Para aguçar a vossa curiosidade para o livro "AMOR CARNAL", temos o prazer de partilhar convosco algumas perguntas que tivemos oportunidade de fazer ao autor.
Num primeiro contacto com a tua escrita, ocorreu-nos comentar assim:
"Devaneios de uma mente perturbada!"
Depois o contacto passou a ser mais directo e tu fizeste questão de separar bem escrita e criatividade de Pedro Pinto escritor, de ti mesmo Pedro Pinto, o "puto" que faz umas coisas.
1 - É importante para ti, frisares que os contos não são autobiográficos?
R: É importante que quem me lê entenda que os contos são pura ficção.
2 - Mesmo não sendo, reconheces-te em alguma ou várias das situações de Amor Carnal?
R: O Amor Carnal é transversal a qualquer um de nós: é-o, e será, independentemente de o querermos admitir ou não. Quero pensar que cada um de nós terá já vivido um fragmento de qualquer um dos contos.
3 - Já li que Pedro Chagas Freitas (PCF) é uma referência, como comentas para os teus fãs o pedido que ele faz: "leia esta obra com tesão"?
R: O PCF é com certeza uma referencia, ainda que existam outros. Para ler o livro, há que ter stamina, há que ter uma mente aberta e despudorada, afinal devemos libertar o nosso “eu” mais undercover.
4 - E se eu escrever assim: Numa golfada de ar: sôfrego, deixas-lhe a alma a arfar, no corpo, na cabeça, sobram ecos de paixão, mas tu de ressaca, é tudo amor económico e ela, mais amor (im)perfeito... queríamos, não queríamos? No fim, um vazio, tu (ela) foi tudo conversa de elevador?
R: Se tu escrevesses isso, eu escreveria: foi (é) tudo amor transcendental perpetuado ad eternum – há que ler as entrelinhas e ir mais além.
5 - Que temos gostado de falar contigo, é um facto! Mas como sentes ver as tuas publicações, os teus trabalhos serem assim: comentados, interpretados, copiados, discutidos... enfim, um sem número de opções sempre que os partilhas, como é o caso no teu perfil do facebook? Gostas que peguem e continuem os teus contos? Que os interpretem?
R: Gosto de sentir que os outros estão a ter verdadeiro prazer – independentemente do sentido que queiramos dar ao mesmo; gosto que manuseiem o que escrevo, que imaginem o depois, que cada um dê um final para além do fim. É ir mais além, é preencher a alma e enaltece-la.
6 - Perguntamos isto, porque numa era onde já quase nada aparenta ser realmente novo ou criativo e a arte por si só é uma sucessão de recriações e adaptações, como sentes a tua obra exposta assim ao público? Não tens medo de plágio?
R: O medo impede-nos de nos transcendermos, pelo que expor as criações é como ter um parto, muitas vezes com fórceps – porque “no pain, no game” -, e gostar; sentir o prazer incessante que é criar sem medo que seja “mastigado” – o que tu chamas “plágio”.
7 - Continuando ainda na interpretação das tuas palavras e sabendo que já falámos de antemão sobre a realização de uma curta-metragem, partindo de um ou de vários contos teus - como te vês nesse papel? Terias de os realizar para ficarem fiéis à imagética que criaste para cada um daqueles episódios? ou colocarias nas mãos de outrem?
R: Desafio o realizador a produzir(mos) uma curta a quatro mãos. Deste modo, através da parceria, da adaptação e da sinergia de esforços estou certo que brotarão verdadeiros orgasmos para todos os sentidos – cinematograficamente falando, claro.
8 - Voltando aos devaneios carnais, quando os imaginas e os escreves, tens sempre o mesmo personagem masculino? Imaginas os teus episódios com base em locais específicos? E as mulheres, como as escolhes? Elas passam por ti na rua e a tua mente divaga logo?
R: Os personagens são verdadeiros mutantes: escolho o homem A, que amanhã pode ser o B; o local pode ser aqui e amanhã acolá. Quando vou na rua, quando leio, quando vejo, quando sonho, vejo as mulheres, os homens, os cenários e estes ficam impregnados no meu imaginário. Creio que a divagação é galopante, ainda que com a dose necessária nas rédeas: ora puxamos, ora largamos – a amálgama de “atores” teima em entrar nos cenários, como se tivessem vontade própria. Sim, é interessante o trabalho de “campo” – gosto de capturar realidades.
