Poderá o aviso "não toques no botão vermelho" ter
outro efeito que não a crescente vontade de quebrar as regras e meter a mão no
botão só porque sim, só porque era proibido e porque a vontade nos descontrola
a razão.
Ao longo da jornada proibida que inicia com Leonardo, Elena
vai sentindo muitos botões a serem pressionados, uns que abrem portas, outros
que quebram barreiras e o mais proibido de todos, o que deixa escancaradas as
portas do coração quando este devia estar fechado a 7 chaves sendo o aviso bem
claro "nunca te apaixones por mim".
Conhecemos uma Elena com uma vida confortável, dedicada ao trabalho,
inadvertidamente próxima de ter uma conexão romântica com um amigo de longa
data, que passa os seus dias numa Veneza dividida entre a calmaria do palácio
em que está a recuperar um fresco e as noites boémias propostas pela sua melhor
amiga Gaia, das quais tenta fugir sempre que possível.
O sossego no palácio é interrompido de rompante pela chegada
e permanência de Leonardo, o novo inquilino que ficará na cidade para a
abertura do restaurante que partilha com o proprietário do imóvel.
Num duelo entre o incomodo de o ter presente a perturbar-lhe
a concentração e o fascínio oculto que a sua pessoa começa a exercer sobre si,
Elena cedo descobre que resistir será inútil.
Leonardo é confiante e companhia nunca lhe faltou mas há
algo em Elena que o faz querer despoja-la daquele ar reservado, que o faz
querer soltar a fera que dorme escondida no seu interior e que aguarda a
companhia certa para sair a correr pelas ruas de Veneza banhada pelo luar.
Desde o momento em que a razão cede aos desejos do corpo,
Leonardo e Elena envolvem-se num acordo que deve ser privado de sentimentos,
sendo a descoberta do corpo e satisfação de ambos o único objectivo da conexão
que partilham.
Um festim de sentidos, um mar de descobertas onde só existe
uma regra "não te apaixones".
Leonardo é um amante disposto a fazer Elena desabrochar e
com a indicações correctas, é nesse caminho que a vemos seguir ao longo do
livro.
Elena acaba exposta perante os nossos olhos, o que conhecemos
dela inicialmente cai por terra, jaz no chão do átrio junto aos godés
abandonados e secos das tuas tentativas para encontrar o pigmento certo para o
restauro do fresco. Essa libertação de Elena é o que mais me agradou no livro. Com cenas de um forte cariz sexual, sem excessos de malabarismo ou audiências, os momentos partilhados pelos dois, em privado ou público, são do mais erótico que li ultimamente.
Já Leonardo é, como em quase todos os livros do género, o
personagem com algo a esconder, a fonte de todo o mistério, especialmente
devido às suas ausências. No entanto, o que possa moldar a decisão de Leo em
manter os seus relacionamentos estritamente carnais é algo que nunca é
referido, não há cá menções de traumas ou desgostos amorosos no passado. Se as
mulheres que passam pela sua vida não se demoram, é porque assim o quer. A
razão porque decide se tardar com Elena fica subentendida e sabemos que uma vez
atingido o patamar de igualdade, a razão para o envolvimento dos dois deixa de
fazer sentido.
Qual dos dois sucumbirá aos caprichos do coração primeiro?
Será que algum o irá admitir?
Estou curiosa com o rumo que a história irá levar daqui em
diante, especialmente tendo em conta o título do segundo livro -
"Sinto-te"
Eu não fiquei particularmente satisfeita com o final mas
compreendo a escolha da autora para assim fechar este 1º livro.
Gostava que tivesse sido possível incluir um excerto do 2º
livro no final do livro. Acho que teria aberto o apetite para a reviravolta que
nos espera algures para a frente.
A leitura de "Vejo-te" levou-me a uma Veneza vista
pelos olhos de uma local e fez-me sentir que estive lá o tempo todo, ora a
contemplar o fresco que Elena restaurava ou a deambular pelas ruas e canais da
cidade.
No entanto, Veneza continua num plano romântico e é lá que
irá permanecer.
Uma nota extra:
Já
por mais do que uma vez me perguntam como é que consigo ler um livro erótico
com impassividade perante o conteúdo, sem que as reações me traiam enquanto
leio no comboio, na esplanada ou no meio de uma qualquer multidão.
Não sei mas é o que acontece. Talvez seja uma pessoa muito
expressiva no meu dia a dia mas no silêncio da leitura, as explosões só se
ouvem dentro da minha cabeça e nada transparece para o mundo. Consigo ler
qualquer que seja o livro, de conteúdo mais ordinário ao mais cómico, sem que a
minha expressão me traia.
Ou
assim penso eu!
Em momentos pontuais durante a leitura de Vejo-te, tenho
plena certeza que sim, porque apenas fecho livros abruptamente perante duas
situações, quando o que leio me irrita ou quando tem um impacto tão grande
sobre as minhas emoções, que se não o fecho falta-me o ar.
Wow!
Tenho vontade de escrever à autora ou agarrá-la e dar-lhe dois beijos.
Uma novidade que vou convencer meio mundo a ler
Cortesia da
Crédito Fotos : Murad Osmann - Série Follow Me
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