Uma mãe jovem em dificuldades financeiras, um miúdo perspicaz, um cinquentão benevolente e recém divorciado, um médico deprimido e viúvo, todos a caminho de uma casa de praia na Bretanha. Podia ser a combinação para algo tenebroso mas é o grupo que protagoniza um dos livros mais tocantes que li nos últimos tempos, tanto que tive de parar a meio para não chorar (especialmente porque estava numa praia cheia de gente a um domingo de manhã).
Conhecemos Julie à caixa de um supermercado onde trabalha para poder (sobre)viver com o seu filho de três anos Lulu (Ludovic é um nome bem giro!). Cansada e desgostosa com o rumo da sua vida e com o trabalho sem interesse, os dias são cinzentos à excepção dos momentos em que passa com o seu filho.
Mas dias luminosos aproximam-se quando, num acto de compaixão e pura empatia, Paul, um cinquentão recém divorciado e cliente do supermercado mete conversa com Julie. De uma olá a uma refeição, de uma conversa ao convite um pouco ortodoxo que incita Julie e o filho para o acompanhar de férias para a Bretanha, a ligação entre estes dois recém conhecidos evolui de uma maneira especial e nada amorosa, o que foi um alívio ao longo da leitura.
Um convite arriscado? Desafiante? A melhor decisão da sua vida? A pior?
Quem sabe?
Num espírito "arrepende-te do que fazes e não do que podias ter feito e não fizeste" Julie parte em direcção à Bretanha com Lulu, Paul e o filho deste, Jêrome, um homem que a vida recentemente magoou e que não vê nesta nova companhia nada de bom. Mas o tempo, e algumas pessoas, surpreendem-nos!
Ao longo de "Mesmo antes da felicidade" os dias vão-se descascando, assim como as pessoas e as cebolas. Julie revela uma inteligência desperdiçada numa caixa de supermercado, Paul torna-se um genuíno pilar de apoio e dedicação, Jêrome vê a luz voltar a entrar na sua vida depois de um período muito negro e Lulu, na sua ingenuidade de criança, vive na perfeição estas férias junto ao mar.
E depois, preparem os lenços!
Uma caixa inteira, sff.
Podia falar do que se passa, podia transcrever aqui cenas, diálogos, pensamentos que me tocaram mas pela quantidade de cantos dobrados, transcreveria um terço do livro.
Gostei da história à mesma medida em que sofri com ela e com as personagens.
A história é real, é linda, é...
"Mesmo antes da felicidade" é... como colocar isto por palavras que fiquem a perceber a minha opinião?
Sabem aqueles livros em que entramos com cautela por saber que algures nos vai fazer chorar mas onde lentamente começamos a relaxar, a baixar a guarda para depois depois sermos apanhados completamente desprevenidos pela crueldade da vida?
Pois, "Mesmo antes da felicidade" é assim mas é lindo porque acima de tudo faz-nos perceber que quer para os momentos maus, quer para os bons a capacidade para superar tudo é uma magnífica combinação de força interior e do apoio que as pessoas que nos rodeiam e amam nos dão.
Um livro que vão querer ler, emprestar a amigos e familiares. O tipo de livro que no final irás perguntar "é lindo, não é?" e a outra pessoa irá dizer sim, a sorrir mas com os olhos vermelhos de tanta emoção contida 293 páginas.
está na minha lista
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