A adoradora de Ganesha ou ... solteirona aos treze anos, podia muito bem ser o prelúdio deste romance.
A Chabili, a adorada, revelou em todo o romance, em toda a sua existência uma enorme profundidade de carácter, uma elevada complexidade emocional e uma ainda maior capacidade estratega e de ultrapassar obstáculos. Talvez fruto da iluminação proporcionada pela adoração do Deus Ganesha e à sua clarividência para vencer e solucionar problemas.
A rebelde e inquieta, a magra e arrapazada amiga de Ramchad. Aquela que espera, até quase ao final da sua vida, para saciar os seus desejos mais íntimos e consumar o seu amor. E mais não digo.
A filha de Moropant, aquela a quem os astros indicaram que se casaria com um rajá, um rei.
Marnikarnica ou Manu, casou-se com um Rei. Ela, a rani de Jhansi.
A Beta de Gangadar Rao, cujo as pérolas conservaria do pescoço até ao último suspiro.
A sapiência e a inteligência ao serviço de um casamento impar e de um reino que soube governar, contornando todas as adversidades da vida. Uma vida que se esperava recatada e protegida... afinal tratava-se da Rainha.
A rainha adorada, a Lakshmi Bai de Jhansi, do povo.
A Milady que mesmo através do purdah encantou e ganhou a admiração de mais de um oficial britânico, tal admiração e apreço, que se estendeu à inglesa Prudence.
A compreensiva e humana rainha, que abraçou Motibai e aprendeu com ela.
A peregrinação a Benares e as águas sagradas do Ganges que a protegeram e lhe reservaram alguns milagres, algumas realizações.
Karl Marx e Friedrich Engels, distantes, mas atentos. Com traços que dariam outro romance histórico e detalhado pela mão da escrita enciclopédica de Catherine Clement. Uma escrita recheada de detalhes e aprendizagem, para quem por aí quiser enveredar. Uma lição de deuses e tradições e até do duro karma que perseguiu as mulheres indianas durante séculos. Arrepia pensar nas nos cultos e nos pedidos de um povo para que uma mulher se martirize. Felizmente as sati's estão proibidas actualmente.
Esta é a história da Índia que não queria "morrer colonizada". Este seria um bom mote para a luta pela independência. Uma luta contra as tenazes inglesas, que usurpavam e anexavam territórios, anulando as leis e as tradições.
A Chabili guerreira que se recusou a ser uma sati. A Joana d'Arc da Índia que cavalgou na resistência, a golope no seu Sarangi, de pérolas ao pescoço e filho num "regaço" improvisado...
A estratega que mandou cortar todas as árvores da sua Jhansi.
A Durga que lutou pelos sipaios.
Leia Catherine Clement e sinta, a bem visível paixão pela Índia, ou simplesmente, sinta a paixão que coloca em tudo quanto escreve. Já já leu mais do que um, percebe!
Uma leitura com o apoio PORTO EDITORA.
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