Quando nos dizem que o lirismo de Baptista Bastos é um gáudio para leitor é inteiramente verdade.
Se a escrita prolonga o prazer e lhe alonga-lhe os detalhes, o palavreado poético, pulvoriza-nos os sentidos e conduz-nos a um caminho sem direcções, mas é um estar perdido sem vontade de achar ou ser achado no sentido das memórias.
"Risco maior não é a velocidade
mas o estilo bom da pedalada."
Nas palavras de Eduardo Guerra Carneiro, encontramos muito do que o autor nos quer transmitir de Jesuina ou talvez dele ou até de alguns ou todos nós. O que são as memórias confundidas com a vida, ou as vivências confundidas com os sonhos, os desejos, as ilusões? E o lugar da solidão, da desilusão, dos medos confundidos com a idade e o tempo de vida que não volta para trás?
"veeer-daaa-deee"
O que é verdade e o que não é? Será a verdade conduzida pelo tempo e adquirirá contornos que os olhos da experiência moldam e interpretam?
Quando é, que
se atinge o cunho de antigo e a marca de irrefutável? Convêm não demorar... "a dúvida e a indulgência são luxos que não podem ser oferecidos."
"Enviuvara nova, embalava no interior de si mesma a mordacidade que lhe permitia vencer eventuais ataques de desamparo, e nunca mais fora inflamada pelo desejo de conhecer homem (...) Às vezes, sobretudo no tempo do calor, apetecia-me homem. (...) Mas homem em cima de mim, a desfrutar-me, nunca mais!"
Entre o humor e a sagacidade, a partilha e os afectos vamos conhecendo Jesuina, no entanto, a dor, a solidão e a perda, completam-lhe o retrato literário.
Entre o lirismo, mas sem sentimentalismo lamechas, o autor apela a uma linguagem poética, que esconde e contorna alguns detalhes azedos e críticos que a obra apresenta. É por ser um misto tão curioso e exótico que este livro se torna mais que apetecível, um prazer peculiar.
"Todos querem ir para o céu, mas ninguém quer morrer."
Boas leituras e bons livros
Uma edição Oficina do Livro, mais informações aqui.
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