“Nós” começa com o primeiro passo em direcção ao abismo, um “Douglas, penso que te quero deixar” que nos chega do outro lado da cama, numa insónia de infelicidade às quatro da manhã. Sabem quando achamos que tudo está bem na nossa vida e de um momento para o outro se desmorona?
É esse exactamente o sentimento com que Douglas Petersen começa por nos descrever, este princípio do fim do seu casamento com Connie.
Se em “Um dia” tínhamos uma história de amor com jovens adultos e uma relação que vai crescendo ao longo dos tempos, com “Nós” temos um amor maduro, um retrato da evolução pessoal, um vislumbre de influência directa das nossas acções na vida da nossa família e uma visão em câmara lenta e em retrospectiva do desmoronar de um casamento.
Em que ponto percebemos que algo corre mal nas nossas vidas?
Quando somos confrontados com a realidade cura e dura, e infelizmente, já estamos num ponto sem retorno, onde quase tudo é irremediável.
Quantos de nós falhámos como filhos, pais, maridos, irmãos e até com nós próprios?
Douglas Petersen é assaltado com essas questões quando mete em marcha o Gran Tour, a derradeira jornada que acha ser capaz de salvar o seu casamento e a relação tumultuosa que tem com o seu filho, Albie.
Pelas palavras de Petersen vamos acompanhando o Gran Tour, os dramas do dia a dia, a cratera que o separa do filho e a relação amorosa que esfria a cada dia, a cada má acção e a cada debitar irritante do conteúdo do guia para preencher os silêncios deixados pelos momentos de introspecção e leitura dos seus companheiros de viagem.
Em retrospectiva, muito bem intercalada com o presente, vamos conhecendo os detalhes do passado, os bons e os maus momentos, os que irremediavelmente nos trouxeram aqui, os que fizeram dos Petersen uma família de estranhos e de Douglas Petersen um sujeito que só quando está tão em baixo, na valeta, desacreditado no seu papel de pai e marido consegue perceber que tudo o que fez e disse nos últimos anos contribuiu a seu favor mas apenas para afastar as duas pessoas que mais ama.
A jornada é dolorosa mas ainda é mais perceber a cada novo vislumbre do passado o quanto o nosso "só faço isto para teu bem" a longo prazo retorna para nos assombrar.
Por França, Alemanha, Itália e outros locais na Europa, os Petersen, lembram-nos que não devemos ficar acomodados com o que vai funcionando e o que nos faz medianamente felizes, temos sim de pensar que os que nos amam têm de o saber e nós temos igualmente de o demonstrar. Acima de tudo, temos de lutar por obter felicidade e depois por manté-la.
Se David Nicholls sentiu a pressão de escrever um grande livro após o estrondoso sucesso de “Um Dia” posso confirmar que não desiludiu e embora num registo mais maduro, os fãs do anteriormente referido não vão ficar desiludidos. Eu não fiquei!
Demore o tempo que demorar a escrever um novo livro, eu estarei cá para o ler.
Entretanto deixo a entrevista que o autor deu em Lisboa no início de Dezembro à NewinTown.
O que eu ficava era realmente muito feliz se tivesse a oportunidade de fazer o Gran Tour já com início em 2015. Saia de Lisboa e ia para Porto, Madrid, Barcelona, Paris, Milão, Pisa, Veneza, Florença, Roma, Nápoles e depois acho que me mudava definitivamente para Itália.
:) Até lá, vou lendo sobre as viagens dos outros, mesmo aquelas capazes de arruinar e salvar uma pessoa, um casamento, uma vida inteira.
"Nós" é uma aposta da
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