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sábado, 1 de junho de 2013

«Dai-lhes, senhor, o eterno repouso» de Miguel Miranda - Opinião

França, Mário França.
De Portugal para o Mundo, aliás do Porto.
O maior detective do mundo, na cidade que é o centro do mundo.

Perdido nos seus pensamentos, entre esperas, por vezes sem saber pelo que espera, Mário França gosta de apreciar o Douro e calcorrear a calçada, percorrendo o Muro dos Bacalhoeiros, uma viagem que "não era muito longa em passos, apenas em memórias."

"Tenho corpo e alma curtidos nestas esperas lentas que me perfazem a vida. De tão viciado, estou sempre à espera de uma espera, o que me confunde, pois às vezes já não sei muito bem porque espero."

É ao som de Requeim de Mozart que este detective, meio despistado, assim se quer parecer, percorre habilmente, de caso em caso, todos os estranhos acontecimentos que lhe vão caindo em cima da secretária! Desde a morte de Lady Godiva ao possível atentado ao Sumo Pontífice em futura visita à melhor cidade do mundo (o Porto, é claro!), até à visita em grande peso da personificação de Demis Roussos com o seu casino flutuante com todas as vedetas numéricas da Forbes, navegando Douro acima.
França, Mário França. Doutor, Doutor Mário França... arranca logo em grande estilo e capacidade argumentativa com o Doutor Brandão ou Brandão, apenas Brandão.

"Um clérigo adunco com cara de corvo recebeu-me à porta do Paço Bispal. Um homem em pose de oração permanente, dentro de uma sotaine negra. (...) Eu gosto de corvos. São pássaros anunciadores, transmitem-me premonições. Já não aprecio homens-corvo, não sei bem porquê. São arautos da desgraça."

Se Mário França é mestre em comunicação não-verbal, Miguel Miranda é mestre em deambular ardilosamente pelas palavras, que sabiamente compõem os melhores cenários, transpondo-nos para dentro da acção.

"Não sei como faço isto, sou capaz de incutir toda a confiança em quem me ouve. Ouço as minhas palavras e espanto-me por não sentir nada do que digo. Como se fosse um ventríloquo de mim mesmo."

De inanimada é que a acção ou o enredo nada têm, antes pelo contrário. A vivacidade anuncia-se a cada capítulo, trazendo-nos inquietude, ora porque se assume mais um caso e mais um crime espreita à esquina ou se avinha mais uma viagem a um qualquer canto do mundo. Mário França nada tem de ventríloquo, mas antes de ilusionista, como se cada viagem fosse feita numa cápsula do tempo, da Belle Époque do Café Majestic ao Nilo Maxime no Cairo, ou numa visita rápida e intensa a Veneza ao som de Carmen de Bizet, sem antes esquecer o Vinho dos Mortos, a bela vila de Boticas.

No entanto, se acham que Mário França para por aqui, desenganem-se. O suícido do Führer é também enunciado e fez alterar o destino do submarino U-1277 que acabou fundeado nas areias próximas à praia das Angeiras. Lá está porque o Porto é uma nação!

Se os crimes e os cenários são recheados e um excelente componente à própria personagem, o que dizer da sua equipa: Kit, Dedos, Cotos e Bilinho Muletas e mais não digo, senão tenho de falar das mãos de Kristina ou das danças sensuais de Joana Saahirah, a bailarina portuguesa mais internacional do mundo, amiga de Mário França, só podia, é claro!

Talvez falte apenas dizer que por detrás de um grande homem há sempre uma extravagante e inteligente mulher, talvez aqui falte é decidir qual é, ou talvez não...

"Esperar por Flávia é um prazer. Estudo-lhe a mente, entranho o seu espírito, regurgitando memórias dos tempos partilhados. É intensa a fusão que sinto com ela."

Poderia continuar a dar-vos motivos para lerem e se apaixonarem pela narrativa inteligente, segura, dinâmica, sagaz e por vezes até cáustica que Miguel Miranda constrói. Mas faltariam sempre detalhes, piadas, curvas e recantos deste enredo hábil que conduz o leitor a largas horas de leitura, ora adocicando ora azedando os sentidos, como o chá ou cachimbo ou a descrição de Umbelinda, já perto do fim, quando pensamos que já fomos brindados com tudo, eis uma descrição de desatar à gargalhada... mas esperem, é claro, pelo final.

Uma leitura altamente recomendada, um escritor para seguir. Um livro inteligente e cativante, recheado de capítulos velozes, mas que nos prendem à escrita apaixonante e a um enredo intrigante e imprevisível. Um policial mais do que à altura de dividir os escaparates com os, ditos, grandes policiais internacionais.

Uma leitura com o apoio da Porto Editora.


2 comentários:

  1. :) Se bem me parece pelas notícias da comunicação social, o Porto já precisava de um bom detective!

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  2. recomendo vivamente o detective aqui em questão, perspicaz e muito bem acompanhado ;)

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