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terça-feira, 31 de março de 2015

Teoria dos Limites, de Maria Manuel Viana :: Opinião


"Não estou a falar de um mero jogo de combinações e articulações, à maneira de um puzzle, e sim da literatura como experiência limite, porque a literatura é uma experiência sobre aquilo a que chamamos limites, sobre o limes, que em latim significa também fronteira, delimitação, portanto, metonimicamente, um espaço onde o confronto e a experiência da morte são possíveis."

É exactamente numa experiência de puzzle a várias vozes que Maria Manuel Viana nos expõem uma geografia de afectos com fronteiras que não podem ser cruzadas, barreiras intransponíveis pelo que não pode ser dito, num mundo familiar onde os movimentos são estudados e os intervalos concedidos evitam os confrontos e a multiplicidade de resultados nefastos que daí poderiam ser escutados. Num relato sempre intenso o leitor é arrebatado para a linha de tensão no limite da vida, no hiato que é ou pode ser um enterro, Ele morreu, o Escritor, a persona a que muitos se referiam, mas poucos conheciam ou com quem privavam. A família assiste, introspectiva e atenta, ao tom isolado e alheado de Mariana e todos, um por um, avaliam e pesam este confronto com o fim, pensando no que a vida lhes tem reservado.

"(...) imagine o mundo como uma pirâmide dos possíveis, cuja a base tenderia ao infinito, onde cada um poderia ver e escolher as diferentes possibilidades: ama não ama, morre não morre, mata não mata - haverá melhor matéria literária? (...) não me interessa a gramática dos conceitos e sim inventar, a partir do que neles vi, uma geometria de afectos que será sempre a base de um romance meu, as relações entre as personagens, os movimentos, as velocidades, os hiatos, os intervalos, as pausas e os avanços, as precipitações, os confrontos, a duplicação e a multiplicidade, as linhas de tensão, os limites e os ângulos." 

Utilizando exactamente esta completa e complexa geometria de palavras, entramos num relato familiar onde nada do que é dito, cada um por sua vez, fica completo, cumprindo muito bem "o que não pode ser dito" ou o que "talvez seja dito", acreditando até que muito ficará por ser dito, aumentando assim a extensa teia da tal matéria literária que é a realidade e por sua vez a imensidão de possibilidades que é a vida, num jogo ainda mais articulado que é a literatura.

"Porque a literatura, sabe?, é exactamente o oposto deste neopopulismo anti-intelectual que defende uma escrita linear para chegar ao grande público, esquecendo a herança de vinte e oito séculos e recusando-se a perceber que a literatura só persiste porque reescreve, revolucionariamente, não só o mundo em que vivemos como tudo o que já antes foi escrito." 

Maria Manuel Viana leva-nos não só a entrar na ficção familiar aqui intensamente relatada, como a pensar na nossa mesma, permitindo-nos equacionar o seguimento de determinados acontecimentos que julgamos factuais e até limitados, o que me levou a questionar ate que ponto a realidade familiar e limitada no espaço e no tempo!? Mas este romance faz-nos ir mais além, é pensar a literatura, a palavra escrita, o amor aos livros e a até a responsabilidade que atribuímos a um autor, no final creio que é uma questão de pensarmos a individualidade, pois só ela nos confere o papel genuíno e autêntico no círculo onde nos inserimos.

"(...) apenas o nome próprio porque a sua existência não advém de nenhum parentesco, a individualidade que só o nome confere precisa de ser mantida para lá de circunstância fortuitas e desinteressantes como serem pais (...) é uma infantilidade egoísta querer que uma mulher passe a ser igual a todas as outras só porque teve um filho, é como retirar-lhe a identidade própria."

Julgo que há em todo o romance, a extrema preocupação de conferir o máximo de vida a todas as personagens, tornando-as todas tão interessantes e próximas de algo ou alguém nosso, fazendo com que o leitor se apegue ainda mais ao livro.

"(...) poderia ter procurado esses dois livros na biblioteca, tê-los lido e descoberto que o que não pode ser dito se transforma primeiro no que talvez seja dito, mais tarde no que irá ser dito, mas nunca o fizera, embora a aprendizagem mais solitária e importante de toda a sua vida tenha sido a de que os livros substituíam a vida, (...) e, sobretudo uma barreira contra o sofrimento." 

Sem dúvida que o padecimento pauta este livro e é comovente a forma como o enterro e a morte são pano de fundo para todos os episódios de vida revivida, chegando a ser incomodo o silêncio e a solidão de cada personagem, cada uma tão próxima da outra, mas efectivamente tão afastada, calada e sofrida.

"foi o senhor quem me ensinou que o corpo é pensamento, o pensamento revolução e a revolução emancipação de todas as tutelas e opressões."


Fica Bach nas mãos de Tatiana Nikolayeva, não a partita 4, mas esta parte da 6 que fiquei a adorar.

Boas leituras!

  «Teoria dos Limites» é uma edição Teodolito, 2014.

Comecei a ler...

Não costumam sair de casa sem um livro para ler?
Pois, eu também não!
Esta manhã a luta deu-se entre um policial e um romance erótico.
Parece que o erotismo ganhou!

Comecei a ler o romance de estreia de Lecia Cornwall, "Segredos de uma Condessa Respeitável"

Sinopse
Lady Isobel Maitland não se pode dar ao luxo de ser apanhada fazendo qualquer coisa, mesmo remotamente, escandalosa, ou corre o risco de perder tudo o que tem de mais querido. Mas uma noite, num jardim escuro num baile de máscaras, Isobel cede à tentação e permite que um namorisco inocente com o Marquês de Blackwood se transforme em paixão.

