“O que acredito é que ninguém precisa de mais uma opinião. O mundo está cheio de opiniões, toda a gente tem a merda da sua opinião e, além disso, faz questão de que tomem conhecimento dela. Ninguém percebe que as opiniões dos outros não interessam a ponto de um corno a ninguém? Inclusive as opiniões próprias. A mim parece-me que a minha opinião só tem valor se a reservar para mim e para os meus amigos, quando muito. Antes só opinavam os sábios, e agora? Ouvi uma porrada de vezes isso de «tenho direito a expressar a minha opinião», pois não tem, guarde-a para si. Estou farto até à raiz dos cabelos das opiniões dos jornais. Já basta, ter uma opinião deveria ser algo excecional, algo pensado, estudado, meditado…”, (pp. 40)
A premissa inicial é a amizade e o valor da mesma.
"Sempre desconfiei que a amizade é sobrevalorizada. Como os estudos universitários, a morte ou as pilas grandes."
E eu devia ter logo desconfiado que quando um personagem coloca em comparação o peso ou o valor da amizade com "pilas grandes" me esperaria uma narrativa que constituiria um desafio. Pelo menos um desafio à minha paciência.
Confesso que inicialmente a ideia "estrada fora" era muito apelativa, especialmente para uma leitura de férias, onde também eu iria andar "estrada fora", mas estava longe de tais crises individuais de cada um dos personagens. E foram talvez essas crises, tão pessoais, que para mim minaram, mas também deram conteúdo para que a história decorresse.
Já deu, até aqui, para perceber que não fiquei fã do livro. Não, não fiquei. Lembrou-me o Índice Médio de Felicidade, outro que apreciei pouco, mas ainda apreciei mais do que esta estreia com David Trueba. No entanto, já segui e terminei a leitura de "Saber Perder" e esse sim foi um livro que me cativou e me fez seguir para "Aberto toda a noite", que dentro em breve também colocarei aqui no blog.
O relato é a viagem de Solo, o pensador, de Blas, o gordo e porque é gordo está de celibato, de Raúl, casado e pai de filhos, mas contrariado e Cláudio, o tipo que não se quer apaixonar. As definições e adjectivações são os meus olhares aos quatro rapazes e sim, ainda são uns rapazes, uns jovens à beira dos trintas, decididos a queimar os últimos cartuchos de uma juventude que terminou!?!?! Terminou?
Não entendo porquê?
Porque um teve de trabalhar?
Porque outro casou e teve filhos?
Ou outro é um jornalista falhado e sem namorada?
Ou outro ainda é um conquistador falhado!?
Há aqui toda uma profundidade que eu não vejo. Vejo apenas uma boa desculpa para quatro "manos" saírem de casa, deixarem para trás a vida chata (que todos temos, certos dias!) e irem de férias, numa carrinha, dormirem onde calha, engatarem uma mulheres, umas mais fáceis que outras e claro, apanharem bebedeiras os dias todos!
E que de tão genuíno tem isso?
A ideia é boa e a união entre amigos que alinham numa férias em grupo é boa e também me agrada, mas não julgo que isso torne o livro numa obra. Menos ainda pela linguagem, é certo que é adequada e mais do que contextualizada aos acontecimentos, mas para mim, o excesso de linguagem vulgar, a ausência de uma boa história que valha a pena contar e uns personagens nada cativantes, tornaram-no num livro que, modo geral, não gostei. Mas já ouvi, a restante equipa Efeito dos Livros a pedir por ele... será falta de humor da minha parte!? Quem sabe também é.
"Fracassa quanto antes, porque assim terás tempo na vida para te recompores."
No final, fica a certeza de que a amizade é, sem dúvida, um elemento que completa muito bem a vida de cada um de nós, no entanto, a individualidade e o nosso caminho deve ser traçado por cada um, sempre com a certeza de que a amizade torna a viagem mais suportável.
Gostei particularmente do confronto Solo/Bárbara. E é no culminar desse encontro que descobri, para mim, a chave deste livro. O medo da felicidade. É assustador termos tudo e então, fugimos disso, É isso que Solo faz, foge e diminui ou simplesmente antecipa o sofrimento, adiantando o dia em que inevitavelmente perdemos tudo.
O problema é que não sabemos quando e como se perde, por isso, para quê apressar o sofrimento e deitar tudo a perder, apenas por mero susto!?
"- Guardo os bilhetes que me deixavas quando saías para qualquer lado, as cartas. Lembro-me de tudo...
- Vem comigo, volta a estar pálida, volta a dormir comigo. Aquilo era a felicidade.
- Exacto, Solo, mas quando tu vês aproximar-se a felicidade desatas a correr.
- Não é verdade!
- É verdade, sim! A felicidade provoca-te arrepios, disseste-me um dia que te parece um sentimento estúpido."
Não posso esquecer de referir que gostei do escritor de guardanapos ;) talvez um alter ego de Solo, mais cativante que o próprio personagem, com rasgos de criatividade que me colocaram um sorriso no rosto.
Escritus de Guardanapos:
"Às vezes penso que o cérebro tem inveja do coração. E maltrata-o e ridiculariza-o e nega-lhe o que deseja e trata-o como se fosse um pé ou um fígado. E nesse confronto, nessa batalha, perdes sempre o dono dos dois." (pp.194)
Falta-me só dizer que a passagem que mais gostei foi a da frugal amizade com Estrella... mal sabia eu que era um prenúncio para o que me iria deliciar no livro "Saber Perder".
Fico muito contente por ter saído deste e seguido para "Saber Perder", pois esse sim, faz jus aos comentários tão positivos que tenho ouvido da escrita e dos enredos criados por David Trueba.
Uma leitura com o apoio Alfaguara
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