O Fruto Proibido"

O Fruto Proibido, tal como romance anterior O Protector, não faz parte de nenhuma série, é um único livro.


O que fazer quando não conseguimos controlar
os nossos sentimentos por alguém?
Quando sabemos que não devemos ir por aí?
Nem na nossa cabeça?

Annie nunca tinha experimentado a «faísca» com um homem — essa espécie de química instantânea que corta a respiração e nos ofusca. Até que uma noite de festa com os amigos a põe cara a cara com o sexy e misterioso Jack. Não é uma simples faísca que salta entre os dois. É uma explosão. Jack
promete consumir Annie, e cumpre a promessa.

Avassalada pela intensidade do encontro, Annie foge do quarto de hotel onde passaram a noite juntos.
Tem a certeza de que um homem que teve um tão forte impacte nela e a vergou tão facilmente à sua vontade só pode ser perigoso. Mas já se envolveu demasiado fundo. E Jack não é só perigoso. É
proibido.

Uma novidade

Opinião "Passa a noite comigo"


Antes de começar, tenho de vos confessar uma coisa. Deixei este livro de lado durante mais de uma semana e li outros dois livros pelo meio, algo que simplesmente nunca faço. Pela primeira irritei-me com uma história da Megan. Começou tão bem e depois pensei "raios, não tenho paciência para o jogo do rato e gato, para o brasileiro e a irlandesa. Vou ler outra coisa".
No entanto, o raio do livro chamava por mim, dizia-me "vem, anda, tu sabes que queres ler mais, tu sabes que te vais roer toda se não acabares a leitura"
E assim o fiz!
Não tenho emenda mas acho que não consigo dizer não a estas personagens da Megan, mesmo quando uma parte de mim se irrita quando ela trata toda a gente pelas suas nacionalidades ou repete muita vez a mesma coisa.
A realidade é que gostei imenso de ler esta desbocada e quente história entre a esquiva Lola e o bonzão do professor Dennis.

Como mencionei, a história começou tão bem. Lola e Dennis conhecem-se em viagem, sem nunca pensar que um dia se voltariam a encontrar. Uma situação de vida ou morte leva-os aos píncaros e cria em ambos uma ligação especial, daquelas que nos faz sorrir e nos aquece por dentro durante muito tempo. Mas esse momento foi uma coisa rápida e cada um seguiu com a sua vida, até ao dia em que se voltam a encontrar e percebem que não só têm de conviver um com o outro, como uma parte do que se falou é mentira. Lola não é assim tão livre como fez parecer e ligação que existe entre ambos não pode ganhar asas.
Mas se fosse sempre tudo assim tão simples, tão fácil de negar. Há tentações que a razão não consegue fazer frente.

Numa coreografia de avanços e recuos, Lola e Dennis vivem uma escaldante paixão que sofre com as personalidades inflexíveis de cada um e com os detalhes complicados da vida de ambos, especialmente de Lola.
Quando se vive toda uma vida de fachada, o que fazer quando aquilo que mais queremos é pular a cerca e ser felizes?
Quando uma parte de nós vive em segredo, estamos a agir correcto por quem? Por nós ou pelos outros?

Dennis sempre balançou de mulher em mulher, de uma aventura escaldante para outra ainda mais ardente mas pela primeira a sua cabeça só se foca numa mulher.
Já Lola nunca pensou que a vida pudesse rodar em piruetas constantes com a entrada de Dennis na sua vida, afinal a sua existência sempre foi desprovida de paixão, excepto quando dança.
A questão é, será que não vão acabar os dois estatelados no chão, machucados e doridos de tanto lutar por esta loucura chamada amor?
O será que isso é que vai fazer tudo valer a pena?

"O amor não é o que desejamos sentir, mas sim o sentimos sem querer"
Agora vou ficar sentadinha à espera que chegue o próximo. Quero ler a história do irmão de Lola. Ai senhor Comandante, leva-me às nuvens :D

"Passa a noite comigo" é uma novidade

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Opinião "O Tabu Mais Doce" - 3º Livro da série S.I.N

Oh J. Kenner, gosto tanto de ler os teus livros!
E a série S.I.N não foi excepção :) 


Quando comecei a ler "O segredo mais sombrio", o primeiro desta série, fiquei curiosa com a premissa do "irmão e irmã juntos". Lembro-me de pensar "Wow Julie, foste longe de mais" mas com o passar das páginas fiquei rendida à história de Jane e Dallas, os falsos irmãos, com seu passado sórdido repleto de segredos, raptos e cicatrizes profundas.
Havia aquele lado proibido, porque na realidade são irmãos adoptivos mesmo que não haja qualquer laço de sangue os una mas por outro, havia a forte ligação que criaram entre si e sempre os tornou infelizes por se terem de manter longe um do outro. Até ao momento em que acabam por mandar tudo às urtigas e lutar para ficar juntos.

Chafurdar nesta relação proibida aos olhos do mundo mas tão certa para o coração destes dois, foi uma leitura do mais escaldante possível, mesmo quando o fogo era só de vista.
É verdade que dizemos, se alguém se ama, deixem-nos ser felizes mas até que ponto aceitamos todos esses amores?
Onde estabelecemos o limite? Na diferença de idades, no géneros, no grau de parentesco emprestado como era o caso e Jane e Dallas?  O destino uni-os sob o mesmo tecto mas Jane e Dallas forjaram a fogo uma ligação que transcende a que lhes foi atribuída. Juntos eram o melhor da vida um do outro mas ao olhos do mundo, incluindo da sua família mais próxima, eram uma abominação, um crime à espera de acontecer.
E neste último capítulo, este romance não é o único crime que acabamos por ficar a conhecer.
Preparem-se para ficarem a conhecer a verdade e ela não podia ser mais dura.
Depois de provações e provocações, Jane e Dallas são capazes de ter direito a um pouco de paz de espírito, como sempre acontece no final de cada série.
É uma pena mas chegou ao fim a história da Jane e do "mano" Dallas.

