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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

"A Arte de Dormir Sozinha" :: Opinião

É curioso como este livro surge numa altura em que somos presenteados uma crescente oferta de livros centrados na obtenção do prazer, seja a solo, a dois ou através das mais variadíssimas opções, quer em número de participantes ou estilo/tema escolhido.
Creio que, só a sinopse chega para criar em nós o pensamento sobre o reverso da medalha. Se a norma é uma vida sexual minimamente activa (seja a pessoa solteira, comprometida ou a favor da liberdade sexual igualitária e desenfreada) então como é estar no lado dos que estão sem sexo? Quando é por falta de oportunidade, nós até conseguimos compreender com alguma facilidade e sem recurso a grandes explicações mas quando se trata de uma decisão consciente, qual será o motivo que leva alguém ao celibato auto-imposto?
Foi essa a razão que esperava encontrar com a leitura de "A Arte de Dormir Sozinha"
E essa razão não foi satisfatória para a minha pessoa mas é tudo uma questão de perspectiva.

SINOPSE

Tive de ajustar as minhas expectivas assim que comecei a ler este livro. A ideia que fiz ao ler a sinopse não estava correcta. Fui precipitada em julgar Sophie como uma mulher leviana que um dia, farta de relações casuais, decide fechar a porta a oportunidades sem futuro para se "guardar" para uma relação amorosa com significado. Creio que fui levada a achar que iria encontrar uma história que me fosse mais familiar, no entanto, mal passei da primeira dezena de folhas percebi que a história de Sophie era um exemplo que não me tinha passado pela cabeça.
A sua vida sexual começou de um modo algo precoce e traumatico e ao longo das suas relações assumiu como constante o socialmente imposto em detrimento da vontade própria, pelo menos da vontade consciente de quem partilha por hábito não por vontade de dar. Talvez tenha sido ai que começou o caminho sinuoso que levou Sophie a fechar-se no seu corpo, com a sua decisão.
A tranquilidade que tanta gente encontra no acto e prazer pós-coital não é o que atraia Sophie. Ser deixada na sua solidão, no isolamento da sua individualidade é toda a paz que precisava e que encontrou no tempo em decidiu desistir do sexo, dos homens mas não da sexualidade em geral. Uma mente mais simplista, talvez apelidasse Sophie de fria, de frígida ou resumisse tudo a um "provavelmente não gosta de sexo" 
No entanto, achei curioso a reacção das pessoas que a rodeavam porque foram variadas, algumas até surpreendentes. Quando o outro não tem oportunidade de usufruir de algo, chamamos-lhe "coitadinho" mas se alguém decide não aproveitar uma coisa tão boa, rapidamente questionamos os seus motivos e olhamos para ele/ela como se fosse maluco/a.
No entanto, embora tenha apreciado a escrita de Sophie e alguns dos momentos descritos, achei que faltava algo, uma maior coesão entre escritos e uma visão detalhada destes anos que celibato. Acho que o título original (L'envie) é mais adequado ao conteúdo do livro, assim como à mensagem que me passou. O fim deixou-me insatisfeita e a pensar.
Quem já o leu...o que achou?

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