Se vos restasse apenas uma hora para viver, viveriam-na a ler?
Não!?
Coincidência ou não, o autor concebeu um texto que é ao mesmo tempo uma reflexão mas também um relato inspirador sobre as coisas importantes da vida...
mas que se lê numa hora. Curioso?
Nascido em 1949, Pol Droit dedica este livro à neta, mas será este um registo pessoal? A narrativa na primeira pessoa deixam a pensar numa reflexão do seu percurso talvez necessária para corrigir o curso da vida, realinhar pensamentos e reposicionar prioridades? Logo perto do início, perante a ideia de morte, diz-nos "adeus vida, bom dia mistérios."
Será a morte uma sedutora caixa de mistérios que uns têm mais curiosidade de abrir que outros?
Pol Droit tem a certa parte deste curto percurso uma reflexão chave, já que eu olhei a este livro como uma reflexão para a vida de um escritor. Pensei no impacto daquilo que se deixa, daquilo que se transmitiu e que passa para o próximo. O escritor tem a palavra escrita e isso fica sempre.
"Que irreprimível necessidade leva os seres humanos a inventarem ficções para se aproximarem da realidade?"
Não bastaria a vida para nos fazer viver a realidade?
Será a ficção uma boa forma de viver a vida e se sim, será igualmente uma boa forma de experimentar a morte?
"fazem-me rir, os filósofos, com esse velho projecto absurdo de «aprender a morrer» como se fosse possível aprender aquilo que não se repete."
No pronuncio da morte anunciada chega a vontade de viver tudo o que até ali se evitou ou aquilo a que nos proibimos, acaba-se a tolerância, a prudência, os recalcamentos ou os medos, afinal a morte tem hora marcada.
"por que não explodir numa primeira e última pedrada inverosímil, resultado de todo os pós brancos, de todos os cogumelos, de todos os êxtases químicos possíveis..."
Apesar da explosão inicial, penso que o livro tem duas partes, inicialmente o choque e posteriormente aceitar que precisamos de cultivar outras coisas para que tenhamos uma vida mais real, mais consciente.
Na última hora ocuparemos a cabeça com que preocupações, com que frustrações ou ressentimentos? Ou pensaremos a felicidade fragmentada que pulsou ao ritmo dos acontecimentos e agora ao sabor das melhores memórias. Em que pensar? Que filtro aplicaríamos, se conseguíssemos, para só ter ideias que garantiam a melhor hora. Seria possível?
Julgo que perante a ideia de anúncio tão bizarro como o de saber a hora da morte a minha cabeça devia virar ainda mais anarca do que já o é ;))) Seria capaz de quebrar com a linha intermitente e obsessiva de querer compreender tudo? Talvez me preocupasse em eternizar momentos, se é que se levam alguns...
Talvez gostasse numa última hora abandonar-me simplesmente à alegria de sentir, sem ambição de compreender e evitar a angustia de não ter feito, lido, ouvido, visitado, amado... tudo o que havia por fazer.
Se inicialmente vamos pensando no lado mais pessoal do autor e daquilo que nos escreve, é inevitável não reflectirmos sobre nós próprios.
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Durante a leitura desta livro apercebi-me da existência do Projecto 2114, The Future Library, de Katie Paterson, que podem ler aqui no P3 ou no Blog Sentido dos Livros.
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Uma leitura com o apoio PLANETA.
A opinião da metade colorida aqui também no blogue.
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