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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Entrevista :: Nuno Nepomuceno

Quantas vezes não terminam um livro cheios de vontade de questionar o autor sobre uma personagem ou cena em especial?
Quase nunca temos a oportunidade de ver respondidas essas perguntas, mesmo quando lemos entrevistas atrás de entrevistas.
Ocasionalmente, surge a oportunidade de estar no papel de quem faz as perguntas e desta vez, tenho o Nuno Nepomuceno, autor de "O Espião Português" a responder às minhas.


Para quem ainda não conhece a história do romance de estreia do Nuno,
"O Espião Português" deu-nos a conhecer André Marques-Smith, um jovem promissor, quer como agente secreto, quer como responsável pelo Gabinete de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros Português.

– Como nasceu a ideia de tornar o Chefe do Gabinete de Imprensa do MNE num espião?

Na verdade, surgiu um pouco ao contrário. O desejo de escrever um romance de espionagem é algo que acalento há mais de quinze anos, desde os tempos da universidade. Nunca pensei muito a sério no assunto, já que tinha outros planos profissionais, mas quando decidi fazê-lo, mesmo antes de redigir o primeiro parágrafo, comecei por definir as personagens, bem como algumas linhas gerais sobre o rumo que desejava para a narrativa. O protagonista tinha obviamente de ser um espião, mas queria que viajasse imenso, por forma a dar um ar mais cosmopolita e variado à acção. Contudo, como este seria um aspecto secreto na vida de André, tinha de o tornar verosímil, credível. Foi então que pensei no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Pesquisei durante algum tempo sobre a sua orgânica interna, ponderei as minhas opções, e cheguei ao Chefe de Gabinete de Informação e Imprensa. Tudo o resto, como o percurso académico do André, o cargo ocupado pelo pai, e até algumas personagens secundárias foram criadas com base neste pressuposto. Só depois é que comecei a escrever o livro propriamente dito.

– A escolha do nome de código foi um acto isolado ou podemos esperar uma revelação por detrás do nome Freelancer?

Sim e não. A escolha não foi inocente, embora não seja de esperar uma ligação ao arco narrativo da trilogia. Optei por Freelancer, por achar que era um nome de código adequado à personagem. Apesar de ser muito eficiente nas suas funções ao serviço da agência de espionagem para a qual trabalha, o André não se vê a continuar ligado à mesma por muitos mais anos. O seu código ético e moral assenta em valores muito clássicos como a família, o amor, ou a amizade. Do meu ponto de vista, isto é algo limitativo para mim enquanto autor, já que não o posso colocar a fazer tudo. Há determinadas atitudes que o André nunca tomará, seja o que for que esteja em jogo. Por outro lado, é também a maior virtude da personagem e o que a move. Ele quer construir algo mais, além da sua vida profissional. Daí a ideia de alguma independência subjacente ao nome escolhido.
rie﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽s a Elsa destacou. A escolha residiu oura o Andronstruir algo mais ale de co que desejava para a narrativa. O protagon

– Neste livro acompanhámos as missões de André por cidades como Estocolmo, Londres ou Viena. Que cidades serão palco das novas aventuras de André?

A minha intenção é que a palavra-chave para o próximo volume seja evolução. Quer para mim enquanto autor, mas sobretudo para o André e para a série. No primeiro volume optei sempre por cenários muito clássicos como a Elsa destacou. Em simultâneo, tentei apresentar uma narrativa inspirada em moldes mais contemporâneos, como são exemplo os capítulos curtos ou as analepses, e assim criar uma espécie de fusão.
No segundo tomo, estou a fazer outras escolhas. Existe uma outra personagem que foi secundária em “O Espião Português” e que aqui irá disputar o protagonismo com o André, além de outras duas que também serão muito desenvolvidas. Isto vai adicionar um toque extraordinário de exotismo e romance ao segundo livro, que espero vir a contrastar com o seu predecessor. Por outro lado, irá também decorrer sobretudo durante o Inverno, o que abre logo a porta a outros cenários. Sem querer revelar muito, a segunda parte das aventuras do André irá iniciar-se nos Emirados Árabes Unidos e fazer uma importante passagem por Courchevel, uma estância de esqui nos Alpes Franceses. Duas das cidades presentes em “O Espião Português” serão revisitadas, Lisboa será muito melhor explorada, com direito a uma operação de espionagem, e teremos ainda a presença de Budapeste, a capital húngara. Grande parte do segundo livro decorre em terras magiares.
 
– Pensaste em alguma série (de livros ou televisiva) como inspiração? Tens alguma favorita que te inspire?

É difícil não nos deixarmos influenciar por aquilo que vemos, lemos, ou vivemos. Se pensarmos bem, até as nossas próprias relações interpessoais e daqueles que nos rodeiam podem ser uma fonte de inspiração. Não escondo que sou um ávido consumidor do tema “espionagem”, mas tento não copiar ninguém, ou pelo menos não o fazer de forma intencional. Claro que há alguns pontos de contacto com os filmes do James Bond (nunca li os livros, admito), o franchising da “Missão Impossível”, ou mesmo com a série “A Vingadora”, protagonizada pela Jennifer Garner, já que são produtos que ajudaram a construir o meu imaginário, além do de grande parte das outras pessoas. Contudo, há sempre forma de incluir algo novo. Mais do que escrever romances sobre espiões, quero desenvolver uma identidade e um estilo enquanto autor, algo que me diferencie dos restantes. E se assim é, tenho de conseguir ser original.

– A ideia de criar uma trilogia surgiu logo de início ou desenvolveu-se com a escrita do “Espião Português”?

Foi algo que conceptualizei desde o início. A escolha da Presidência Tripartida da União Europeia não foi inócua. Defini desde cedo que cada um dos volumes corresponderia a um dos três períodos de seis meses que perfazem a mesma. Depois, foi só criar uma história com ramificações suficientes que pudessem perdurar ao longo de três livros. É um risco grande, obviamente, ainda mais sublimado pelo meu desejo de criar tomos independentes. Cada volume terá um arco narrativo com princípio, meio e fim, para que os leitores possam desfrutar do livro sem se sentirem obrigados a ler o que o antecede, o que não é fácil, mas que encaro como um desafio. Há muitas pessoas que consideram “O Espião Português” uma obra de final aberto. Não penso assim. Tudo o que nele é apresentado, tem uma conclusão. Esta poderá é não ser a mais óbvia.

– Depois da reviravolta que André sofreu na sua vida durante o primeiro livro, em que se irá concentrar o 2º volume?

A ideia por trás do segundo volume será o trinómio dúvida-confiança-traição. É nestas três palavras que assentará o coração do livro. Se pensarmos bem, as revelações presentes nos últimos capítulos de “O Espião Português” fazem com que todas as pessoas mais importantes no círculo familiar, profissional e pessoal do André, o tenham traído ou mentido de alguma forma. E isso será algo que ele terá de debelar dali em diante. Em quem poderá ele confiar ou não? E que preço terá de pagar se decidir fazê-lo de novo? Por outro lado, há toda uma série de relações que se estabelecem com os acontecimentos de Viena que terão de ser condignamente explorados. Falo por exemplo dos problemas no Ministério, ou mesmo no futuro da organização rival e do Projecto Lebodin. Por fim, uma mulher entrará na vida do nosso espião português. E esta vai mudar radicalmente.
 


Mal podemos esperar por ler o segundo volume da Trilogia Freelancer.

Em nome do Efeito dos Livros, gostaria de agradecer ao Nuno a sua simpatia e amabilidade durante o processo em que tivemos a oportunidade de ler, comentar e esclarecer dúvidas sobre "O Espião Português"
Obrigada!

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