Adoro a maneira de J Kenner escrever, no entanto penso que este ultimo capitulo passa a correr, talvez porque eu já tinha adivinhado o final 😊 assim lá para meio do segundo livro ahaha
Mas adorei ler mais uma das série da Julie e não vou deixar passar muito tempo para ler a que me falta (Stark International - Chama-me, Recebe-me, Envolve-me )

Opinião aos dois primeiros livros da série



sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Opinião "A Menina Silenciosa"

Quando me dizem "apetecia-me ler um policial daqueles bons" eu imediatamente penso "será que já conheces a série do Sebastian Bergman?" 
Talvez por isso já tenha perdido a conta ao número de vezes que sugeri a leitura/compra da série de Hjorth & Rosenfeldt ao longo destes quatro espectaculares volumes que já foram editados em Portugal. 


 Quem nunca leu nada, faça o favor de parar por aqui e ir ali ao lado ler a opinião ao primeiro livro. Se é para ler, favor ler por ordem! Cada caso é um caso mas a parte mais sumarenta é realmente a vida pessoal de cada elemento da Riksmord, especialmente de Sebastian. E se como eu não têm perdido um livro da série, devem estar em pulgas para começar a ler "A Menina Silenciosa", especialmente depois daquele final. Mas antes disso... vamos lá manter o suspense e falar do caso.

 Uma família foi brutalmente assassinada na sua casa na pacata vila de Torsby, nas montanhas de Varmland. Pai, mãe e crianças de pijama, numa pacata manhã a tomar o pequeno almoço, acabam todos mortos a tiro... A Policia local tem em mãos um caso, que por mais macabro que seja, parece de fácil resolução até que o único suspeito aparece morto. E a única testemunha desapareceu para dentro de si mesma, tal foi o trauma que vivenciou. 
Uma vez mais a Riksmord é chamada para tomar conta de um caso e retirar as camadas que só na cabeça de alguém fora de si justificariam assassinar crianças inocentes. 
E oh, que camadas! 
Tinha saudades de ler um destes! 
Sabem que gosto bastante que os policiais me passem a perna mas também tenho momentos em que gosto de perceber tudo rapidamente e lá para meio do livro dizer "ah ah, já sei quem é!". 
O desespero é um poderoso aliado da loucura e este caso é prova disso.


 Enquanto deslindamos a trama que o caso de "A Menina Silenciosa" nos oferece, temos igualmente a oportunidade de aprofundar a história de cada um dos membros da Riksmord. 
Se querem saber o que se passou com Ursula vão ter de ler! ahhaah 
Quantos aos outros, é Sebastian sempre o ponto fulcral de toda esta série. Todo o trauma que o torna tão imoralmente interessante, ganha novos contornos quando existem crianças envolvidas no caso em que a Riksmord trabalha e para o qual Sebastian contribui com esporádicas tiradas de génio.
Mas será que sou mázinha em dizer que desde "O Discípulo" que ando de olho em Billy e o vulcão que se tem vindo a criar dentro dele e que mais tarde ou mais cedo irá rebentar? Não, não sou mázinha e não devo ser a única. À semelhança do primeiro livro, que é um dos meus preferidos, gostei bastante do caso e do debate moral com que somos confrontados. No entanto, fiquei novamente na pontinha da cadeira a desejar que o quinto não demore muito a chegar, não depois daquela cena pela calada da noite. O que as sombras escondem... :D
FALTA MUITO?
Eu sei que falta mas vou ficar aqui sossegadinha à espera :D

A série de Hjorth & Rosenfeldt é uma aposta

Opinião Segredos Obscuros . ElsaR e EfeitoCris

Opinião O Discípulo . ElsaR

Opinião ao "O Homem Ausente"

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Novidade Planeta :: "O HOMEM DE GIZ"

Um fenómeno mundial que começou antes da Feira de Frankfurt 2016.
Direitos vendidos para 48 países.
Um thriller arrepiante de que todos irão falar.

Toda a gente tem segredos.
Toda a gente é culpada de alguma coisa.
E as crianças nem sempre são inocentes.



A história começa quando aos doze anos Eddie e os amigos tiveram contacto com o misterioso Homem de Giz, uma personagem central na trama e Eddie será assombrado por ela. As estranhas figuras de giz conduzem Eddie e os amigos a um cadáver de uma rapariga pouco mais velha que eles e esta descoberta irá marcá-los para sempre. Tudo aconteceu há trinta anos e Eddie convenceu-se de que o passado tinha ficado para trás. Até ao dia em que recebeu uma carta que continha apenas duas coisas: um pedaço de giz e o desenho de uma figura em traços rígidos. À medida que a história se vai repetindo, Eddie vai percebendo que o jogo nunca terminou.


«Há muito tempo que não tinha uma noite em branco devido a um livro.
O Homem de Giz mudou isso. Muitos parabéns C. J Tudor!»

Fiona Barton, autora best-seller de A Viúva e O Silêncio

UMA NOVIDADE

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

«Pastoralia» de George Saunders - Opinião


"Os seus sonhos de infância tinham sido bonitos, alimentara tantas esperanças, não queria acreditar que se transformara num zé-ninguém, embora, por outro lado, quem mais além de um zé ninguém passaria os melhores anos da sua vida a insultar uma fotocopiadora?"

É com Morse, numa reflexão de meia idade, no conto «As Cataratas» que podemos abrir as hostes para estes seis contos de Saunders, Man Booker Prize deste ano, que explora de forma coloquial, satírica, ácida e absurda, vidas nos seus mais variados estados do quotidiano. Se o aborrecido das crises existenciais é por vezes retratado com questões profundas, aqui o dilema chega de forma inesperada e divertida. 
O mesmo se passa nos restantes contos. Há em todos um traço de ridículo que encaminha o leitor numa curiosidade que se poderia chamar de mórbida, pois em alguns parece que o fim pode estar no virar da próxima página. E no entanto, as descrições loucas continuam e o leitor flutua entre uma dose de realidade duvidosa e um humor negro e alucinogénio. 

"Cedo na manhã seguinte estava sentado na banheira, a preparar-se para o encontro. Ali estava a sua salsicha flutuante, como se fosse um animal marinho, e ali os seus cotos encostados aos azulejos verdes. Mexeu-os nervosamente de um lado para o outro, como Fred Astaire a dançar numa parede, e arrastou uma toalhinha pela a´gua, segurando-a por um canto, de forma que parecia outro animal marinho, uma raia, uma raia bordada com monograma que atravessava o território que era a sua barriga e atacava o animal marinho que era a sua salsicha."

