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quinta-feira, 11 de abril de 2013

«Debaixo de Algum Céu», Nuno Camarneiro - Opinião

Desde «O Retrato de Dorian Gray» de Oscar Wilde ou «O Filho de Mil Homens» de Valter Hugo Mãe que eu não me sentia tão arrebatada pelas palavras que se desenrolavam debaixo dos meus olhos.
As palavras de Nuno Camarneiro são verdades debaixo dos nossos olhos, e é no debaixo que está o problema. Nem sempre o que está perto nos envolve, nem sempre o que é óbvio nos chama à atenção.
O enredo de «Debaixo de Algum Céu» é mesmo isso, de algum, de mim, de ti, dele, do outro, alguém ao nosso lado, vocês... os outros - é o somos todos e não é nenhum!
Mentira! Acontece a mim, acontece a todos!

A Margarida, o David ou a Beatriz, entre outros, todos eles têm um pouco de nós e um pouco dos outros, basta olhar, mas olhar com olhos de ver!

"Abria os livros e tocava as páginas com os dedos e com os olhos, sem ler, sem nunca ler para que os mistérios do homem que amou não lhe fugissem. Um dia cansou-se dos livros e procurou um gato..."

O desenho bem delineado que Nuno Camarneiro faz de cada personagem, é preciso, é real, é preocupado, fica preso à rotina rotineira, calendarizada, encaixada... nefasta, mas segura!
No entanto, o leitor ganha a liberdade e pode, assim como que colorir cada uma delas, com as cores do mar, a rudeza da areia, a textura dos desejos, os cheiros dos beberetes festivos ou então deixá-los a preto e branco, acentuando-lhes a cruz que carregam ou ainda em tons sépia, esbatendo-lhes os sonhos e as ideias, numa mancha mais uniforme, unificando-os, unificando-nos!

"Um pedaço de corda azul, um búzio, algumas garrafas de plástico, dois caranguejos, uma bóia... Moço recolhe cada pedaço (...) Há coisas que lhe servem a ele e a mais ninguém..."

Encaixilhando o desenho, amarrando ideias e vidas, há um organismo que pulsa, sobe e desce, carregando as angústias, as surpresas, as traições, as pequenas vitórias... como um elevador de onde entra e sai gente.
Talvez o prédio, seja um Lote A aqui ou um Nº 8 ai, o que é certo a cada um de nós, é que todos temos um prédio, aquele onde as paredes e os tectos "são barreiras importantes feitas pelas mãos a espelharem cabeças".

Temos ou não temos um prédio chamado sociedade apelidado de cultura e intitulado de comunidade ou até coroado de Humanidade!? Igualemos as paredes às leis, os tectos aos valores, as escadas às liberdades, as portas às oportunidades... e temos ou não um prédio comum a todos!?

"Nenhum mundo pode ser perfeito se não tiver lugar para homens imperfeitos. No limite (...) a excentricidade como premissa."

Na premissa de sermos excêntricos, precisaremos de um dicionário para cada um de nós? Um deus pessoal e intransmissível? Quiçá um prédio só para nós?

«Debaixo de Algum Céu» está pensado para nos fazer pensar, talvez até nos educar - a sabermos olhar melhor, sentir melhor e largarmos os fantasmas, não só os do passado mas mais ainda aqueles "de gente viva, porventura os piores..."

"Deus é bom mas liga pouco a pormenores."
Façamos o mesmo, esqueçamos mais o umbigo que é o apartamento e pensemos mais no prédio, que é o mundo!

«Debaixo de Algum Céu» é o lugar ao céu, o céu que é de todos!

*

Quero deixar um especial agradecimento à LEYA por nos terem brindado com a oferta deste livro excepcional.

Se quiser adquirir este livro online, pode fazê-lo através da Livraria Online Efeito dos Livro, consulte
http://efeitodoslivros.leyaonline.com/

3 comentários:

  1. Olá, Cris.
    Ora cá estou!
    Devo dizer que absolutamente adorei a tua opinião. Fez-me reviver a indescritível mas aprazível sensação com que fiquei com o No Meu Peito Não Cabem Pássaros".

    "Deus é bom mas liga pouco a pormenores."

    Fabuloso.
    Este Debaixo de Algum Céu não me escapa.

    Obrigado!!

    E devolvo-te o elogio quanto ao blogue. Tens aqui visitante recorrente.

    Boas leituras.
    Bj

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  2. Li há relativamente pouco tempo e adorei! É, de facto, um livro absolutamente maravilhoso.

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