Uma novidade


sexta-feira, 27 de março de 2015

"Deuses de dois mundos - O livro do silêncio" :: Opinião


O que acontece quando dois mundos se cruzam?
O nosso Mundo e o mundo dos Deuses?
O livro de PJ Pereira leva-nos a entrar nestes dois mundo mostrando-nos as crenças de povos antigos, religiões trazidas para o Brasil e para a Europa a partir das terras africanas. Crenças onde existem deuses que ajudam os adivinhos a obter respostas para a nossa sociedade, num paralelismo entre o actual e um mundo fantástico.
Toda a acção se desenrola em volta destes adivinhos anciãos que de um momento para o outro deixam de ter os seus poderes, e por isso são chamados a encontrar um grupo de guerreiros que possa libertar os nossos deuses.
O autor traz um leque variado de personagens todas elas bem construídas que partem em busca dos novos guerreiros, tudo isto transitando entre os dois mundos, onde do nosso lado somos confrontados com um jornalista a braços com uma história importantíssima.
Adorei tudo no livro!
Aviso desde já que para quem gosta de comida este pode ser um livro a consumir com cuidado, pois somos constantemente brindados com referencias a pratos e iguarias que provavelmente queríamos experimentar.
Fico a aguardar o lançamento do segundo volume.


Saibam mais sobre o autor e os livros nos seguintes links para o Facebook e o Site.
Saiba mais da Editora Individual, aqui.


Uma leitura com o apoio:

quarta-feira, 25 de março de 2015

Passatempo "Estranho Irresistível" - Marcador

Achavam mesmo que iamos deixar passar em branco o lançamento deste novo livro da dupla Christina Lauren?!
Nem pensar!
Queremos que levem para casa um Estranho Irresistível!


Com o apoio da Marcador temos a possibilidade de sortear um exemplar deste divertidissímo livro.

Se adoraram o "Cretino Irresistível", não percam a oportunidade de ficar a conhecer esta história. Já leram a nossa opinião

*

O PASSATEMPO DECORRE ATÉ 04/04/2015

Para se habilitar ao passatempo, preencha o formulário abaixo e siga as regras dos nossos passatempos:

ATENÇÃO - REGRAS:
- O preenchimento do formulário é obrigatório para se habilitar ao passatempo.
- Podem participar todos os dias, basta voltar a preencher o formulário.
- Só serão apuradas participações de fãs e/ou seguidores. 
- Ser fã e seguidor, duplica as hipóteses de ganhar.
- Só aceitamos participações de residentes em Portugal.
- Sorteamos os prémios no random.org entre todos as participações.
- Não nos responsabilizamos por nenhum extravio, seja o envio feito por nós ou editora.

NOTA:
- Façam partilha do passatempo - SEMPRE PÚBLICA, os links serão contabilizados como participação, basta deixar o link que contará como participação extra. Obrigada

Um passatempo com o apoio


Boa sorte!

terça-feira, 24 de março de 2015

Opinião "Estranho Irresistível" + "Beautiful Bitch"

Quantas de nós não sairam de uma relação dispostas a varrer o mundo como um furacão?
Quantas não acharam, no calor do momento, que podiam ser como os homens e ter uma relação casual com um amigo ou com aquele homem estranhamente irresistível que um dia se atravessou no nosso caminho?
Sara acha que sim (e eu também!)


Saída de uma relação falhada e adúltera de 6 anos, Sara largou tudo e mudou-se para Nova Iorque, onde a amiga Chloe lhe ofereceu trabalho. Decidida em encerrar o capítulo da Sara Aborrecida e Sem Sal, esta abraça um lado até então adormecido, o da mulher disposta a viver uma aventura com um desconhecido e num sítio em que pode ser apanhada a meio da….festa!
Assim conhecemos Max Stella, dono de um sotaque britânico de cair para o lado e com um charme que lhe dá uma tremenda fama de playboy, algo que nunca nega quando estabelece com Sara uma “rotina” semanal surpreendemente excitante, criativa e satisfatória e onde as regram ditam que “isto é só sexo!”

Somos assim levados, durante semanas, por cenas escaldantes a dois, onde a outra “regra” roça o voyerismo e onde o dia a dia e o acaso se interpõem entre estes dois.
Por quanto tempo a sua ligação será puramente física?
Será que o passado de Sara a vai permitir abrir-se às possibilidade que o presente com Max lhe oferece?
Haverá futuro entre duas pessoas que não vêm o compromisso no seu futuro próximo?


“Babe, there’s something tragic about you, something so magic about you. Don’t you agree?”

Oh Que belo Estranho! Parece loucura mas consumi este livro em meia dúzia de horas, tão rápido que até tenho pena de chegar ao fim.
Estas senhoras acertaram novamente no alvo. Novo livro, personagens hilariantes e uma história brutal.

Ente diálogos hilariantes, amigos brilhantes (raios, que saudades tínhamos de Chloe e Bennett), cenas tórridas em cenários elaborados e uma carga sentimental avassaladora, “Estranho Irresistível” equipara-se e em certos pontos, até ultrapassa o seu antecessor.
Estes cretinos e estranhos arrebataram-me por completo mas senti que me faltava qualquer coisa entre os loucos que se envolviam no átrio da escada no trabalho e estes que se enrolam na biblioteca pública de Nova Iorque.
Faltava Beautiful Bitch!

OPINIÃO BEAUTIFUL BITCH :)
Quando vi que iria ser lançado “Estranho Irresistível” lembrei-me que entre o primeiro e este segundo
existia um ebook, Beautiful Bitch, que fala do pós-final louco de Chloe e Bennett.
Ao longo da leitura da história de Max e Sara, o nosso primeiro casal maravilha aparece, não fossem eles amigos e colegas de trabalho todos a viver em Nova Iorque.
Voltar a ter em cena estes dois foi como rever velhos amigos. A picardia entre ambos é espectacular mas logo na primeira ou segunda vez que são referidos percebemos que há algo que nos falta. Tão noivos? Quando aconteceu isso? Melhor….COMO aconteceu isso?
“Beautiful Bitch” conta-nos tudo, alarga o nosso conhecimento sobre o lado sentimental de Bennett e ainda nos confirma o quanto estes dois são malucos um pelo outro.

Agora vou fazer a lista de espera das amigas que querem conhecer este Estranho :)
Ah, e alguém faça uma série disto.....eu era espectadora assídua de TODOS os episódios.

