A Balada de Johnny Sosa
Mario Delgado Aparaín
É de aguçar a curiosidade...
"(...) Até que um dia, estava eu de viagem num comboio de Frankfurt para Hamburgo, se sentou à minha frente um casal de desconhecidos. Mal se instalaram, pegaram num livro que começaram a ler a quatro
olhos. Liam-no com aquele tipo de avidez e prazer que provoca inveja, que supera qualquer pudor e nos impele a esticar o pescoço para ver se conseguimos descortinar o título do livro, pelo menos. Isto no caso de os leitores que tivermos diante de nós não serem como os que eu tinha: tão cuidadosos que forram os livros. Via-os fruir da leitura enquanto me esforçava por me concentrar numa pavorosa biografia de Heidegger que alguém me ofereceu não sei se
para alimentar a minha exangue cultura geral, se por vingança.
Liam, ficavam sérios, riam. De repente, alguém anunciou o bar ambulante e ouvi-os falar um com o outro no doce espanhol dos uruguaios acerca do que deveriam pedir.
A mulher queria café e o homem assentiu.
— Os senhores são uruguaios? — perguntei.
Apresentámo-nos. O casal de uruguaios atravessava a Alemanha rumo a Estocolmo. Após trocarmos algumas frases, descobrimos que tínhamos amigos comuns na Suécia,
e então esquecemos o café e pedimos uma garrafa de vinho.
— Nunca pensei que fosses latino-americano. Tens uma cara tão séria — disse a mulher.
— Pois é. Estavas a olhar para nós com cara de gastroenterite. Como um alemão — precisou o homem.
Então, expliquei-lhes que o que eu tinha era uma curiosidade imensa em relação ao que estavam a ler com tanto interesse. Foi assim que me veio parar às mãos, pela primeira vez, A Balada de Johnny Sosa.»
Do prefácio de Luis Sepúlveda
A Balada de Johnny Sosa, de Mario Delgado Aparaín pela QUETZAL
Durante a ditadura uruguaia, o negro Johnny Sosa, um humilde cantor de blues da cidade de Mosquitos, revela um ato de coragem inimaginável para os que julgam conhecê-lo – e que acabará por converter-se num belíssimo canto à dignidade humana.
Mario Delgado Aparaín oferece-nos, numa época de desconcerto, algo mais do que um romance ameno e aprazível: põe-nos em contacto com a condição do homem, complexa e imprevisível.
«A Balada de Johnny Sosa enquadra-se, com toda a justiça, na série
de romances curtos magistrais produzidos pela narrativa hispanoamericana contemporânea. Este relato pode converter-se num
clássico.» El País
«Quero assinalar, com a toda a euforia possível, que esta formidável
parábola da opressão e da liberdade é a primeira história escrita por
um latino-americano na qual os bons dão uma abada aos maus.»
Luis Sepúlveda
Acabadinho de chegar.
ResponderEliminarAdoro quando o carteiro toca! ;)