Imaginar um homem adulto, cheio de conquistas falhadas, em constante luta com a mãe, com quem ainda mora, e um emprego de barbeiro onde a maior felicidade é poder colocar-se à porta do salão, a ver as mulheres que passam, cobiçando-as com piropos foleiros, como se elas ali passassem para um desfile privado, sendo ele o espectador principal; faz lembrar o divertido romance «Uma conspiração de estúpidos» de John Kennedy Toole. 

Os contos de Saunders são palco para todos os males e vícios actuais, as crises conjugais, as rotinas embrutecedoras, a necessidade da linguagem de auto-ajuda, os estrangeirismos para nos parecermos mais cultos e "in", a psicologia de trazer por casa como solução motivacional a crueldade do fim da infância/adolescência, os vizinhos, os colegas de trabalho, a decrepitude geral e generalizada.

"- Estou perdido! - gritou o tu. - Ando às voltas numa espécie de deserto!
- Ó Tu, chega aqui! - gritou uma rapariga do outro lado do palco, cuja tabuleta dizia «Paz Interior». - Aposto que andaste a vida inteira à minha procura.!
- Bolas, se andei! - disse Tu. - Vou já!
Mas logo a seguir apareceram mais actores no palco, com tabuletas a dizer «Choramingão». «Narcisista», «Culpa os outros pelo facto de seres gordo» e assim sucessivamente, que rodearam Tu e começaram a empurrá-lo e a dar-lhe carolos.
- Não acredito que gostas mais da Paz Interior do que de mim, ó Tu! - disse o inseguro. - Isso deixa-me mesmo magoado.
- Fracamente, nunca me senti tão desiludido na minha vida - disse o desiludido.
- Ai, meu Deus, toda esta confusão está a provocar-me um ataque de ansiedade - disse o Demasiado tenso para funcionar normalmente.
- Estou à espera, Tu - disse a Paz Interior. - Queres vir ter comigo ou não?
- Quero, mas sinto-me encurralado! - gritou Tu."

É muito bem trabalhado neste conto, «Winky» a luta interna entre desejos, necessidades, vontade própria e o tão conhecido "deixar andar", um tom permissivo que abunda e que tão associado está ao "sobreviver" e ao "tentar" Acho que é exactamente isso que estes contos pretendem relatar. Temos uma sociedade que está ocupada em tentar sobreviver, gerindo o melhor que consegue entre sonhos, ilusões e realidade. 

Realidades como a de bairro social, em «Carvalho do Mar» ou de reallity shows aí descritos e a dura realidade de se conviver com o próprio corpo e o crescimento (FIRPO) que tantas vezes se faz sem suporte familiar, havendo na mesma, a família, como último reduto quando tudo o resto falha. 

"Os comentadores de cabine por cima do salgueiro começaram a chorar quando ele se sentou ao colo da Mamã e pediu desculpa por ter sido um filho tão FIRPO e a mamã disse: Obrigada, obrigada, Cody, por finalmente admitires, isso torna tudo melhor (...)"

Nunca chegamos a saber o que é FIRPO, tal como vamos avançando nas muitas páginas de «Pastoralia» apenas desconfiando de que aquilo pode ser um trabalho, um ambiente laboral. Estranhamos e depois reconhecemos detalhes do real, do diário. É realmente uma mistura muito peculiar a que Saunders consegue, um lado humano descrito por imagens selvagens e surreais. 

~

“Quando me afasto dos universos alternativos e tento ser realista à la Hemingway ou Raymond Carver, parece que estou a deixar qualquer coisa na mesa; há sempre qualquer coisa em que acredito que não teve hipótese. Gosto de histórias com alguma selvajaria. Para mim, beleza e selvajaria estão próximas, e não consigo atingir isso quando tento ir por um caminho realista. A história perde fulgor. Quero que as minhas histórias tenham um certo grau de energia. Há uma citação bonita da Flannery O’Connor: ‘Podemos escolher sobre o que escrever, mas não podemos escolher o que fazer viver’. Para mim, respeitar a arte é respeitar a força das minhas histórias, saber que há coisas que não posso decidir.” Saunders numa entrevista no Público




terça-feira, 28 de novembro de 2017

«O Pianista de hotel» de Rodrigo Guedes de Carvalho :: Opinião



"- É conforme
foi conforme saiu, só sabe que lhe pareceu que as notas lhe queriam sussurrar uma triste confissão, é o que acontece quando apanhamos acordes menores, são melancólicos e não resolvidos, o que poderia aplicar-se a tantos de nós afinal, será que a música foi inventada para utilização dos que gostam pouco de falar, dos que, tanto que lhes perguntam, só lhes apetece responder

- É conforme"

É conforme a melancolia, a solidão e a perda, que vamos conhecendo e aprofundando cada personagem deste romance, do qual é difícil dizer do que trata, se não da vida como ela é: "(...) a criança quer que o mundo lhe seja explicado em linha recta, e depois passamos a vida a tentar aguentar o balanço de tanta curva e contracurva."

Será nessas curvas, que umas personagens entram em alta velocidade, outras aos tropeções e outras ao acaso, mas todas donas de perdas constantes e dores que os encaminham à solidão e a uma certa invisibilidade, tal como a de um pianista de hotel. A dureza e a exigência da realidade é vista com força bruta, que escraviza e extingue pessoas raras, condenando à sobrevivência e à procura do sentido dos dias. Tal como a memória, castigadora e dominante. 

As disfunções são muitas, a violência alguma, os imprevistos e a força do acaso, constantes; é a vida de cada um tal como ela é. E talvez seja isso que dá ainda mais profundidade e mestria a este romance, ser plausível e num tom tão honesto. Concedendo até a possibilidade de reflexão e psicanálise tão necessária e urgente aos dias de hoje.

"Depois de a cabeça perceber o que tem de fazer, ainda que falemos de melodias e harmonias muito básicas, falta os dedos corresponderem ao que lhes diz a cabeça. Se ousarmos começar a tocar um instrumento sendo já velhos, ou adultos há muito tempo, a primeira reacção dos dedos vai ser
- Que é que queres de nós a esta hora (...)"

E desta forma intrometida a narrativa vai entrando na cabeça do leitor e conversa com ele, e só assim o leva a acreditar em cada uma das personagens como se lhe fossem pessoas próximas, sentimos com Maria Luísa, Luís Gustavo, Samuel ou Pedro Gouveia a dificuldade que é estar vivo o peso dos dias e a loucura de seguir para saber o nosso destino.

