Proliferam no mercado editorial português inúmeros títulos de autores nórdicos. Mais do que uma moda, há já, como que um culto às obras e autores vindos das terras gélidas e altas da Escandinávia.
K. O. Dahl não é excepção. Norueguês e vencedor do Melhor Policial Norueguês do Ano 2000, venceu-o com este "Morte numa Noite de Verão". O mesmo policial valeu-lhe ainda outra nomeações e a publicação do mesmo em Portugal surge como uma resposta ao sueco Henning Mankell, bastante premiado e publicado no nosso país.
"Morte numa Noite de Verão" especula, bem desde o início, alguns dos clichés da sociedade actual e faz-nos apontar em diferentes sentidos, mas já comuns, para dar resposta ao homicídio. No entanto, apesar de por vezes parecer que vai seguir por aí, a investigação desvenda, com fluídos diálogos, factos bem casuais que não permitem que aquele seja o assassino.
O policial de O. Dahl parte de um enredo, bem alargado por sinal, para poder especular, longamente, todos os potenciais suspeitos. A seguir a uma festa socialite, Katrine Bratterud é encontrada morta. Brutalmente morta, é o que nos diz a sinopse e também o enredo, se bem que este policial expande pouco a parte da violência. Por isso, cai por terra mais um dos muitos traços apontados à literatura nórdica, onde a frieza e até a barbárie dos crimes é elevada e descrita com minucioso detalhe. Aqui não!
O que interessa aqui encontrar é o assassino e as motivações para tal, já que Katrine Bratterud é uma toxicodependente recuperada e que, à partida, tem a sua vida refeita, organizada e limpa... em todos os sentidos. Mas não tem. Aliás, nem ela nem ninguém. São os factos mais sórdidos e mais cinzentos que dão cor a este enredo. Os interrogatórios levados a cabo por Frølich e Gunnarstranda são como um "lavar de roupa suja", por vezes até da própria vida de ambos os inspectores. E o interessante talvez seja isso, no entanto, também não espanta, já que o leitor está à espera dos podres da sociedade ali bem delineados.
A investigação atinge o clímax final, perante um, quase, conflito familiar, que representa a potencial morte de mais uma pessoa. As motivações passionais dos criminosos são postas a descoberto e há um misto de culpa versus desculpabilização, que dão um tom curioso a este policial, já que chega a permitir uma certa simpatia ou compreensão por uma das personagens. Ainda assim, levanta uma questão: será que o amor justifica tudo?
Um policial de traço clássico, onde o crime dá o mote a uma série de longos interrogatórios, com vista a descobrir o culpado. Talvez não tão clássico seja a minúcia nas descrições da envolvência, e não só da natureza, como também é traço dos nórdicos, mas dos mais diversos detalhes, que a meu ver, não contribuem em nada para o enredo, naquele em que o leitor está focado, ou seja, resolver o crime. Os diálogos dão um bom ritmo ao livro, mas não fiquei fã da troca de galhardetes entre inspectores, achando por vezes um pouco trapalhão, mas sem graça ou até um pouco convencido de mais.
O livro é um compêndio de males da sociedade em geral. Uma forte critica social que põe então a descoberta que os nórdicos não serão assim tão perfeitos como tudo faz crer.
Uma leitura com o apoio, Porto Editora. Veja mais do livro, aqui.
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