quarta-feira, 10 de abril de 2019

«Até ao fim do mundo» de Maria Semple :: Opinião


"Numa colina de Seattle, de onde se avistam ferry boats a deslizarem como caracóis na água, uma mãe peculiar, Bernadette Fox, evita conflitos e batalhas de melgas, que ela esmagaria só com um esgar e o seu toque de insólito. Com isso e com cartazes gigantes que deslizam em avalanches de lama.
INSÓLITO?
A maioria dos acontecimentos deste livro são insólitos e excêntricos!
A EXCENTRICIDADE cai aqui nas páginas deste livro como chuva, que tipicamente, cai em Seattle.

Mas passemos ao enredo. Bernadette comanda este show de marionetas peculiares. Manjula, a secretária virtual, sediada algures na Índia está encarrega de organizar uma viagem idealizada por Balakrishna ou Bee, a filha de Berdanette e do guru da Microsoft. Juntos, em família, eles pretendem chegar à Antártida, mas antes há que desmistificar o tumultuoso Estreito de Drake que já existe entre eles.
Isto tudo sem esquecer o naipe de estarolas que é a comissão de pais do Colégio Galer Street, especialmente com Soo-Lin Lee-Segal e Audrey Griffin, as melgas de eleição. 

Bernadette é louca? Talvez.
A sua filha é excêntrica? Pois claro. Vá lá ser-se de outra forma com uma mãe destas.
Bernadette é genial? Isso é de certeza. E o projecto Vinte Milhas (que gostava de perceber se existe!) é uma ideia maravilhosa e genial.

«Até ao fim do mundo» é uma leitura obrigatória? Não é, mas devia!
E o título também devia ter respeitado o original. «Para onde foste Bernadette?» é o enredo mais presente, já que esta mãe tem mais do que uma fuga em curso. Eu sei que a Antártida pode ser o fim do mundo, mas a viagem desta família começa dentro de casa, nas dinâmicas familiares e nas suas fugas excêntricas, mas iguais a tantas outras.

Se o enredo é estranho? Totalmente. Tal como a organização das vozes que o narram e o tipo de texto que usam, desde e-mail's a relatórios. Mas é tudo muito bom e faz uso da excentricidade da melhor forma possível. Maria Semple tem o dom da criatividade e suga o leitor para esta história louca e imparável. E sem esquecer um roteiro musical que acompanham mãe e filha, que estava a passar por uma fase «Abbey Road». 

"Quando começou «Here comes the sun», o que é que aconteceu? Não, o sol não apareceu, mas a mãe abriu-se num sorriso como o sol a trespassar as nuvens. Sabem como nas primeiras notas daquela canção há algo na guitarra do George que é tão cheio de esperança? Era como se, quando a mãe cantou, também ela estivesse cheia de esperança. Até acertou nas palmas irregulares durante o solo de guitarra (...) Por isso, quando chegou àquele medley fabuloso, a mãe e eu cantámos a acompanhar «You never give me your money» e depois «Sun King», que a mãe sabia, mesmo a parte em espanhol, e ela nem sequer sabe espanhol (...)


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