Por vezes um poema só é mais que um livro!
Abrigo?
Sentei-me devagar na mão que me estendiam
Era espalmada, branca não demais, e tinha rios escuros, mansos, desfiados
um tanto apoquentados, sim, ou aturdidos de ali desaguarem
sem aviso
na palma ensoleirada
tão pouco protegida
Não estou a magoar? Não estava.
Um sorriso bom, gigante deu fé
do meu abrigo.
Podia então ficar? E descansei.
Macia que era a mão, almofadada,
não tinha, no entanto, a meu ver
a consciência desajeitada. Ampla era,
de genero espaço, mas talvez demasiadp
frouxa, com covas muito côncovas
maleáveis ao corpo, o meu,
que queria a cpmplacência pois,
mas não tão dada.
Adivinhando provavelmente o desconsolo
e mau conforme ao meu estado
a mão esticou-se, espalmou-se de repente,
lisa e oleada.
Sobressaltei-me e escorreguei.
Por pouco não caia da mão ao chão
se outra mão não detivesse o perigo,
não me amparasse.
Levantei-me. Sentia-me desfrutado.
De pé, na plataforma que fora mão
e cama de colchão mal acamado
defrontei o patrão da mão:
Então? Assim ou assado?
Como se sentisse e a inquietasse o pulsar da minha comossão
a mão sofreou-se, resguardou-se
e numa corpulenta onda de caprichos,
quase se fechou sobre a carga
desamparada do meu corpo
que resvalou e se abateu
pelo desfiladeiro de montes vivos
até se afazer à gruta ou concha humedecida,
duvidoso abrigo, subterrêneo e céu,
Estaria protegido?
Protegido de quê,
se a protecção era ela própria
o perigo.
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