"Se uma ventura divina calha fazer-nos bons no que fazemos, e ainda conseguimos ser capazes de gentilezas, provas de amizade, manifestações de integridade, e ainda temos sentido de humor, que anima jantares e alivia pressões (...), então o mundo será nosso, e a dificuldade é arranjar espaço com tanta gente deitada aos nossos pés. Sim? Não. 
Nada mais errado. 
Pessoas assim correm os mesmos perigos dos animais em via de extinção (...) A mediocridade é o mais perigoso dos caçadores furtivos (...)"

*

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

«não digas nada» de Brad Parks - Opinião



Brad Parks é um reconhecido autor de séries de detectives e multi premiado, acumulando o Shamus, o Nero e o Lefty Awards, prémios de destaque na ficção de crime. Este thriller «Não digas nada» é um livro único e despegado dos detectives que se lhe conhecem e que em muito boa hora chegou a Portugal, dando-nos a conhecer um enredo que cruza o mal que pode estar dentro da casa de cada um e a ganância transversal a tantos que se cruzam no nosso caminho. 

"O terceiro dia de uma crise é uma altura estranha. No primeiro dia, está-se em choque total. O segundo, é uma extensa sessão de triagem. Pelo terceiro dia, o mundo pode ter-se estilhaçado, mas começa a ter-se os primeiros sinais de que continuam a girar, quer se queira quer não."

É curiosa a frase se pensarmos que o juiz Scott Sampson perdeu os seus filhos às mãos de um esquema de rapto numa quarta feira. O terceiro dia da semana que marcava um momento entre pai e filhos, gémeos, que dava todo um outro sentido à semana rotineira e cansativa da vida do juiz. Nesse fatídico dia, uma mensagem da mulher, Alison, muda o curso destas quatro vidas de uma forma irreversível.

"É peculiar como certas frases ficam dentro de nós, coladas ao interior do nosso crânio.
Ao princípio, talvez, parece não haver uma boa explicação para isso. Depois começamos a perguntar-nos se haverá alguma razão mais profunda para que uma particular ordem de palavras se torne tão pegajosa."

Se esta frase viesse logo numa das primeiras 100-150 páginas não nos teríamos deixado enganar. Parks joga bastante bem com a areia que vai acumulando e que atira aos olhos do leitor. No entanto, as dicas talvez estejam lá, quase desde o início, seria era preciso virarmos a nossa "investigação" nesse sentido, mas é brilhante a maneira como, ao ir investigar a mulher, nos distraia apenas para dois potenciais cenários.
É igualmente muito interessante a forma como ele vai caracterizando a família, primeiro a central, a dele, chegando a dizer que ficaram num triângulo com mais arestas do que só as que se vêem e depois a forma como caracteriza as irmãs e a própria relação dos filhos gémeos.

"Em alguns aspectos, as irmãs conseguem ser particularmente duras umas com as outras. Como os pais, elas estão super conscientes dos pontos fracos e dos defeitos de cada uma; mas, sem a infinita capacidade parental para o amor e o perdão, julgam-se umas às outras com muito maior severidade.
Juro que houve alturas em que julguei que seriam capazes de se matar. Até, claro, uma delas ter um problema ou ser ameaçada por um agente externo, caso em que se juntavam numa força inquebrável.
Divididas por dentro, mas unidas por fora. Por todo o mundo, é a própria definição de irmãs."

«Não digas nada» está bastante bem engendrado, talvez não tenho, logo ao início, um ritmo tão alucinante como outros livros do género, mas com as reviravoltas impactantes que tem, apanha o leitor e domina-o até ao fim. E o fim... até para mim, que não sou de lágrimas, confesso que me caiu uma naquela imagem final em que Parks transporta completamente o leitor para aquele funeral.


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Amigo Secreto Literário - 2º GRUPO

Porque eu sou uma masoquista mas não quero deixar ninguém de fora...
VAMOS ABRIR UM SEGUNDO GRUPO DE AMIGOS SECRETOS LITERÁRIOS!!


Informações SUPER importantes:
- As inscrições são até dia 26 de Novembro às 23h59. 
- Os amigos secretos vão ser emparelhados e as moradas enviadas até dia 30 de Novembro.
- O envio do livro para o amigo secreto literário deve ser feito até ao dia 15 de Dezembro.

Para mais informações, vejam as FAQ's que se encontram após o formulário.


FAQ's
Perguntas que toda a gente tem, que toda a gente faz e que assim não precisamos responder mil vezes :) 


Em que consiste o Amigo Secreto Literário do Efeito dos Livros - 2º Grupo?
Para quem não está bem a ver o que é, o Amigo Secreto é o jogo em que se sorteia aleatoriamente a quem se vai dar uma prenda e toda a gente recebe um miminho surpresa do seu amigo secreto. No nosso caso, o miminho será...um LIVRO!!
Já fechámos um grupo com 130 e tal participantes mas como eu sou masoquista, vou abrir um segundo grupo.
Cada participante recebe uma morada e tem que enviar um livro para o seu amigo secreto literário até dia 15 de Dezembro

Como vão ser sorteados os Amigos Secretos Literários?
Toda a gente interessada em fazer parte deste segundo grupo tem de preencher o formulário com o seu nome, email e morada e género de livros que ama/odeia até dia 26 de Novembro. Após a recolha dos dados de todos os participantes, aqui a idiota da metade colorida (que foi quem teve esta ideia!) vai ter o trabalhão (pela segunda vez) de vos emparelhar com outro/a leitor/a do Efeito dos Livros.
Será um sorteio do género A envia ao B, B envia ao C e por aí fora até o último enviar ao A. 

Como posso participar?
Inscrevendo-se no formulário presente nesta página até dia 26 de Novembro. 
Depois dessa data bem que podem pedir com muito jeitinho mas não vai dar para vos incluir nos amigos secretos literários deste ano.

Quando vou saber o nome e a morada do meu amigo secreto literário?
Assim que tenha tempo irei arranjar uma maneira de vos juntar, baralhar e emparelhar com um amigo secreto e depois envio-vos um e-mail com a morada que vos calhou. A pessoa a quem vão enviar o livro não será a mesma que vos enviará a vocês. 
Os emails serão enviados do email amigosecretoefeitodoslivros@gmail.com até ao dia 30 de Novembro.