Ah e o que vem a seguir....a despedida de solteiro de Bennett.....EM LAS VEGAS! Vou esperar sentadinha que chegue a hora de ler mais um capítulo :)

Os Cretinos e os Estranhos são uma novidade sempre muito boa da

Relembro a opinião ao Cretino :) que saudades tinha do Bennett

Novidades Bertrand :: "O Passo Constante das Horas"

« Uma das estreias mais sensacionais do ano.» Oprah Magazine
Uma sinopse que nos alicia com aventura, descoberta e uma história de amor perdida no tempo.

Sinopse
Em 1924, Ashley Walsingham morre ao tentar escalar o Evereste, deixando a sua fortuna a Imogen com quem teve um romance mas a quem não vê há sete anos. A herança nunca chega a ser reclamada.
Em 2004, Tristan recebe uma carta de uma firma britânica que levanta a hipótese de ser ele o herdeiro direto da imensa fortuna de Ashley. Se Tristan conseguir provar que é descendente de Imogen, a herança será sua. Mas tem apenas algumas semanas antes que o prazo legal para o fazer expire.
Dos aquivos de Londres aos campos de batalha do Somme e aos fiordes da Islândia, passando por Berlim e sul de França, Tristan tenta juntar as peças da história por detrás da fortuna por reclamar: um intenso romance dias antes de Ashley ser enviado para a Frente Ocidental e uma ousada expedição ao cume incógnito da montanha mais alta do mundo. Seguindo um rasto de pistas pela Europa, Tristan é consumido pela história de Ashley e Imogen. Mas ao aproximar-se da verdade percebe que talvez ande à procura de algo mais do que uma fortuna.

Uma novidade

Novidades Individual Editora :: "Slated - Reiniciada"

"Staled - Reiniciada" é o primeiro volume da trilogia de Teri Terry, uma novidade Individual Editora para o mês de Março.

 A memória de Kyla foi apagada, a sua personalidade foi eliminada e as suas recordações estão perdidas para sempre. 
Foi reiniciada. 
O governo afirma que foi uma terrorista e que lhe estão a dar uma segunda oportunidade desde que ela siga as regras. Mas os ecos do passado sussurram na mente de Kyla. Alguém lhe está a mentir, e nada é o que parece. Em quem ela pode confiar na busca pela verdade?

Da trilogia fazem parte "" e "".

Comecei a ler...

Quando pensar que a minha vida ou família é estranha, vou pensar em Judd. Com apenas 15 páginas lidas sei que este livro vai dar cabo de mim :)


Sinopse
Quando Judd encontra a esposa na cama com o seu chefe e começava a pensar que as coisas não podiam piorar, recebe a notícia da morte do pai, cuja última vontade é que os filhos cumpram uma tradição que pretende juntar toda a família durante sete dias. 

Algumas famílias podem-se tornar tóxicas quando expostas a uma exposição prolongada e a família Foxman em particular pode atingir um nível de toxicidade letal…

Uma novidade

"Até que a morte nos una", de título original "This is Where I Leave You" foi adaptado ao cinema e cujo o trailer já me roubou umas gargalhadas.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Opinião "Quatro - Histórias da Série Divergente"

Que saudades eu tinha de Quatro!


Passamos a trilogia a desejar sempre mais um bocadinho deste personagem, especialmente quanto temos vontade de mergulhar no livro para o abraçar. Agora temos oportunidade de o revisitar anos antes do início da trama que Divergente nos mostrou, antes de Tobias ser Quatro.
Os quatro contos que compõem este livro levam-nos, pelo olhar de Tobias, a momentos chave que foram mencionados durante a trilogia ou dão-nos informações que complementam espetacularmente bem todo o desfecho que já conhecemos.
Mais interessante que conhecer as cenas inéditas da escolha de Tobias pelos Intrépidos, da sua adaptação à fase inicial e ao nome Quatro até à sua descrença com a facção, é ter conhecimento de cenas que já conhecemos pelo olhar de Tris mas contadas desta vez pelas palavras e pensamentos de Tobias.
Dá-me vontade de reler tudo.......não, espera, sei o que sofri com a leitura. Talvez seja melhor não reler nada, só rever Divergente e ir ao cinema ver a adaptação de Insurgente.

Só uma questão! Este Quatro vai saber a pouco, mesmo muito pouco. Estava preparada para reler a trilogia toda do ponto de vista do Quatro :) mesmo já conhecendo a história e sabendo onde é que vou chorar as pedras da calçada.

Ordem de leitura?
Visto que se trata de uma prequela, até podia ser sensato ler antes de começar o Divergente, ou então, ir intercalando MAS honestamente, sabe bem ler agora, depois de tudo passado. Voltar à história pelo olhar de Tobias é um bálsamo depois da ferida que Convergente abriu :)

Deixo a opinião à trilogia :)

Quem já foi ver o Insurgente? 
Relembro o trailer

Boas leituras! :)

domingo, 22 de março de 2015

"Os Lança-chamas", de Rachel Kushner :: Opinião

 Imagem de capa do Jornal Volsci (1980)

Não sei se fiquei fã de Reno, protagonista pseudo-feminista deste lança-chamas ou sequer de Rachel Kushner, já que experimentei sentimentos vários com a leitura deste livro difícil e com partes, para mim, a roçaram o entediantes. Kushner faz uma viagem a toda a velocidade por uma série de acontecimentos reais dos anos 70, viajando entre Nova Iorque, Milão e Roma, misturando-os com eventos pessoais das suas personagens, das muitas que compõem o espectro de amigos, paixões e conhecidos que acompanham Reno.

Reno, nome fictício dado à mulher motard que enche a acção deste relato, é-lho atribuído devido à referência a Reno, Nevada, local de proveniência e à sua vontade de correr nos desertos de sal - Bonneville Salt Flats - no Utah. As referências geográficas bem como as mecânicas são detalhas e descritivas, intensamente, e logo desde o começo o livro demonstra que a velocidade que poderia ter, perde-a aí, nesses momento de longa narrativa sem que nada aconteça e quando acontece é pouco marcante.

