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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A Segunda Grande Guerra em literatura juvenil :: Editorial Presença - Opinião


Antes de falar-vos propriamente de cada um destes livros, devo dizer que me orgulho muito que se escreva desta forma e a pensar nas camadas mais jovens, alertando e revivendo uma época tão negra da história da Humanidade. Ainda para mais quando se trata de um português, como é o caso de Conceição Dinis Tomé que, de entre os dois livros posso dizer-vos ser o meu favorito.

Ambos os livros levam-nos a perseguir a dura infância de três personagens. Heinrich (alemão), Jósef (polaco e judeu) e Leon Leyson, o judeu mais novo da Lista e da fábrica de Oskar Schindler. Em qualquer um deles vemos vidas destruídas, famílias separadas, homens e mulheres desumanizados, pessoas reduzidas a nada. Um nada cheio de tudo, fome, miséria, discriminação, violência, trabalhos forçados, humilhação... tudo o que contraria a liberdade e a dignidade humanas.

Uma guerra que tomou proporções gigantescas e contornos inesperados, tanto para os judeus como até para muitos alemães que não concordavam com o regime nazi... mas por aqui já todos nós sabemos ou lemos outras linhas, muitas delas aliás bem mais tenebrosas e duras do que estas, como foi o caso das leituras a livros de Herta Müller. Mas aqui, escreve-se e relata-se para camadas mais jovens, no entanto, os cenários sombrios estão lá. A falta de dignidade do gueto e dos campos está lá e do lado do sofrimento dos ainda mais inocentes, as crianças.

No «O Caderno do meu avô Heinrich» quase que nos derretemos com a doçura das palavras da autora, palavras sabiamente escolhidas, mas sem demonstrar qualquer detalhe forçado ou ali colocado para camuflar a dureza ou a humilhação da guerra. No entanto, cada capítulo é um deleite para o leitor que é incapaz de pousar o livro. Nós precisamos de saber o que acontece a Jósef, mas também a Heinrich, ambos corajosos e amigos. 

"É possível acordar todas as manhãs e começar de novo." Foram as palavras do pai de Heinrich, que o criou e educou à volta dos livros, permitindo-lhe viver numa livraria aventuras sob o efeito dos livros ;) Os livros acompanharam a vida de Heinrich até aos seus últimos dias. E mais não posso revelar.
Já Jósef convivia de perto com a música, sendo um génio do violino, aliás deixo-vos o vídeo de inspiração, pois o resto só lendo!

"- Um homem, Heinrich, define-se apenas por três medidas: a capacidade de amar, a capacidade de sonhar e a capacidade de lutar - disse-me o meu pai, enquanto a minha mãe lhe limpava o sangue que escorria do nariz." (pág.42)


Para mais informações consulte o site da Editorial Presença

Para mais informações sobre o livro O Caderno do Avô Heinrich


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No «O Rapaz do caixote de madeira», lido como eu o li, logo de seguida ao anterior, dá-nos a ideia de revivermos o pesadelo do gueto e dos campos, agora ainda com maior ênfase. O número de páginas duplicou, o tempo por lá passado, esse então muito maior. A incerteza do futuro, a solidão, a injustiça... potenciadas pelos diversos anos em que Leib Lejzon ou Leon Leyson (nome atribuído mais tarde) passou "nas mãos" das atrocidades da ocupação nazi na Polónia. Desde a obrigação do uso da faixa branca a ter de deixar de frequentar a escola tudo isso era pouco comparado com o que viria. Quando o gueto era mau e as condições escasseavam, mal sabia Leib, que ele e a sua família ainda iriam enfrentar Plaszów e que a sorte com que acenavam a alguns, era o campo de extermínio de Auschwitz...  

A ideia de Leib e da sua família era manter sempre a ideia "se isto for o pior...", ou seja, se assim for, ainda nos aguentamos e assim foram seguindo, ultrapassando de fase em fase, cada uma pautada por maior aspereza e humilhação. A luz que surgiu nas suas vidas foi a Lista de Schindler e a tenacidade de um homem que se empenhou em salvar vidas em troco de sustentar a guerra, fosse com subornos ou contribuindo com material de guerra.

O livro de Leon Leyson não relata só o seu período de tísico judeu em cima de um caixote de madeira para chegar aos comandos de uma máquina e da bondade de Oskar Schindler. O seu livro de memórias relata-nos a sua vida, sobrevivência e resiliência. A sua vontade em esperar sempre melhor da vida e das pessoas e de ver o lado bom da vida, valorizando o que tinha, mesmo que isso fosse tão pouco. A família foi sempre o seu pilar e acreditar que tinha um lugar no mundo e uma história para contar.

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui

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Ambos os livros são importantes relatos de humanidade, solidariedade e resistência para sobreviver em tanta hostilidade, horror e privação. Mostra a guerra pelos olhos dos mais novos e para os mais novos. Sem dúvida dois livros para serem lidos por pais e filhos. Fica-se com vontade de rever o filme de Steven Spielberg e perceber se o retrato de Leon Leyson corresponde à imagem no filme, bem como outras correspondências.


Quanto ao livro português dá vontade de pegar e ir entrevistar Conceição Tomé e perceber as suas motivações, tentando assim descortinar como se consegue um livro belo, mas forte. É com certeza merecedor do Prémio ganho, desse e de outros. 





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