Como é que escolho um livro para uma pessoa que nunca vi??
Essa é a parte que fica entregue a cada um dos participantes do amigo secreto literário. Podem escolher um livro que toda a gente gosta, um livro que vocês gostaram muito, um livro que começaram mas perceberam que interessa a outros mas não a vocês, um clássico, um bestseller, um livro que vai virar filme….o que vocês acharem melhor.
O livro pode ser novo ou em segunda mão. PEÇO que sigam a máxima “não façam aos outros o que não querem que vos façam a vocês”, por isso, não enviem a ninguém um livro a cair de maduro (velho), um refugo esquecido nas páginas do tempo ou algo que não esteja em condições.
Querem sorrir quando a prenda do vosso amigo secreto literário chegar? QUEREM!? ÓPTIMO….é o que toda a gente quer, por isso, façam a vossa parte!
Para facilitar o processo de escolha, pedimos que toda a gente que preencha o formulário inclua um género que gosta e outro que detesta.
Exemplo "Gosto Romances históricos / Detesto Policias"
"Gosto de Terror / Detesto livros lamechas"
Se quiserem colocar que gostam de ler livros em inglês ou noutras línguas, melhor ainda. Temos alguns seguidores que vivem no estrangeiro e que vos podem enviar um livrinho.

Eu gosto de tantos géneros que não sei o que colocar no formulário! Ajuda-me!!!
É simples, coloca qualquer coisa que possa ajudar o teu amigo secreto a encontrar o livro ideal para ti. Podem dizer que gostam de romances ao género do Nicholas Sparks, que adoram Young Adult, que gostam dos policiais com detectives femininas ou que tudo o que mais queriam era diversificar a vossa cozinha com novos livros de culinária.
O mesmo se passa com os livros que não se gosta. Seja géneros, títulos ou autores, ajudem o vosso amigo secreto a não comprar aquele livro que só usariam como base dos tachos.

Então mas além de comprar um livrinho ainda tenho de o enviar! E o envio ainda é muito caro?
FAÇAM OS ENVIOS EM CORREIO EDITORIAL (info valores) / O pessoal nos correios por vezes faz-se de desentendido mas peçam a taxa de livro. Tenham atenção que para efectuarem o envio com essa taxa apenas podem enviar o livrinho num envelope novo ou embrulho que possa ser aberto para verificação postal (habilmente atado com um laço e sem fita cola). Se quiserem ser mais fofinhos ou até criativos, podem fazer um envio normal e adicionar um postal, um marcador ou uma caixinhas de chocolates.
Cada um sabe de si e da sua carteira :) 

 Como é que sei que não vou gastar dinheiro com o meu amigo secreto literário mas no fim acabar por não receber um livrinho que alguém tem de me enviar?
NÃO SABES! Eu sei É UMA TRETA mas pode acontecer.
O amigo secreto literário é para ser levado a sério, por isso, peço que todos os envolvidos o façam com a maior seriedade possível. 
Espero que ninguém tenha esse problema e que toda a gente receba o livrinho que o amigo secreto lhe enviou.
Caso contrário, lembrem-se que eu sei quem é que ficou com quem E TENHO MORADAS e CALHAMAÇOS capazes de partirem joelhos, por isso, não me tentem!

Mas tenho de enviar livros para estrangeiro?
Não. Infelizmente não vamos conseguir levar isto além fronteiras. Amigos e seguidores que estão em outros locais desta maravilhosa terra, as minhas mais sinceras desculpas, mas enviar livros para fora de Portugal é o terror!
No entanto, se a vossa mãe, avó ou tia ainda tem morada em Portugal, façam favor de se inscreverem e participarem na mesma. Se vierem a casa no Natal vão ter mais um presente para abrir :)

Até quando é que tenho de enviar o meu presente para o amigo secreto literário?
Até dia 15 de Dezembro.
Depois de receberes a morada podes escolher o livrinho e enviar. Convém que toda a gente cumpra os prazos para que dia 15 de Dezembro toda a gente que participou já tenha recebido o seu presente.

Sou uma despassarada e esqueci-me de enviar o livro. O que faço? 
VAI A CORRER AOS CORREIOS E REZA PARA QUE O LIVRO CHEGUE AO DESTINO. Não queremos ver ninguém triste.

(Peço que após o dia 15 de dezembro, caso não tenho recepcionado o vosso miminho, entrem em contacto comigo para eu verificar quem ficou de vos enviar um miminho e ir buscar o calhamaço para o caso de ser necessário partir para a violência)

Ok já enviei o miminho. E agora, o que devo fazer?
Esperar :) Agora é mesmo esperar que o Sr. Carteiro chegue com o miminho que o teu amigo secreto literário te enviou.

Uhuhuh recebi o meu miminho. Afinal ninguém me passou a perna e recebi um livro. O que devo fazer?
Partilhar uma foto no nosso facebook!! De preferência num ambiente bem natalícioliterário :) 

Recebi o meu miminho mas o meu amigo secreto enviou-me um livro da treta. O que devo fazer?
“Dá ao próximo e não ao mesmo!” - Infelizmente as prendas têm esse lado menos positivo. Por vezes ninguém acerta no que gostamos e ficamos a braços com um monte de tretas. Um livro é um livro. Não fiques triste se recebeste um livro antigo, que já leste ou pouco interessante. Tenta encontrar algo de bom em todas as coisas da tua vida :) profundo neh!? :P especialmente se recebeste um livro de auto-ajuda.
E podes sempre oferecer o livrinho à tia que te oferece meias todos os anos (eu gosto de meias, para mim não é um problema!)

 O meu amigo secreto literário vive na mesma cidade que eu? Será que posso entregar-lhe o miminho em mãos? 
Oh meus amigos, força!! Troquem uns mails, bebam um café e falem de livros.
Se o teu amigo secreto afinal for um amante de policiais serial killer, não me culpes. Se por acaso encontrares o amor da tua vida literária, fica a saber que a tua primeira filha deverá ter o nome da Rainha do Gelo, Elsa :D

Quem tiver mais alguma pergunta que não se encontre aqui, se faz favor, fala connosco no Facebook. 

A todos os participantes do Amigo Secreto Literário, o Efeito dos Livros deseja-vos um feliz e santo Natal na companhia dos que mais amam, rodeados de livros e comida.

