Coisinhas: osso de borboleta pedras
com que as lavadeiras usam o rio.
Manoel de Barros
Em mais uma estreia com um autor português, desta vez, Rui Cardoso Martins (RCM), num romance que também é uma viagem. Sempre na mira do interior, do intrínseco, do que nos completa e nos define. Na busca individual, "O osso da borboleta"mantêm sempre o foco na possibilidade de pertencermos a um todo. A questão que fica talvez seja, a qual? Qual todo nos une e que partículas nos separam!?
"O conhecimento humano tendo, por definição, para o infinito, até uma coisa falsa ou um disparate que acabámos de inventar é conhecimento à sua maneira. Sabemos lá se um dia não é verdade."
Para mim, é por essas partilhas que a história avança, num relato de solidão e alguma demência onde se confundem os dias, as pessoas, as ruas da cidades, as vozes que se escutam e as vozes, que na cabeça, se perdem em devaneios e ideias, meios desconexas...
"A campa do cemitério não tem toalha nem pano
é uma mesa sagrada posta todo o ano."
O desconexo que vai dando lugar a toda uma lógica, a todos os fios de uma mesma ideia, que se enredam e se separam, mas que por fim se unem e dão todo o sentido a algo que inicialmente começou fragmentado.
A vida, em todas as suas fases, tem lugar neste livro, seja entre os devaneios de quem se esconde seja nos movimentos já lentos mas calculados de Purificação.
"O movimento mais certo do mundo é o remoinho, às vezes só nos resta nadar para longe com todas as forças."
Assim é a difícil tarefa, de sequer tentar, resumir ou salientar do que trata este último romance de RCM, neste seu frágil, mas completo "O osso da borboleta".
"Também as pessoas são bactérias na pele de Deus, que nem dá por nós..."
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