Fernanda Torres, actriz brasileira conceituada, chega agora ao mundo da ficção com um romance quase em tom de crónica onde, homem a homem, vai dando a conhecer a vida de cinco amigos cariocas, revelando os devaneios próprios da segunda infância, mas também as memórias de uma vida vivida, tanto em grupo como em momentos solitários, relatados pelas várias vozes que assume em cada capítulo. Porém, a loucura das memórias que saltam a todo o momento de época em época e de episódio caricato em outro mais caricato surgem interligadas, meio puzzle, mas não criam barafunda na cabeça do leitor, antes pelo contrário, unem todos os pontos que ora se soltam para páginas a seguir se ligarem.
É impossível passar ao lado deste texto sem lhe atribuir a sonoridade brasileira que ele tem, acreditem quando digo que o texto ressoa na nossa cabeça em brasileiro e é impossível de outra forma, somos até levados a ler parágrafos em voz alta e a tentarmos o sotaque, porque de resto está tudo lá, as expressões cariocas, o vocabulário que nos faz ir procurar um ou outro significado, mas tudo isso são experiências que o livro nos leva a fazer. Nada disso tem peso de «FIM», mas sim de começo, princípio de uma relação de proximidade, que se quer cada vez maior, entre as "duas" línguas portuguesas.
Vamos rindo à gargalhada com os tombos dados por Álvaro, Ciro, Sílvio, Ribeiro e Neto, mas também com Ruth, Suzana, Norma, Célia ou Maria Clara e sem esquecer o Padre Graça, todos comentam a vida de todos e todos eles foram sendo parte integrante da vidas uns dos outros, dito assim parece repetitivo, mas os anos vão sendo lembrados com um misto de carinho, mas também de azedo entre alguns, sem nunca esquecer o humor. É o humor e até uma certa ironia que pauta este «FIM».
"Amanhã manda a Ruth me telefonar que eu explico pra ela que um patrimônio que nem você tem que ser dividido com o resto da humanidade."
O livro de Fernanda Torres expõe a velhice de forma cáustica, se a pessoa já tiver predisposição para isso, e alguns deles têm, doce, já que alguns se arrependem e aprendem só no fim da vida a importância daquilo que sempre desprezaram, mas acima de tudo, divertida, mostrando o impacto das memórias, demonstrado o quanto construir memórias com pessoas é importante. No enredo não falta alguma crítica, bem como elogios, mas a ideia que prevalece é: dê valor, que morrer, morremos todos!
Um leitura com o apoio Companhia das Letras.
Entrevista no Público à autora: http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/fim-e-vida-1690024
Oiça aqui um trecho do livro: https://www.youtube.com/watch?v=zH6d08uS4AE
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