Boas leituras :)

"Maresia e Fortuna" de Andreia Ferreira

Ontem esqueci-me do meu livro no trabalho. Detesto ir a olhar para o boneco nos transportes, então peguei num dos livros que tenho no telemóvel. Comecei a ler "Maresia e Fortuna" da Andreia Ferreira. Estava a gostar mas a atrofiar que nem uma louca com o raio do sistema. Sou tão fã do papel!!!!


Sinopse
O que é o verdadeiro amor?

Para Eduardo, de 17 anos, é a mãe e o irmão mais velho, Simão. Este, porém, tem um segredo que o empurra para a bebida e Eduardo receia que o seu irmão se suicide, tal como o pai de ambos o fizera, dez anos antes.

Júlia acredita que passou ao lado de um grande amor. Em busca da verdade que mudará a sua vida, regressa à vila de Apúlia para reconstruir um passado de que não se consegue recordar.

O caminho desta mulher perturbada está prestes a cruzar-se com o de Eduardo, trazendo à tona segredos, paixões agressivas e remorsos intemporais, com consequências devastadoras sobre a vida da outrora pacata vila piscatória.

Uma alegoria moderna de um clássico, onde os humanos se destroem sem precisarem de intervenção divina.

Uma aposta
Mais informações aqui

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

«As pessoas do drama» de H. G. Cancela :: Opinião


Convêm primeiro que tudo dizer que as narrativas criadas por Cancela atraem o leitor para um redemoinho de ideias e sensações, difíceis de explicar, seja enquanto se lê, seja já depois, quando se vai digerindo e relendo certas partes. Ou seja, julgo que Cancela escreve com o propósito de expor o leitor a uma certa angústia que se cruza com episódios de violência, emergindo o leitor na mesma experiência traumática em que desenvolve os seus personagens. Personagens esses que se confundem, seja no carácter, nas decisões ou nos dramas com os de outros seus livros, mais propriamente em «Impunidade». No entanto, este «As pessoas do drama» explora muito a arte de imitar a vida e ao mesmo tempo a dificuldade de vivê-la desapegada da imitação, da dissimulação e do uso, constante, de máscaras. 

"O palco imitava o mundo que imitava o palco sem se dar conta de que imitava uma caricatura de si mesmo. A incongruência era que a caricatura parecia mais espessa do que o ponto de partida."

Cancela explora, já como no anterior romance, a solidão, a condição do vazio, a transgressão e a expiação, a espiral destrutiva a que as escolhas conduzem, o pecado e a amoralidade; como que numa colecção de peças preciosas, que constroem personagens com preocupações próximas das de todos, mas com actos que apelam a uma certa repugnância e confusão. Repete-se o incesto. Insiste-se no percurso auto-destrutivo, que encena a humilhação e antecede-a, mas não a evita, antes pelo contrário, faz dela uma herança, quase uma tradição. Ainda assim, o poder que essa força exerce é de acumulação e não de aprendizagem. Os personagens caminham em paralelo com uma história que conhecem, mas seguem-na na mesma, como se o seu conteúdo interno não fosse forte o suficiente para contrariar o apelo exterior. 

É difícil perceber se será mesmo esta a menagem do enredo, há sempre algo que percebemos não ser dito. Partes que são explicada por metáforas que poderão ter diversas interpretações. O corpo talvez comparado à cidade; com heranças dos anos, que se deteriora e esconde detalhes decisivos que nos enviam mensagens que não sabemos descodificar. 

"À minha volta havia um mundo morto. Se tal era visível nas ruínas que construíam o coração da cidade, era-o de um modo menos evidentes, apesar de mais forte (...) elas surgiam-me como manifestação de um mundo em degradação. (...) Não era diferente do modo como o tempo se amalgamava, antepondo o efeito à causa, a punição ao crime, a redenção à culpa..."

Na parte central do enredo temos um homem que talvez possamos apontar como errático, que divaga entre a solidão, como parte integrante do seu ser, e a obsessão por uma mulher, uma actriz que descobre num filme. Laura, é uma personagem no lato sentido da palavra, a sua vida é uma amálgama de personagens que lhe toldam as decisões, anulando-lhe a vontade. Para decidir por ela temos o encenador, um homem que parece amá-la, mas que a humilha e oprime. Todo este composto formará mais que o típico triângulo amoroso. Todos eles são assombrados por memórias e por outras pessoas que já foram, para além do conhecimento que tentam ter de si próprios e a culpa que a isso está associada. Nesta parte central está também a tragédia grega e uma interpretação mais profunda de Antígona (a peça que traz Laura à cena) poderá dar mais camadas às interpretações que retiramos do enredo.

"Respondeu que sabia pouco de lama, mas compreendia a vedação, mesmo que não a víssemos, nunca deixava de haver alguma e talvez fosse preferível sermos nós próprios a construí-la."

Julgo que a culpa pode aqui representar uma enorme vedação, tal como a máscara a que a convivência com os outros obriga, mas mais ainda a que por vezes se vê reflectida no espelho, contribuindo mais para a dor do que para a felicidade. Porém, nem sei se se possa dizer que estes personagens fujam da dor ou persigam a felicidade, julgo que prefeririam partilhar o peso da culpa e a solidão que não se esgota. 

"Visto dali, não havia nomes, rotas, gente, talvez houvesse história, mas mesmo ela parecia incompatível com o que se avistava. (...) O que sobrava, o resíduo seco, seria ele próprio atirado para o charco. Talvez acabasse por o reabsorver, tornando possível repetir o processo e confundir experiência com conhecimento, sem pretender que houvesse a capacidade de aprender com os erros, pois entre ir e voltar, fazer e repetir, não restava mais do que uma grosseira tentativa de manipulação, uma comédia obscena na qual quem ri só ri para esconder a vergonha de si mesmo."

Sobra ainda a reflexão sobre o poder da manipulação e o quando dela compõe a vida, anulando inocência e esperança, encaminhando para o flagelo da decadência e o vazio criado por tantas incertezas. 


