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sexta-feira, 9 de julho de 2010

«Guardador de Almas» de Rui Vieira - Opinião

Joaquim é coveiro ou melhor dizendo, guardador de almas. E talvez todas elas imprimam nesta história um movimento frenético, que oscila entre os dois mundos, se é que eles existem com essa separação, talvez menos ténue do que acreditamos ou queremos acreditar.

A escrita de Rui Vieira, destacado pelo Prémio Literário de Almada e publicado agora pela Ambar é sem dúvida digna de um aplauso pela velocidade que as palavras, as pequenas frases, a pontuação e as ideias flutuam nesta narrativa.

Não sei bem como relatar a experiência que tive com este livro, mas posso dizer que foi inquietante, aliás cheguei a lê-lo em voz alta e com assistência, para que não fosse sozinha a presenciar tal prenuncio de loucura. Não estou com isto a chamar o autor de louco, mas a sua escrita vagueia com certeza num mundo lunático onde as palavras causam engarrafamentos e se atropelam pelas ideias e onde a pontuação parece uma corrida de obstáculos a ultrapassar e os parágrafos semáforos vermelhos a transgredir... É isso mesmo, é um experiência alucinante como em hora de ponta a uma sexta-feira, vésperas de fim-de-semana prolongado de fim de Primavera e já estão mais de 30º graus, juntem ainda, centenas de milhares de pessoas todas a quererem sair na mesma saída, aquela que dá para a Ponte Vasco da Gama. O destino é o Algarve. Depois coloquem-nos a todas na mesma praia, com toalhas semelhantes e guarda-sois coloridos das mesmas cores, adicionem filhos, baldes, areia aos montes, o mar em marés vivas e, não se esqueça, subtraia a tranquilidade, o silêncio e a paz de espírito....


Entendeu? Não? 
O melhor é ler e perceber a velocidade das ideias com que Rui Vieira nos traz esta brilhante composição, quase musical, uma junção megalómana de palavras em colisão, onde as pessoas já se foram, mas resta um bailado de almas confusas.

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