Após várias personagens serem introduzidas e percebermos o desejo de Reno se tornar uma artística reconhecida, caminho que poderia ser facilitado pelos contactos de Sandro Valera, a meu ver com uma história de vida mais intensa e interessante, e é pela descrição da sua vida familiar que ficamos a ter bons momentos de narração, quase turística, que nos transportam a Milão ou Roma. Sandro Valera é filho do magnata da borracha e também das Valera, motos cujo as imagens reais vão dar a referências do livro ou da Ducatti... fiquei na dúvida.
É entre Ronnie e Sandro que Reno retira algumas ilações sobre a juventude e o poder da idade, mas também do mundo da arte e da sua própria condição de ser mulher, no entanto ficam-se por breves frases, não mais.

"Tens o luxo do tempo. És nova. Os jovens estão a fazer qualquer coisa, mesmo quando não fazem nada. Uma mulher jovem é uma via. Tudo o que tem que fazer é existir." (pp.37)

"- Eu não tenho um salário, sou artista, não faço parte do sistema." (pp.101)

Oscilando entre a influência de Ronnie e Sandro, Reno (gostava mais que a tivessem intitulado de Valera!) vai descobrindo a arte e a política como forma de manifestação, como fuga às normas e uma forma revolucionária de viver os tempos já de si instáveis.
Gostei de a meio das descrições mecânicas de motos, escapes, corridas, aceleração, derrapagens, saber o slogan da Honda nos anos 70 que já dá uma perspectiva da própria mensagem da autora.

"A velocidade é um direito do homem."


A velocidade atingida por Reno na competição dos desertos de sal não corre como esperado e aquilo que parecia ser um dos eventos mais interessantes, que seria a volta dela às corridas para captar imagens de Land Art, rapidamente se perde e o leitor perde também a esperança de a "ver" correr novamente.
A partir daí a relação de Reno e Sandro estreita-se e temos uma incursão ao cerne da família italiana e a escrita volta a ter períodos que oscilam muito, tendo nas partes descritivas muita perda de tempo, pior, muitos dos intervenientes na acção também não lhe acrescentam nada, já que a maioria das conclusões a que Reno chega, consegue-as por ela mesma, o que faz perguntar se os outros estão ali só para as divagações e deambulações!?

"Fiquei muito tempo a seguir a lenta deriva das nuvens, grandes massas fofas tosquiadas a direito nas arestas inferiores como se estivessem a derreter num tabuleiro quente." (pp.13)
Um cenário quase sereno mas também onírico e meio delirante que julgo traçar um caminho que se percorre em todo o livro de Kushner.

O livro ganha uma nova vida com o capítulo da marcha sobre Roma e a fuga com Gianni e talvez seja com ele que a tão referida metonímia de Sandro ocorra. A fuga como metonímia da emancipação e aprendizagem de Reno.
Resta ainda pensar se a designação de Roma: Cidade Aberta será uma metonímia para algo.

Ficam também alguns registos musicais dos quais adorei descobrir Big Jay McNeely.



Não podia terminar sem dizer que descobri neste livro um nome fantástico para um cão, o Gorgonzola e depois ao pesquisar por fotos sobre da Marcha sobre Roma, pelo fotografo Larry Fink, dei com a Mostra Internacional de Fotografia de Roma e descobri esta foto irresistível.

Aqui fica a minha versão de um possível Gorgonzola.

Fonte: http://julietartmagazine.com/en/fotografia-festival-internazionale-di-roma/

Boas leituras. boa semana.

sexta-feira, 20 de março de 2015

"Vou imigrar para o meu país" de Nuno Costa Santos - Opinião/Divulgação

Vamos pelas palavras deste "marginal ameno" como fiéis portugueses que também querem imigrar para o este nosso ameno e recatado país.
Nuno Costa Santos critica apaziguadoramente aquilo que lhe apetece, dá-lhe na telha e escreve, descrevendo o que observa, situações quotidianas, comuns a todos e sobre as quais facilmente já nos questionámos. É fácil rir com Costa Santos, avaliar de forma amena, mas sincera este país por onde vamos todos nos encontrando, falando e criticando, mas sempre de forma amena, garantindo o tipo de poltrona em que cada um cabe.
"Por aqui" vamos entrando e passando de bairro em bairro até chegar ao individual, a cada pessoa, são essas as três partes que dividem estas crónicas que estão, necessariamente, todas ligadas e compõem um olhar, uma perspectiva do nosso país.
Nesta imigração diagnostica-se muito bem o ambiente, os vícios, os ossos do ofício, as manias e as aspirações do local que acolhe o imigrante, os outros, nós, eles... todos os portugueses. Neste relato humorístico da actualidade estamos lá todos e é por isso que é tão real.
É inevitável colocar excertos, em jeito de declarações, de conclusões, de constatações:
"Vivemos num estado de emergência cultural."
“A paneleirice é um vício português que nada tem a ver com a orientação em matéria de sexo. Pode atingir todo o heterossexual, homossexual e bissexual. É um sinónimo de mesquinhez. (...) Os portugueses são mais dados à paneleirice do que à inveja. Tinha de ser dito há muito tempo.(...) Passamos o tempo a discutir nos cafés e agora nas redes sociais as declarações e as gafes das figuras públicas, corrigimos o português dos outros como se quem corrige nunca tivesse errado, dizemos a quem trabalha: «Eu teria feito de forma ligeiramente diferente.» Mas há mais.Na paneleirice o português é infinito."
em «Vida sem fios» (...) Quando quero procurar um instante de recolhimento vou para territórios onde não há internet. Bibliotecas velhas, tascas."
em «Selva alheia» (...) Sim. bem vistas as coisas, percebo mal o mundo quase todo."
E poderia continuar.
Já quase na parte final, Nuno Costa Santos relembra os sótãos. O quanto eu gostava de ter um. Um refúgio para fugir para ler, ouvir música, pintar, pensar, dormir... um pequeno recanto cheio de coisas minhas e ser eu. No entanto, para quem não um sótão nada como primar pela arte de constituir um sótão dentro de casa. E nisso, eu e a minha cara metade somos exímios.
"Sou pelo tráfico cultural proporcionado pela amizade." Será com certeza a forma de combater estado de emergência cultural.
Pratiquem então o tráfico ;) que a sugestão eu já dei.
Escritório Editora, saiba mais aqui.