Opinião "Quando a Amizade me seguiu até Casa"


Há livros que nos vêm parar às mãos e nós nem sequer sabemos muitos bem como é que eles cá chegaram.
"Quando a amizade me seguiu até casa" é um desses livros.
Nele fiquei a conhecer Ben e sabia que ia gostar dele quando ao fim de meia dúzia de páginas tive vontade de o abraçar, sentimento esse que se sucedeu repetidas vezes ao longo do livro.
Com apenas 12 anos, Ben não tem tido muita sorte. A vida já lhe ensinou uma das mais duras lições, a que as pessoas que nos rodeiam se podem afastar de nós ou simplesmente desaparecer da nossa vida de um dia para o outro.
No entanto, os últimos anos têm sido o ponto alto da sua curta vida porque foi finalmente adoptado. Tess, a terapeuta da fala que o ajudou é agora a sua nova mãe e se não fossem os dramas normais da idade, tudo corria bem para Ben.
No dia em foge para a biblioteca para evitar cruzar-se com os bullies lá da escola, Ben encontra uma das primeiras personagens que vai mudar a sua vida para sempre, o pequeno cão Flip. 
Ben e a pequena bola de pelo, cheia de truques e mão hálito, tornam-se inseparáveis e quando conhecem Halley sabemos que juntos vão ser o trio maravilha.

Entre livros, histórias inventadas, magia, dor, amizade, amor, dor, doença e esperança, seguimos Ben e companhia numa história que nos dá uma dorzinha aqui no coração mas que não deixa de ter a sua beleza.
Há pessoas e animais que nos marcam marcam para sempre.
Como diz Antoine de Saint-Exupéry
"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós" 

Uma boa sugestão de leitura para um daqueles momentos que gostávamos que nunca ninguém tivesse que passar, especialmente os miúdos. Se é tão difícil para nós perder alguém, quanto mais para uma criança.

E daqui eu levo:
“Há livros que mudam a maneira de vermos o mundo. E depois há aqueles que mudam a maneira como respiramos.”

Para mais informações visitem o site Editorial Presença

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Opinião "Vidas Finais - As Sobreviventes"


Flashes de memória. Gritos. Sangue. A floresta. A faca. Ele. Os amigos. O Chalé. Quincy ensanguentada dos pés à cabeça. Coop. Segurança. 

Passaram-se dez anos desde que Quincy sobreviveu ao massacre que vitimou os seus amigos durante um fim de semana no Chalé dos Pinheiros. Dez longos anos em que fez os possíveis para colocar para trás das costas o que se passou nesse dia embora na realidade nem se trate de esquecer já que Quincy não se lembra da parte crucial dessa noite. Mas o choque de ver os amigos morrer à sua frente não a impediu de saber quem lhe mudou o curso da vida. Ele, aquele cujo nome não é proferido, é o culpado por nesse fim de semana Quincy ter voltado sozinha da floresta e se ter tornado uma sobrevivente, uma Última Vítima.

 Quando ouvimos falar de serial killers e massacres pensamos sempre que é coisa de filmes.
Infelizmente para Quincy, Sam e Lisa, os horrores que viveram foram bem reais e cada uma delas lida com o passado de uma maneira muito diferente.
Enquanto Quincy se refugiou na pastelaria, na vida com o namorado e no Xanax, Sam desapareceu por completo do mapa e Lisa agarrou o boi pelos cornos ao tentar ajudar outras vítimas, especialmente aquelas que como ela são as únicas sobreviventes de massacres.
Mas quando Lisa, uma sobrevivente em mais do que uma maneira, é encontrada morta na banheira, o que pensar de tudo isto?
Terá sido suicídio? Um fanático que acha que ela nunca devia ter sobrevivido? Ou alguém que está mais perto do que se pensa?

Em "Vidas Finais - As Sobreviventes" acompanhamos, pós-morte da Lisa, as duas Vítimas Finais numa espiral de loucura. Quincy tem mantido o barco estável até ao momento mas a entrada de Sam no seu dia a dia vem criar tumulto e provar que a sua vida, além da sua memória, está cheia de buracos que a podem fazer afundar a ritmo alucinante e até às profundezas da sua alma.

"Pormenores. Finalmente.
Na minha memória, vou perdendo e recuperando a consciência, enquanto os meus olhos se vão fechado e abrindo. Como se estivesse trancada num quarto e alguém estivesse a acender e apagar as luzes. Deitei-me de costas, esperando que assim as facadas no ombro doessem menos. Não doem"


Contado com um pé no presente e outro no passado, mais especificamente, naquele dia no Chalé dos Pinheiros, este "Vidas Finais" arrasta-se um pouco de início mas depois agarra-nos enquanto nos faz questionar uma série de coisas.
O que esconde Quincy? 
Será que ela não se lembra mesmo do que se passou naquele dia no Chalé dos Pinheiros?
E afinal o que é que se passou realmente? Quem era o Ele que ela se recusa a mencionar?
E Sam? O que raio é que ela quer? 

Quando começamos a descascar a cebola, oh deus, cada camada é ainda melhor que a anterior e chegamos ao final meio admirados com o pensamento "porque é que eu não pensei logo nisto!".
Sabem que adoro que o livro me passe a perna. Nos policiais então, detesto mesmo conseguir adivinhar a direcção que a história leve e este "Vidas Finais" levou-me ao engano em duas ocasiões e depois deu-me uma lição.

Espero realmente que consigam transportar para o cinema a carga psicológica deste thriller. 
Houve quem me tivesse perguntado se era muito díficil de ler, devido às cenas dos massacres mas acho que isso, na minha mais sincera opinião, está demasiado ausente. Devia ter ali mais umas linhas de facadas, gritos e sangue. Sorry, devem ser saudades dos tempos em que via filmes de terror.

No entanto, gostei bastante deste livro e espero reforçar as minhas leituras com uns livros mais negros nos próximos tempos.


segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Opinião "Estou Aqui"


"Ohhh Ellsssaaa" 
Este grito que me é tão familiar em nada resulta com esta Elsa. Confinada ao sono imóvel do coma há vários meses, Elsa Bilier, conta os dias pelas visitas da sra. da limpeza que passa a esfregona ao som do programa nocturno da rádio. 
Sim, conta! 
Sabem aquela coisa que dizem que se deve falar com as pessoas que estão em coma porque elas podem ser capazes de nos ouvir? Pois parece que este é mesmo o único sentido que Elsa consegue usar lá das profundezas onde está, tudo o resto está imóvel desde o fatídico acidente que sofreu no glaciar que escalava com grande paixão.
E desde então, todos os dias parecem cíclicos, mesmo com as poucas visitas da família e do pessoal do hospital, mas o ambiente à sua volta muda no dia em que um visitante equivocado entra no seu quarto. 
Thibault quer tudo menos estar no hospital. Obrigado a acompanhar a mãe que visita o irmão mas incapaz de o visitar ele próprio, Thibault refugia-se umas portas mais abaixo e sem querer acaba por abrir uma janela no mundo de Elsa e na sua vida também.
O que começa como um escape, a pouco e pouco transforma-se em algo mais, algo sem explicação lógica.

