Pegamos no cajado e ainda sem confiança na nossa caminhada damos os primeiros passos no caminho jacobeo e toda a sua envolvente histórica. Podemos recuar ao século 8º ou mais atrás ainda, ao século IX e assistir ao nascimento de uma lenda ou então, ao ano de 44 e reavivar ainda Tiago Zebedeu martirizado. Escolhido o caminho por onde seguir, partimos, mas peregrinamos com uma certeza, o destino é a Aseconia, um local de culto, ou seja, Santiago de Compostela.
Em Santiago de Compostela, reza a história de um nascimento pagão, Prisciliano, filho de Priscila que ocorre numa época conturbada e de emergente expansão do Cristianismo.
Numa sociedade que vivia sectária e a opinião não obtinha consenso, a intriga, a denúncia, a suspeita e claro, a traição, comungava e excomungava consoante os interesses mais perversos ou superficiais, conforme fosse o objectivo final. Na maioria dos casos, vinganças pessoais, impostos e posição social.
Desde cedo somos confrontados com inúmeras doutrinas e cânones religiosos com o fim de obter uma maioria religiosa unitária. Terminologias específicas como arianismo, consubstancialidade e ascetismo, todas elas competindo pela facção mais pura e correcta no culto monoteísta sempre em oposição ao culto pagão politeísta.
Terminologias à parte, que não conseguem ser de forma alguma esquecidas, há também um sem número de personagens, locais e datas históricas no percurso teológico cristão.
No entanto, convêm salientar que o eixo central deste enredo recaí antes sobre o percurso de vida de Prisciliano, porém, este percurso cruza-se com a própria cristologia, ou não fosse a personagem central um peregrino às origens da vida de Cristo.
A narrativa de toda esta acção é labiríntica e indestrinçável de séculos de história cristã, essencialmente de toda a verdade incómoda que foram os martírios cometidos a todos os falsos hereges e as perseguições religiosas, cometidas por vezes com motivações de natureza obscura.
Não tendo conhecimentos históricos suficientes para avaliar o rigor e a riqueza da pesquisa aqui demonstrada, e tendo necessidade de recorrer ao esclarecimento de alguns termos e ideias aqui emaranhadas, confesso que isso abrandou o ritmo de leitura e dificultou a criatividade de me enlaçar tanto com as personagens e o enredo. A escrita laboriosa, que deseja tele transportar-nos à época, ganha por vezes vivacidade, mas em muitas outras vezes torna-se num desacelerador da leitura, juntamente com os saltos cronológicos e geográficos entre capítulos.
Sem dúvida, uma obra digna de peregrino, um caminho pedregoso, carregado de intempéries, alguns percalços e sofrimento, uma busca constante pelo sentido e o combate ao vazio espiritual.
Uma leitura à obra de Alberto S. Santos, autor de outros bestsellers e com o apoio da Porto Editora.
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