Comecei a ler...

Dizem que no meio está a virtude e eu comecei hoje a ler o livro intermédio, aquele que nos prolonga a história de Chloe e Bennett, de "Um Cretino Irresistível".
Diga-se de passagem que de virtuosa esta história não tem nada, a começar pelo título.
Vem ai a Beautiful Bitch
(a cretina irresistível, para não chamar nomes menos bonitos às pessoas)

Uma forte atração. Nenhum tempo para ficarem sozinhos. E uma misteriosa disputa entre quatro paredes... O intenso relacionamento entre Chloe Mills e Beenett Ryan de Cretino Irresistível continua ainda mais ardente e sensual. Agora que a carreira de Chloe vai de vento em popa, ela não tem tempo para mais nada e insiste em recusar as investidas de Bennett para passarem um tempo a sós. Ele nunca foi do tipo que aceita um não como resposta e essa disputa resulta em uma ardente relação de amor e obsessão.

:) 
Agora, vamos lá ler isto em portugues do Brasil!
A opinião a "Estranho Irresístível" está para breve :) 
ADOREI!!

quinta-feira, 19 de março de 2015

“A Herança de Eszter” de Sándor Márai :: Opinião


Desde cedo se percebe a dolorosa e cinzenta existência de Eszter, a companhia complacente e minimalista de Nunu e a presença intermitente de Tibor e Endre, e claro a eterna presença platónica de Lajos. Esta eterna espera, repete-se tal como acontece em "As velas ardem até ao fim", também já aqui lido e comentado, e é enternecedor perceber que voltamos a uma vida, a uma casa e a um fim sempre marcado pela dor dos que ficam em prol dos que, fortes, partem sem deixar rasto. Esses que partem, desmembram e quebram a existência e o futuro dos que ficam, fragilizando os seus sentimentos, despedaçando os seus corações, mas sabendo, sabe-se lá como, deixar uma réstia de esperança, uma luz, ténue mas persistente, acalentando a eterna espera.

Existe na pacatez e na tenacidade de Eszter um traço de ingenuidade, mas também um enorme pragmatismo e lucidez, o que chega a ser assustador, pois retira de Lajos a totalidade da culpa e nos deixa a questionar se não é tão errada a atitude de quem atraiçoa e engana, como a de quem sabe que é enganada e assim o permite? Não são só estas as questões que o enredo límpido e brilhante de Márai desperta no leitor, há todo um entendimento sobre carácter e família que, em breves frases, consegue provocar uma enorme onda de instrospecção. 

Márai é talentoso na forma como relata sentimentos, é polido sem ser dramático, é romântico sem ter devaneios, é demorado nos mais pequenos detalhes, mas não cansa o leitor, é tão equilibrado que até nos faz perguntar como são possíveis estes enredos dramáticos e quase inverosímeis. Como entender uma espera de mais de vinte anos sem notícias ou desfechos? Não é em si a ausência um desfecho?

A panóplia de sentimentos é contraditória, tanto admiramos Eszter como a estranhamos e a sentimos fraca, ou como nos iludimos com um galã, astuto e de discurso poético, para lhe descobrirmos a boémia e leviandade, revelando-se um cobarde na aceitação dos seus sentimentos. É talvez de aceitação e de adaptação que este livro faça uma melhor retrospectiva, mostrando a força de duas mulheres, isoladas, mas independentes, unidas por laços familiares e mais tarde por uma forte cumplicidade. E depois há um jardim, um local bucólico e de subsistência. Um tesouro. 

Já perto do final, no verdadeiro reencontro e desabafo, o confronto final com a derradeira mentira, a revelação que muda tudo, mas ainda assim, Lajos, mesmo falhado, como Eszter o olha e o sente, pergunta-lhe se os erros de uma vida, se as falhas e as acusações não prescrevem? E quem são os puros, os verdadeiros, os intocáveis que se julguem capazes e no direito de julgar e cobrar sempre, durante uma vida inteira? 

Em todo o livro o que mais brilha é mesmo a escrita do autor, que mesmo em simplicidade contêm tudo e intromete-se na cabeça do leitor, fazendo com que as personagem vibrem dentro de nós e os cenários desfilem com uma nitidez quase cinematográfica. Brilhante!

"In Loving Memory Of" por S. Formigo - Chiado Editora - PASSATEMPO


Com o apoio da Chiado Editora temos a possibilidade de sortear este
 "In Loving Memory Of, de S. Formigo.

Mais informações do livro aqui: https://www.chiadoeditora.com/livraria/in-loving-memory-of
ou na página da autora aqui: https://www.facebook.com/slformigo

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O PASSATEMPO DECORRE ATÉ 31/03/2015

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- Ser fã e seguidor, duplica as hipóteses de ganhar.
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- Não nos responsabilizamos por nenhum extravio, seja o envio feito por nós ou editora.

NOTA:
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Opinião "Romance em Amesterdão"

Mais que nos falar de um romance que começou além portas, numa cidade que me agrada bastante, este livro mostra-nos o quanto um velho amor pode perturbar o nosso presente e alterar o rumo do nosso futuro. 
Os amores antigos, os mal terminados e os inalterados com o tempo são os que maior mossa fazem, especialmente aqueles que os anos não souberam apagar.
Como é possível esquecer alguém que nos fez ver uma parte de nós que julgávamos perdida ou irremediavelmente danificada?


Para ela, Amesterdão foi um escape, uma recordação guardada no cantinho da mente a que se podia recorrer em momentos mais introspectivos.
Para ele, Amesterdão foi o ponto de viragem, o ressuscitar do seu desejo pela escrita, foi conhecer o grande amor da sua vida e perde-lo ao fim de algum tempo.
15 anos volvidos, Mariana casou, é mãe, tem uma carreira profissional de sucesso e é dona de uma vida confortavelmente abastado. Por outro lado, Zé Pedro vive uma vida despretensiosa, escrever livros enquanto mantém a sua privacidade resguardada e gere uma pequena livraria lisboeta.
Uma decisão levou-os a dois caminhos diferentes que um dia se cruzam.
E como é não ver um grande amor durante décadas para depois nos cruzarmos com ele num local de passagem, tão banal ao dia a dia como uma estação de metro.
Para Mariana reencontrar Zé Pedro foi abrir a caixa de pandora que fechou no momento em que voltou de Amesterdão e uma vez aberta, não haverá volta a dar.

Um romance de Tiago Rebelo que aborda um temática que é comum na vidas que nos rodeiam ou até mesmo na nossa. Em que estado de sítio fica a vida da nossa família no momento em que se anuncia que se quer o divórcio, que se foi infiel ou que não se aguenta mais?
Cada um de nós tem uma história para contar, seja próxima ou que conhece, de uma situação semelhante, a de um velho amor que arrasa o presente como um tsunami.
Para Mariana e Zé Pedro, será Amesterdão forte o suficiente para se impor no presente e permanecer num tempo futuro? Ou será que a ilusão que se criou de um momento com 15 anos não nos deixa ver até que ponto duas pessoas que se amam e desejam, podem ser completos desconhecidos.
Haverá espaço para a Amesterdão de Mariana e Zé Pedro em Lisboa?

Para mim, há Amesterdão no meu coração. Essa cidade é o local ideal para deambular em busca de algo, é um sítio onde nos perdemos e encontramos, por entre canais, bicicletas, luzes, idiomas e álcool. 
Já fui feliz em Amesterdão, sem romance mas com vida, muita vida.


Boas leituras, bons amores e boas viagens :)

Novidades Topseller :: "Romance com o Duque"

Topseller, temos de falar!
Estas novidades nos últimos tempos dão cabo de mim.
É cada tiro, cada melro!

"Uma donzela perdida, um castelo misterioso, um duque com um temperamento e um passado um pouco… complicados. O cenário perfeito para um amor improvável.
Como filha de um afamado escritor, Isolde Ophelia Goodnight, também conhecida por Izzy, cresceu em redor de românticos contos de cavaleiros corajosos e belas donzelas. As histórias daqueles livros prometiam inúmeras possibilidades. E por isso mesmo nunca duvidou de que o romance teria lugar também na sua vida.
À medida que foi crescendo, porém, foi riscando essas possibilidades da lista. Uma a uma:
O patinho feio que se tornou cisne.
Ser raptada por um atraente salteador de estrada.
Ser salva da miséria por um príncipe encantado.
Alto lá… Agora que os seus desejos de amor romântico se haviam gorado, Izzy já estava resignada a uma vida de mera subsistência. Mas havia um conto de fadas predestinado a esta mulher de vinte e seis anos, não tão atraente quanto isso, pobre e que nunca fora beijada. Esse conto de fadas era... Este."

O meu amigo Goodreads diz que este "Romance com o Duque" tem mais dois livros que o seguem.

Uma novidade

quarta-feira, 18 de março de 2015

Novidade Topseller :: "À Morte Ninguém Escapa"

Depois de "Um, Dó, Li, Tá", já lido pela Cris, chega "À morte ninguém escapa".

"Um thriller macabro e de leitura imparável"

Sinopse
O corpo de um homem é encontrado numa casa vazia.
O seu coração foi arrancado e entregue à família.
A detetive Helen Grace sabe que esta não será a última vítima de um assassino em série. Os media chamam-lhe Jack, o Estripador, mas ao contrário: este mata homens de família que vivem vidas duplas e enganam as suas mulheres.
Helen consegue pressentir a fúria por detrás de cada assassínio. Mas o que ela nunca conseguirá prever é quão volátil na realidade este assassino é. Nem o que a aguarda no final desta caça ao homem.

Mais uma novidade arrepiante da 

Comecei a ler...

Esta série conquistou-me nas primeiras linhas de "Cretino Irresistível". 
Como mencionei na minha opinião:
Em "Cretino Irresistível" não há cá passados atormentados, nem segredos obscuros. O envolvimento de Choe e Bennet, que não devia passar de uma saudável relação de trabalho,​ ​é pura atracção por parte de dois adultos física e mentalmente estáveis.

Embora ainda só vá nas primeiras linhas de Estranho Irresistível sei que me espera uma história igualmente frontal, escandolosa e hilariante.

Sinopse
UM PLAYBOY CHEIO DE CHARME
UMA JOVEM DETERMINADA A COMEÇAR A VIVER
UMA LIGAÇÃO SECRETA QUE SE REVELA EM TONS DEMASIADO QUENTES

Para esquecer um ex-namorado infiel, a especialista em finanças Sara Dillon muda-se para Nova Iorque, aproveitando uma oportunidade profissional para se afastar das desilusões recentes na sua vida amorosa. O facto de conhecer, numa discoteca, aquele homem irresistivelmente sexy não deveria ter passado de uma noite de diversão. Mas a forma – e a rapidez – com que ele acaba com todas as suas inibições faz com que se revele mais do que uma aventura ocasional: ele torna-se o seu Estranho Irresistível.

Uma novidade

Novidade Editorial Presença :: Alvorada Vermelha

Alvorada Vermelha é o primeiro volume de uma trilogia que tem tudo para conquistar a legião de fãs de Os Jogos da Fome. Uma novidade Editorial Presença para o mês de Março.

Passa-se numa altura em que a humanidade começou a colonizar outros planetas, como Marte. Darrow é um jovem de 19 anos que pertence à casta mais baixa da Sociedade, os Vermelhos, uma comunidade que vive e trabalha no subsolo marciano com a missão de preparar a superfície do planeta para que futuras gerações de humanos possam lá viver. No entanto, em breve Darrow irá descobrir que ele e os seus companheiros foram enganados pelas castas superiores. Inspirado pelo desejo de justiça, Darrow irá sacrificar tudo para se infiltrar na casta dos Dourados... e aniquilá-los! Vingança, guerra e luta pelo poder num romance de estreia empolgante.

Pierce Brown é um jovem escritor norte-americano formado em Economia e Ciências Políticas. Alvorada Vermelha, o seu primeiro romance, foi considerado um dos melhores livros de 2014 pela Amazon e por diversos órgãos de comunicação social. Pierce Brown foi eleito o Melhor Estreante pelos leitores do Goodreads. Os direitos de Alvorada Vermelha já foram vendidos para vinte e três países.

Para mais informações consulte o site
http://www.presenca.pt/pesquisa/coleccao/Via%2BL%25E1ctea/

terça-feira, 17 de março de 2015

A Manhã do Mundo de Pedro Guilherme Moreira :: Opinião


Pedro Guilherme Moreira homenageia as vítimas do 11 de Setembro com este seu "A Manhã do Mundo". No ano em que se celebrou 10 anos do atentado às Torres Gêmeas, o autor lançou um livro que "pensa" essencialmente nas vítimas que se atiraram. É sobre os que saltaram que o leitor irá ler e travar o sufoco desta história.

"Aos heróis que a falta de visão de outros confundiu."

Corria o ano de 2001 quando, em directo, no telejornal e sensivelmente durante a hora de almoço ou de café de muitos portugueses um segundo avião embateu na Torre Sul. Chegámos a julgar tratar-se de um filme ou de filmagens para um... não parecia, aliás não podia ser real!!!
Mas foi! E este ano fará 14 anos que este acontecimento marcou a história de uma cidade, de um país e em larga escala, o mundo!
Foi arrepiante já ter visitado o Ground Zero Memorial e sentir que o medo, a consternação e a angústia ainda ali pairam no ar. Duvido até que aquele local venha a ter outra aura.
Visitámos inclusive a Trinity Church que serviu de base para médicos, bombeiros, voluntários, entre outros ajudassem as vítimas e os testemunhos que por lá foram deixados são impressionantes.

É emocionante este livro, lê-se com um nó na garganta. Sentir que o que se lê é sufocante, claustrofóbico e que o autor conseguiu trazer para a acção, o sentimento trepidante e quase assustador que assolou as vítimas é um excelente exercício de escrita. Há beleza em certos momentos, quando emoção, afecto, amor e amizade preenchem relações, mas há essencialmente medo, surpresa, dor e claro, despedida. O momento em que Thea, Mark, Millard, Alice, Solomon, saltaram. Eles escolheram e saltaram.

Mas como é que a sociedade os vê? Loucos, acreditando na derradeira e estúpida salvação? Cobardes, livrando-se do sofrimento atroz de morrerem sufocados, queimados, esmagados...!?
Como encarar o suicídio? Como a etapa final da liberdade individual?
É essencialmente por aí que este livro começa, mas contêm em si muito mais.

O leitor é completamente levado a entrar nestas vidas que se cruzam porque dividem todos uma grande metrópole, convivem todos em torno de um marco social, económico e cultural da cidade.

De todas as histórias que desfilam nestas páginas, viajei com todas elas, mas mais ainda com Tzufit e Millard e ainda bem que quando a história vira - sim, uma vez que, a meu ver, este livro contêm outro livro dentro - há nesta história um reduto de felicidade e redenção.
Mas todas são tocantes a seu modo e a quantidade de vezes que reporta aos acontecimentos e ao sofrimento infligidos é o que já disse e não tenho outra palavra: sufocante.

"Bater naquilo que não se sabe bem o que é chega a ser um exercício cruel, espécie de planeamento a frio de um assassínio. A bondade é condição da inteligência no que toca à crítica do outro (...)"

Julgo que é neste acto de bondade, aqui literária, que o autor dá uma reviravolta na acção, expiando a culpa e os medos de outros, não só os que saltaram, permitindo-lhes um papel mais directo. Nessa segunda parte do livro, que poderia bem ser um independente, Pedro Moreira, questiona o salto de fé de uns e a condenação de outros, confrontando-os com hipóteses que assentam em universos paralelos. Pode existir quem não vá apreciar, mas julgo que isso é o que menos importa, importa pensar em cada uma destas pessoas e no enredo que se criou em torno delas e colocar um: "e se!?"

"Para voar, é preciso alguma fé. Não se voa pelo mero exercício da razão. E voar, na espécie humana, é um dos actos fundadores. (...) Para voar, apenas com o corpo, sem mecanismos artificiais, é preciso uma matemática própria (...) Há algo dessa precisão na fé."

Já quase no final do livro, surge a história de Z, como surgem muitas outras paralelas. A reflexão do eremita, que do topo da montanha, na excentricidade da sua vida em paz, avaliou o arrepio e a maldade humana é um relato muito lúcido.

Resta-me dizer que gostei bastante. Pedro Moreira tem traço próprio e quando cria um bom enredo vale muito a pena ler um livro dele.
No final, julgo que a mensagem é incentivar ao não esquecimento deste episódio com contornos mundiais e desde cedo nos diz isso mesmo.

"A multidão esquece rapidamente e não quer ser incomodada (...). Há entre os desmemoriados quem finja viver dias felizes, quando a humanidade gira constantemente sobre o vazio das mesmas falhas."


Opinião :: "Incontrolável" de Sylvia Day

Pode uma aposta num casamento de fachada ser a mão vencedora que no final ganha todas as jogadas?


Conhecemos Isabel e Gerard, uma viúva libertina e um solteirão decadente, quando embarcam na decisão mais pragmática e conveniente para ambos, chocando metade da sociedade e incitando a outra metade à crítica e ao falatório.
Um acordo de “cavalheiros” entre dois bons vivants, que apreciam a sua liberdade, o livre árbitro sobre a escolha da companhia na cama mas que acima de tudo desejam evitar as confusões que as paixões e o amor costumam trazer.  Que melhor maneira de evitar esses dramas que casando com alguém que não só pensa como nós como aprecia e entende o estilo de vida que gostamos de ter?
Isabel e Gerard, amigos de confidências e deboche, tornam-se Lord e Lady Grayson, sem nunca partilharem uma cama ou sequer um beijo.  Mas quando o mundo de Gray (Gerard), um sedutor por natureza, é sacudido por um acontecimento trágico, este desaparecer da vida de todos para aparecer mais tarde, mais maduro, uma derradeira tentação. Quem é este estranho que aparecer diante de Pel (Isabel)? Quem é este estranho com quem é casada?
E daí em diante, minha mãe, que tudo muda. Gray transita de um miúdo para um homem decidido, tentador e que pela primeira vez deixa a mulher numa situação constrangedora. Isabel não sabe como é possível mas deseja-o. Que horror desejar o próprio marido!  :)

Ao longo de 325 páginas a autora brinda-nos com personagens que se revelam e amadurecem com o passar das páginas, com diálogo que nos fazem sorrir e cenas íntimas que nos tiram o fôlego.
Sylvia Day, eu curvo-me perante a mestria de tornar um simples romance de época em algo escandalosamente arrebatador, desafiante e belo.

Esta autora já me convenceu com outros livros, quer contemporâneos, quer de época, como é o caso de “Pecado”. Este “Incontrolável” só vem cimentar a sua já sólida presença no meu top de preferências.
Sylvia Day tem uma fórmula de sucesso que eu não sei qual é mas eu fico presa toda a santa vezes às histórias que nos conta.
Ainda mais quando conseguem a proeza de encaixa uma história de outro casal que aparece em 5 cenas e que nos faz adorar ainda mais cada linha que lemos.


nota: só achei que num momento houve ali um comentário demasiado moderno para a época, tirando isso, 5 estrelas Ms Day !

Livros de Sylvia Day publicados pela Quinta Essência

Outros livros de Sylvia Day

Novidade Planeta :: "Sacrifício a Moloc"

Quem conhece a inspectora Rebecka Martinsson?
Desde a leitura de "Quando a tua ira passar" que esta personagem ficou no meu radar. E agora volta à carga com "Sacrifício a Moloc".

Sinopse
Um grupo de caçadores mata um urso nos bosques perto de Kiruna. Quando abrem a barriga do animal, encontram restos humanos entre as vísceras.

Uns meses mais tarde, encontram uma mulher assassinada em sua casa. Agrediram-na brutalmente com uma forquilha e Marcus, o neto de sete anos desapareceu.
Rebecka Martinsson, que no princípio foi destacada para a investigação é retirada do caso.
Mas há poucas coisas que causem mais indignação que a violência contra uma criança, e Rebecka fica obcecada com o desaparecimento do menino.
Por sua conta e risco começa a indagar o assassino da mulher: a morte parece perseguir esta família, e Rebecka não está disposta a permitir que o seu último membro tenha o mesmo destino.

Conhecem os restante títulos da série Rebecka Martisson?

Asa Larsson é uma aposta

Novidades Presença :: "Não Sou Esse Tipo de Miúda"

Lena Dunham, a aclamada criadora, produtora e protagonista da série GIRLS, surpreende-nos com um divertidíssimo, sábio e sincero conjunto de reflexões pessoais que a convertem numa das mais talentosas jovens escritoras da atualidade. Em Não Sou Esse Tipo de Miúda, a autora aborda as experiências típicas de quem está a entrar na vida adulta: apaixonar-se, sentir-se só, pesar cinco quilos a mais não obstante só ingerir alimentos saudáveis, ter que falar numa sala repleta de homens com o dobro da sua idade ou encontrar o amor verdadeiro. Uma obra criativa e inteligente, que capta de forma notável a comédia que tantas vezes se esconde nos acontecimentos mais comuns do dia a dia.

Não Sou Esse Tipo de Miúda tornou-se um bestseller e foi considerado um dos melhores livros do ano pelas publicações The New York Times, Globe and Mail, Library Journal e Buzzfeed. Tem direitos vendidos para 26 países.
A acompanha Lena temos Joana Avillez, uma ilustradora de talento reconhecido. Os seus trabalhos aparecem regularmente em publicações como The New York Times, New York Magazine e The Wall Street Journal.

Data de lançamento: 18 de Março

Quem segue a série GIRLS?
Curiosos com o livro de Lena?

Uma novidade

segunda-feira, 16 de março de 2015

Opinião :: "Tudo o que poderiámos ter sido tu e eu se não fôssemos tu e eu"

Sabem aqueles livros que à primeira vista até nem ligamos muito mas que depois nos apanham completamente desprevenidas? 


Este livro apanhou-me na curva, pegou em mim ao colo, correu por uma qualquer rua de Madrid comigo aos trambolhões, sem ter a mínima noção do caminho e depois largou-me numa praça, onde fiquei estatelada no chão a contemplar o céu, tal foi a estupidificação boa que se abateu sobre mim quando terminei a leitura.
Wow!

Pensar que tive este livro no radar de leitura durante tanto tempo com as perspectivas completamente erradas. Nunca pensei que ajustar as minhas ideias pré-concebidas sobre um livro me desse tanto gosto, mesmo quando confrontada com alguns momentos estranhos que vivi ao longo da leitura.
Pior que tudo, e como me acontece sempre, os livros que mais me agradam e mais mexem comigo são igualmente aqueles sobre os quais não faço ideia o que dizer. O que posso dizer de um livro que não anuncia nem metade daquilo que tem para oferecer? Melhor, o que dizer de um livro em que nos fartámos de dobrar cantos? Mais que frases, são momentos, são vislumbres de uma personagem que nem está presente no livro mas do qual ouvimos ensinamentos que nos fazem concordar com um subtil aceno de cabeça, um “concordo plenamente!”


Se tiverem oportunidade de ler “Tudo o que poderíamos ser tu e eu se não fôssemos tu e eu”, façam-no num local que vos permita parar para pensar, para ter um momento em privado com os vossos pensamentos, especialmente no final. Quando terminei o livro, fiquei pendurada naquela última frase. Senti que mergulhei num momento de introspecção, logo seguido de uma derradeira vontade de reler o livro.
Aqui entre nós, aproveitem um dia de sol para ler este livro e ao terminá-lo, contemplem o céu e pensem no quanto somos apenas um pequeno ponto no infinito mas que nem por isso devemos deixar de fazer os possíveis para tornar a nossa passagem por esta vida algo de transcendente. 

Sabe bem ler um livro assim !