Contada a duas vozes, este "Estou Aqui" é poético nas descrições sensoriais de uma Elsa em coma e tocante na exposição da alma e coração de um homem que a sente sozinho e perdido. É interessante ver as duas visões do mesmo momento, muitos deles sem palavras
Gostei que lhe tivessem chamado "A bela adormecida dos nossos tempos".

"Estou aqui" uma história que nos faz pensar o quanto a nossa vida pode ficar presa por um fio de um momento para o outro. Pior, o quanto as nossas escolhas acabam por afectar a nossa família e todos os que nos amam.
Nem imagino o peso que deve ser decidir sobre o destino de alguém que não pode decidir por si. Qualquer que seja o vosso género, idade, condição (ou não) paternal...haverá algo que vos irá tocar neste livro. A mim tocou-me ser uma Elsa em coma. Não consigo imaginar a possibilidade, espero nunca ter de imaginar.

 "Estou Aqui" é uma companhia perfeita para um dia frio. Peguem na manta, no chá quente e no livro e vão consumi-lo e uma assentada.

E porque esta Elsa era amante do gelo (coisa que eu não sou), aqui fica a banda sonora que tocava à minha volta enquanto andei a ler "Estou aqui"




Novidades Harper Collins - Novembro


O inspetor-coordenador do Departamento da Polícia de Los Angeles, Decker e a esposa, Rina, acolheram na sua casa Gabriel Whitman, um adolescente de quinze anos, filho de uma amiga com problemas. Embora o enigmático rapaz pareça estar a adaptar-se, Decker conhece bem os segredos que guardam os adolescentes, como confirma o trágico suicídio de outro adolescente. Wendy, a mãe de Gregory, nega-se a acreditar que o filho tenha dado um tiro nele próprio e convence Decker para que investigue mais. O que ele descobre inquieta-o...



Jacob e Moisés Stein vivem com a sua tia Judith em Paris até que, em agosto de 1942, começa a grande rusga contra os judeus estran-geiros. Os seus pais, uns conhecidos dramaturgos alemães, escon-deram-se na França Livre, mas, antes que a sua tia consiga enviá-los para o sul, os gendarmes detêm-nos e levam-nos para o Velódromo de Inverno, onde mais de quatro mil crianças, cinco mil mulheres e três mil homens tiveram de subsistir sem comida e sem água durante cinco dias. Jacob e Moisés conseguem fugir antes de serem enviados de comboio para o Campo de Drancy. Quando chegam à sua casa, em Paris, a tia tinha desaparecido. Decidem viajar sozinhos para Va-lence, para procurar os pais, mas o caminho não será nada seguro nem fácil.

O que aconteceria se tivesses uma segunda oportunidade... para te encontrares a ti mesma? Em vez de avançar para o altar rumo à felicidade nupcial, Georgia passou o seu grande dia a perguntar-se onde é que tinha errado. Forçada pela sua amiga Marie a fazer uma lista das suas novas metas na vida, ao fim de pouco tempo estava a fazer as malas para uma longa viagem à Tailândia. No entanto, a sua grande aventura não parecia estar a funcionar. Foi vítima de todas as vigarices a que se arriscam os viajantes pouco experientes e nunca se tinha sentido tão sozinha na vida. O lado bom de passar por uma crise pessoal é que se pode sair da mesma transformada noutra pessoa, da qual te possas sentir mais orgulhosa...

Mais novidades no site Harper Collins Ibérica

sábado, 18 de novembro de 2017

Opinião "As últimas linhas destas mãos"

"Podes não acreditar mas tive toda uma vida antes de tu existires" 
Disse-o uma vez ao meu filho, quando questionada sobre namorados. Ele olhou-me como se me tivesse crescido uma segunda cabeça. Sejamos produto de uma família feliz ou infeliz, unida ou separada, temos sempre dificuldade em encaixar que os nossos pais, assim como nós, tiveram aventuras, amores, desamores e um sem número de segredos que são parte integrante da sua vida antes sequer de sermos uma ideia quanto mais uma realidade. 

 Teresa só conheceu uma sombra pouco delineada do que era realmente a sua mãe Alice. Contudo, por vezes, já tarde demais quando revelamos contornes que mudam para sempre a nossa maneira de ver os que nos rodeiam e que julgávamos conhecer. Mas será alguma vez tarde demais para saber o que se esconde no passado? Para saber a verdade? Para perdoar?

Gostei da sinopse de "As últimas linhas destas mãos", tão fã de amores condenados e perdidos no tempo que sou mas foram as cartas de Alice que me prenderam a história. Corri os capítulos só para não saltitar de carta em carta. Tinha saudades de ler um livro que me recordasse uma paixão desmesurada. 

 "A Minha mãe dizia《está ainda nos vai dar problemasE dei. Anos depois. Numa idade em que já não deveria dar. Numa idade em que as paixões deveriam ser sóbrias, discretas e não lacerantes. 
... pensei que o meu tempo teria passado. Que as borboletas tinham emigrado, qual andorinhas, mas sem regresso. Que nunca sentiria o desconsolo da saudade ou a amargura da falta. Tanto que me enganei" 

 Devorei tudo num dia e no momento em que escrevo está opinião já passa bastante da minha hora de dormir mas precisava de escrever. Precisa de vos dizer que dobrei cantos, marquei cartas, sublinhei frases...que gostei. Que acho que deviam ler este livro, pelos amores perdidos, pela compreensão dos romances alheios e pela possibilidade de se encontrarem lá dentro em um ou outro promenor. Eu sei que me perdi na leitura mas encontrei-me na história.

E sabem a triste conclusão a que cheguei?
Estamos a meio de Novembro e eu ainda não tinha lido nenhum livro de um autor nacional :( sou uma vergonha.

"As últimas linhas destas mãos" de Susana Amaro Velho é uma novidade