Strayed é sinónimo de alguém desviado, perdido... sinónimo de vaguear, sem destino, sem rumo... mas é também sinónimo de ultrapassar limites, sair fora do pensamento normal e comum...
Para mim, Strayed seria sinónimo de:
M-E-D-O!!!
O medo é uma sensação que proporciona um estado de alerta demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir ameaçado, tanto fisica como psicologicamente.
descarga de adrenalina + ansiedade = M-E-D-O
medo + medo = P-A-V-O-R
E quem tem pavor e medo não anda sozinho, ou anda? Talvez não, mas quem é Strayed - perdido, isolado, desviado vai e não anda simplesmente: C-A-M-I-N-H-A e caminha muito, são mais de 1500 kms em cerca de 3 meses pela floresta entre o deserto do Mojave e o estado de Washington, com o objectivo de atingir a Ponte dos Deuses, naquele que é o percurso do PCT - Pacific Crest (scenic) Trail.
Cherly Strayed é a autora de WILD ou LIVRE, em português, uma das últimas novidades literárias da Editorial Presença - mais informações do livro aqui. Se quiserem podem começar por ver o vídeo da própria autora, senão deixem para o final que é uma excelente surpresa e completo à leitura.
Se preferirem podem começar pelo excerto facultado pela Presença, e vejam o mapa do percurso, bem como a leitura das primeiras páginas, tomando contacto com as primeiras batalhas que Cheryl travou na sua vida, a doença da mãe e a decisão atribulada de caminhar no PCT, como solução à balburdia em que se torna a sua vida.
Antes de vos falar propriamente da leitura, não posso deixar de vos falar da Lista de Livros Queimados no PCT - não vos vou contar porque são queimados - isso descobriram na leitura do livro - mas se eu já queria ler Flannery O'Connor, Coetzee, Faulkner ou Eudora Welty... junto-lhes agora «The Novel» por James Michener e «The Dream of a Common Language» de Adrienne Rich... o Guia do PCT talvez não, mas um de Santiago de Compostela ou da Rota Vicentina talvez acompanhem as leituras e projectos de 2014.
No entanto, não vos posso dizer que ler «LIVRE» seja um factor motivacional para fazer uma caminhada de longa duração, o sofrimento, os motivos de Cheryl ou as provações são desmesuradas, algumas pelo desconhecimento da própria, mas outros pelo desconhecido que é caminhar na Natureza selvagem.
Vejo «Livre» como um diário de bordo, não tanto da caminhada, mas da viagem interior que a autora fez. Um relato, que segundo a mesma não tem parte alguma de ficção, portanto, entendo-o assim como um relato sofrido, pesado, rebuscado e que rebusca no interior da sua mente, os seus medos, as suas perdas, as memórias de criança e as decisões que cedo tomou e se viu compelida a fazer.
As descrições da morte da mãe e dos seus pesadelos com as formas de a matar novamente, talvez seja a melhor forma de o dizer, são duros, exageradamente duros!
"Quem é mais rijo do que eu?"
"-Ninguém!"
"Se a coragem lhe faltar - exceda a que tem." Emily Dickinson
Devo confessar que a única coisa de que senti falta no livro foi uma maior descrição de cenários, já que o PCT, tem o nome consigo - scenic, mas na ausência dessas descrições, registei todos os nomes, parques, lagos e locais de passagem e desde a leitura tenho apetrechado a minha mente com cenários lindíssimos. E isso sim, é factor de motivação suficiente para partir para a dureza de uma caminhada deste calibre.
E para caminhar, se os sons da Natureza não chegarem , carreguem o Ipod ou o MP3 e façam-se ao caminho (... não se esqueçam das pilhas... e do peso que elas representam ;) por isso deixo-vos com Stevie Ray, uma escolha musical da autora.
E depois de 1730 kms, 3 meses, 6 unhas dos pés caídas, feridas várias, cobras, neve, chuva, calor de derreter, falta de dinheiro, encomendas atrasadas, pés doridos (é pouco)... botas apertadas... Orgulho e Alegria são de certezas sentimentos sentidos entre tantos outros. Eu acrescentaria R-E-A-L-I-Z-A-Ç-Ã-O!
BOAS LEITURAS E BOAS FÉRIAS
*
Uma leitura com o apoio
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminar