Arlidge brinda-nos com o verdadeiro page turner "recheado de farrapos humanos traumatizados e balbuciantes". A descrição não é minha, está no livro numa altura em que já não há esperança para quase nenhum dos personagens e é uma forma muito acertada de caracterizar e resumir este thriller, sem ser de modo algum redutora ou sensacionalista.
M. J. Arlidge criou um relato arrepiante!
Só pelo título fez-me lembrar mais do que um dos episódios da temporada 8 de Mentes Criminosas, mas a sua leitura ligou-me a imagens ainda mais imponentes. A escrita de Arlidge consegue transportar-nos a locais tenebrosos, negros, fétidos, marcantes... miseráveis. Sem dúvida que em "UM, DÓ, LI, TÁ" o autor e produtor de séries televisivas terá uma potencial saga de culto para os fãs do género. Por isso, venha em livro ou em episódios, serão todos bem vindos, os novos desenvolvimentos e investigações de Helen Grace, Charlie e quem sabe Jake.
"Um vive e um morre. Não há outra sorte." funciona como um slogan sádico, uma promessa, um teaser para o fim de duas vidas, e não só! A solução de uma mente perturbada para pôr fim ao seu sofrimento, causando ainda mais sofrimento, punição, angústia e morte, nunca sem antes revelar muita miséria humana.
O enredo e o motivo são bem construídos e igualmente bem desconstruídos, integrando muito bem o leitor dentro da investigação. A vontade de ler é imparável. Os capítulos curtos e os relatos dos cativeiros são um acelerador propositado para o leitor se envolver. Dos detalhes sórdidos aos episódios mórbidos, o livro tem parágrafos estruturados para nos fazer tremer. A velocidade com que Arlidge muda de cena e de personagem mantêm a atenção no máximo, no entanto, não há aqui show forense, nem especulação desnecessária ou stress burocrático e altas patentes ... não, aqui há cenas arrebatadoras, sem medo de chocar.
"Dois reféns, uma bala. Sacrificaria a sua vida pela de outra pessoa?"
E realmente é de sacrifício que aqui se fala. Sacrifício e sobrevivência, mas tal como comecei, os farrapos humanos que restam, que sobram, chegam-nos desumanizados, brutalizados... e depois disto que vida resta? Sacrificar o outro é salvar quem sobra? Ou quem sobrevive já lhe resta pouco a que possa chamar de vida? São questões interessantes, a especular não só aplicando o caso de crimes e violência frutos do acaso, mas também fruto do abuso familiar ou em larga escala de uma guerra, por exemplo.
"UM, DÓ, LI, TÁ" foi uma leitura imparável, mas ainda assim detalhada e interligada (ao Criminal Minds!).
Em resumo, Arlidge é meticuloso, organizado, sem rodeios, promove um thriller frio e cinzento, como um dia típico londrino... mas aqui não há lugar a chá das cinco... a delicadeza e a etiqueta são coisas que já não se usam.
Uma leitura obrigatória para arrebatar as leituras de policias de 2014 e dizer: este foi o meu favorito!
Uma leitura com o apoio TOPSELLER, leia mais aqui.
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