"O meu ninho literário deste fim de tarde tem lições de gramática, idas ao psicólogo, uma mulher louca e um homem não menos louco que se divide em "um de lá" e "outro de cá", e um indiano com nome próprio de deus e sobrenome de demónio. Em conjunto, meditam... ou não, baralham-se e confundem também o leitor.
As palavras têm grande peso nesta, alucinante narrativa, que fluí mas não é fluída. Há palavras feias ou poucas bonitas, mas que no fim compõem uma boa frase. Boa, adjectivo que caracteriza o substantivo frase... LOL, é a sigla que melhor resume toda a leitura que navega e abre caminho neste romance ou investigação para potencial romance de um jornalista de ofício, mas escritor de carreira.......
E com isto, o que leio!? "A Mulher Louca" de Millas"
Foi assim, meio a quente, que me referi à leitura deste novo livro de Juan José Millás. Estava mesmo mesmo a terminá-lo quando no fim de semana passado escrevi este pequeno parágrafo sobre, tão peculiar e criativa narrativa.
Em "A Mulher Louca", a barreira que separa realidade, de ficção ou ainda de loucura é muito ténue, eu diria que é quase inexistente, apelando ao seguimento dos relatos e claro, o fim.
Millás é um autor intrometido e consequentemente personagem do seu próprio livro. Só tive pena que no meio de tanta personagens, não houvesse mais espaço para o chefe filólogo... e aí sim, o ramalhete estava completo.
A sua escrita é bastante específica e peculiar, chega a ser desconcertante com o ritmo e direcção que o autor dá à acção. Nomeadamente porque temos um autor, jornalista e escritor, que se representa a si mesmo na obra, sendo um narrador e escritor, também jornalista, que se divide e que pretenda analisar as atitudes com o seu "eu de cá" e o seu "eu de lá" - complexo? Sim, um pouco e um outra tanto de curioso.
A meu ver a mulher louca não será o centro desta narrativa, mas sim a loucura em si, a divagação, o desdobramento psicanalítico, bem como a especificidade da própria linguagem e a análise (gramatical) da mesma.
O caso de Emérita fez-me recordar a polémica que é o direito à eutanásia e com as revelações da moribunda veio aquilo que eu julgava vir a dar toda uma reviravolta à obra, mas o autor não foi por aí. Já Júlia, é um caso à parte e as visitas que recebe são hilariantes, no entanto, muitas delas educativas. Outro aspecto curioso e revelador da mestria deste aclamado autor espanhol.
Há como que uma certa bipolaridade no universo da escrita de Millás, que nos brinda com um dilúvio de devaneios, que mesmo insólitos e surreais, funcionam como um romance viciante e um enredo quase misantropo, mas ainda assim, estranhamente, com uma certa curiosidade pelo próximo.
E no final fica a questão: Millás criou um romance falso dentro de um verdadeiro ou um verdadeiro com contornos falsos, mas ainda assim legal!? Confuso? Leiam e ainda assim, ficará confuso na mesma.
Um leitura com o apoio, Editorial Planeta.
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