9 - Conseguirias criar todo um enredo mantendo o mesmo homem, cavalgando emocionalmente por orgasmos em cada esquina lisboeta!? Poderemos esperar um romance erótico ou sensual como a tua próxima obra de arte ou não estás para tantos excessos?
R: O excesso pode ser, muitas ou todas as vezes, mental. Um romance com erotismo e com a sensualidade dos personagens apresenta-se como “o” caminho, independentemente da esquina. Cavalgar nas ruas de Lisboa pode ser complicado para o cavalo, existem zonas de calçada – existem mentes menos permeáveis -, pelo que o melhor é uma cidade palmilhada por um homem, uma mulher, uma trama, uma história de, e com, tesão.
10 - Voltando aos teus rasgos de criatividade, sentas-te muitas vezes na esplanada de copo de whisky na mão?
R: Sento-me na esplanada, muitas vezes, sozinho a filmar – internamente – cenários reais e imaginários. O copo, com whisky ou não, esse... bem, esse fica para a intimidade, com Charlie Parker como banda sonora, um charuto e um MacBook para dar asas à imaginação. A simplicidade destes momentos criativos é tão transcendente.
11 - Pedro, amor para ti: carnal ou divinal? Como vês as relações? Há amor, sem amor carnal? Ou sempre que experimentas o amor carnal, corres o risco do amor-amor, de amar o amor... enfim, querer mais?
R: Vejo as pessoas com medo das relações; vejo-as a fugir pois percepcionam ralações: não são; de todo que não o são – estou certo disso. O Amor transcende o corpo e a alma, é-o como uma mistura explosiva que deve ser vivida a dois independentemente das provas que tenhamos de (nos) dar. O risco, a pulsão, são apetecíveis é certo, mas o que ficas – quando o queremos – vai para além disso – terá de existir sentimento, terá de existir Amor, terá de existir “o” Amor. É que sentir é “a” sensação.
12 - No conto "Pó", ao fazermos uma leitura conjunta tivemos interpretações distintas, aliás totalmente distintas - queres levantar a cortina e desvendar a metáfora?
Num olhar mais masculino, ele, pensou na droga: droga dura... "afinal cheguei ao fim da linha".
Num olhar mais feminino, ela, eu, pensei no "pó" dos dias, o "pó" que acumula e embacia os dias... "mais do mesmo".
Desvendas o enigma? ou ambas as visões completam a tua?
R: Este conto é enigmático ainda que esteja lá tudo, algures, encapsulado: uma relação doentia, de consumo de estupefacientes – neste caso cocaína. Ele entrou no amor e viciou-se em cocaína; ela, uma dealer, que através do amor o viciou no produto. No fim ele é deixado, é um “agarrado” que finda com uma overdose. Foi ludibriado, quis amar, foi usado e usou um dos vícios até chegar ao “fim da linha” (morte).
13 - Na maioria dos teus contos, usas bastantes metáforas, algumas diria até, que rebuscadas, para descrever algumas sensações mais carnais, já noutras usas uma escrita bruta e sem filtros, usando um palavreado mais banal, recorrendo essencialmente a asneiras - há alguma preferência por essas escolha? Queres ligá-los a algum tipo de sensação? Ou nem nunca pensaste nisso e simplesmente "saiu-te" dessa forma!?
R: As metáfora são o desafio para o leitor: têm lugar para que este faço ginástica e chegue mais longe, que se supere. O carnal, o palavreado, a ausência de filtros é o que acontece na realidade, muitas vezes, em privado; no seguimento, uso-o como forma de obrigar que cada um de nós deixe cair por terra falos pudores / puritanismos e se permita identificar – pelo menos desejar querer.
As sensações devem vir da alma, do coração e da nossa mente mais profunda: a nossa caixa de Pandora que tanto temos medo de abrir – alguns de nós -, mas que queremos fazê-lo e na maioria das vezes castramo-nos.
Amar: alma + coração + pulsão + sentimentos = Amor Carnal.
Boas Leituras, que nós já lemos e devorámos!!!
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