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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Opinião :: "Espetacular Momento Presente”

"Espectacular Momento Presente” o não tão típico romance de adolescentes que estamos habituados a ver nos livros e no cinema. 
Ainda bem!
Este livro é dos mais sinceros, crus, iluminados, divertidos, irritantes e realistas que li deste género ultimamente. Não ultimamente mas de sempre!

Se esperam o romance de “bad-boy conhece rapariga engraçada e tímida, apaixona-se por ela e muda a vida toda” estão enganados em escolher a história de “O Espetacular Momento Presente”.

Sutter é aquele amigo que toda a gente já teve (ou ainda tem, tanto para o bom como para o mau!). Se há um lado de mim que conhece Sutter e sorri perante a sua opção de viver o “agora”, há o outro (o lado adulto) que reconhece pessoas do passado na sua conduta e personalidade e que sente uma tremenda vontade de esbofetear até nos momentos em que os seus comentários carismáticos, alcoolicamente animados mas desprovidos de sensibilidade me arrancam um aceno de concordância ou uma gargalhada. Toda a gente conhece o tipo: Sutter é a alma da festa, o que está disposto a tudo, com quem se pode contar para beber uns copos, passar uns bons momentos e viver momentos épicos, dos que se recontam milhentas vezes por ser o produto mais genuíno do momento presente, da espontaneidade.
Sutter é cool, é o tipo de pessoa que alguém apenas pode caracterizar como "simplesmente genial!!"

No entanto Sutter está perdido e ainda consegue o feito de se perder inúmeras vezes durante a história, não na narrativa que ganha imenso com os seus relatos, mas devido ao estupor alcoólico que mantém diariamente para “acelerar as coisas”. A piada do “nunca é cedo para beber, são sempre cinco da tarde em algum lado” aqui não tem efeito de piada. Sutter faz-se acompanhar de álcool logo de manhã (para a escola ou trabalho) e a vida para ele não pode correr melhor. Tem dinheiro no bolso, álcool no copo, boa disposição a rodos e uma namorada boazona. 

 Mas Sutter passa de bestial a besta em segundos, por diversas vezes, com diversas pessoas. E o Rei da Festa é muitas vezes igualmente o bobo, especial ao fim de alguns dedos de whiskey. Não que o álcool seja o seu maior problema, é apenas a solução (líquida) mais constante na sua vida. Uma família desfeita, um pai ausente, a dúvida insistente de ninguém o amar, um grave desinteresse pelo futuro e a ideia de que consegue ajudar toda a gente quando na realidade é ele que precisa de ajuda. 

(lembrei-me da música "Stay" da Rihanna enquanto lia o livro - curioso, encontrei este vídeo com imagens do filme - atenção SPOILERS ------- video AQUI

A entrada de Aimee na vida de Sutter pode ser vista como uma premonição de mudança de “ao tentar salva-la acabo por ser eu o salvo”. Mas são água e azeite, são o 8 e o 80 (800 se Sutter estiver bem regado!). O espontaneidade extrema e loucura de Sutter acabam por ser uma influência quer positiva quer negativa em Aimme e o contrário também se verifica. A calma e bondade de Aimee são os factores chave que podem exercer magia na vida de Sutter mas estará ele disposto a mudar? 
Será que alguém consegue ajudar-nos quando nem sequer reconhecemos ter um problema? Será amar alguém motivação suficiente para mudar o ruma da nossa vida, quando não sabemos que destino tomar? 
Será verdadeira a velha máxima “se amas algo deixa-o partir, se voltar é teu, se não voltar nunca foi” ? 
E para Sutter, será que o espectacular momento presente pode ser eterno? Ou quando ele abrir os olhos para a realidade será demasiado tarde?

Há algo mágico mas de igualmente trágico nos pensamentos honestos de Sutter. É triste pensar em como tão facilmente nos desorientamos, em como não ter norte nos faz deambular pela vida em constante negação, com um falso sorriso na cara e um estupor alcoólico como combustível. Sim, o beber para esquecer, para viver intensamente….! Tem graça de vez em quando mas quando é constante, é simplesmente trágico.
É triste Sutter não ser um estereotipo mas uma realidade recorrente nos seus 17 anos, aos meus 27 ou nos 37 ou 47 de outra pessoa qualquer. 

Mas depois de ler este espectacular momento presente não deixo de concordar com duas máximas do cromo Sutterman
“viver o momento presente” e “abraçar o bizarro”
É esse equilibro da balança, entre o sério e o louco, o normal e o bizarro, que mantém os níveis de sanidade mental, pelo menos os meus. 
Ah e o ocasional copo, também! 
 :)


Para quem não sabe, "O Espetacular Momento Presente" já tem a sua adaptação ao cinema, como mencionámos no post "10 Livros para ler antes de sair o filme"
Curiosamente, numa das minhas noites de insónias, devo ter visto este filme sem prestar atenção ao título. Só percebi isso quando cheguei ao fim do livro. No entanto, acho que o vou rever. Especialmente pela banda sonora.

Mais um livro que se torna filme mas que não chega a Portugal.
O livro está disponível graças à

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