domingo, 19 de maio de 2019

Opinião "Acredita em mim"

Tenho andado distante dos livros. Se 2018 terminou com poucas leituras, estes primeiros meses de 2019 têm sido um deserto desprovido de oásis literários. Não tenho tido vontade, tempo ou cabeça. Tudo o que tenho começado a ler, fica pelo caminho. Pior, nem para livros me apetece olhar. Sinto que os estou a trair e faço os possíveis para que não reparem em mim quando passo os meus momentos de lazer a ver séries na Netflix mesmo em frente à estante. Vá, eu sei que os livros não me estão a julgar por ser uma má leitora MAS EU SIM.


Quando este "Acredita em Mim" me tocou à campainha eu andava a acalentar uma leitura que me submerge-se ao espírito "nem vou sair daqui para comer". Em 2017 JP Delaney fez de mim cativa com a leitura de "A Rapariga de Antes" e dei comigo a tecer enredos imaginários enquanto me deliciava com a loucura que foi visitar o Nº 1 de Folgate Street. Este "Acredita em mim" levou-me mais longe, levou-me a não conseguir acreditar nos meus próprios pensamentos e nos caminhos que o enredo me fez tecer mentalmente.
Dei por mim a pensar que por momentos estava tão perdida com o Claire, tão ludibriada com o enredo que não sabia bem quem dizia a verdade.
Acho que devia ter lido um romance e não um thriller que me entrou pela cabeça a dentro ao ponto de acordar a pensar na personagem e na resposta à pergunta "mas quem é o culpado?"
Mas ainda bem que o li porque terminei com o pensamento "Em livros que se matam pessoas, ressuscitam-se leitores"

Conhecemos Claire, uma actriz inglesa a viver em Nova Iorque que, por entre aulas de representação e uma carreira que teima em não arrancar, vai ganhando dinheiro para a renda com um esquema ludibrioso e pouco legal. Claire, na sua qualidade de mulher bonita e actriz versátil, representa o papel de sedutora perante um homem casado de modo a leva-lo a incriminar-se por infidelidade, o que garante à esposa e à empresa de advogados para o qual trabalha munições suficientes para avançar com divórcio. 
Mas o filme sobre a volátil mas carismática actriz a sobreviver na selva nova iorquina muda de género quando o seu mais recente alvo não sucumbe aos seus encantos e Claire se vê drasticamente arrastada para um caso de homicídio onde tão rápido lhe apontam o dedo com lhe pedem ajuda para encontrar o culpado.

"Sou só eu que faço isto - que sinto que estou constantemente a ver-me no filme da minha própria vida? Quando o pergunto a amigo, a maioria diz-me que sim sou só eu. Mas devem estar a mentir. Porque outra razão quereria alguém ser actor senão para poder editar a realidade"

Repleto de enganos, dramas, mentiras, macabrices ou simplesmente paranóia, este "Acredita em mim" pode ser um daqueles que se adora ou odeia. As reviravoltas, o "é e não é", são interessantes mas não nos deixam confiar em ninguém, pior, não nos deixam simpatizar com ninguém.
Logo de início li uma frase que me deixou a pensar e me acompanhou durante toda a leitura. 
"Quando as pessoas começam a pensar que têm o direito de procurar a sua felicidade em detrimento das normas sociais, acaba-se com um pequeno mas crescente número nas margens, pessoas que não entendem por que razão não haverão de satisfazer também os seus instintos mais negros e predatórios"

Acho que todos os leitores de thrillers e policiais têm de ter algo dark para lerem com tanta facilidade estas histórias, para conseguirem encontrar caminhos alternativos que o autor não seguiu.
Na realidade acabamos por nos meter na pele das personagens, exactamente como Claire.

"Representar não é fingir nem fazer-se passar por. Representar é fazer"
E é com esta frase que vos deixo, espero eu, com vontade de pegar no novo livro de JP Delaney. 
Este "Acredita em mim" requer um exercício de confiança. 
Abram o livro e deixem-se cair lá dentro.

PS: prometo voltar às leituras e às opinião mais completas e interessantes de se lerem.

"Acredita em mim" é uma novidade

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