Quando comecei a ler A Modista pensei que estava perante um caso de patinho feio volta à cidade no meio de nenhures onde em criança foi ridicularizada para se tornar no alvo de inveja das mulheres e de cobiça pelos homens que no seu passado lhe fizeram a vida negra, isto tudo sob o sol abrasador do interior da Austrália e com direito a um desfile de alta costura parisiense pelos caminhos de terras vermelhas de Dungatar.
Mas rapidamente, quer com o regresso dissimulado de Tilly, a nossa modista de má fama, à cidade que a viu nascer e que a expulsou depois de um evento terrível, até à apresentação quase porta a porta da rua central de Dungatar pelas especificidades e mexericos pessoais de cada habitante percebi, já lá para meio do livro, que este não é um simples caso de cheguei, vi e venci.
Numa pequena localidade fechada, especialmente no que toca a muitas mentalidades, o enredo de A Modista supera a simples chama da vingança e faz a pequena vila de Dungatar arder com as suas verdadeiras cores, a da intriga, inveja e mais um ou outro pecado capital. Creio que ao longo da história temos mesmo um desfile, não só de modelitos e boas descrições visuais, mas de pecados e falsas virtudes.
Os habitantes de Dungatar são tudo menos inocentes e os poucos que se salvam acabam por não ter salvação na mesma.
Mas e Tilly? Haverá salvação para ela no deserto que é Dungatar? Ou será a vila que precisa de repensar o seu caminho e tratar de não cavar um buraco ainda mais fundo do que aquele em que já se encontra?
Para mim, A Modista foi uma agradável surpresa não obstante a lentidão com que ando a ler no último mês.
No entanto, a leitura deste livro não deve ser levada de ânimo leve e engana-se quem vai à procura de um romance cheio de rendas e folharecos. Os contornos da nossa modista não ficam pela breve comédia que possamos ter apanhado no trailer do filme que estreia hoje (dia 3 de Dezembro) e cujo projecto esteve na gaveta 15 anos antes de ver as luzes da ribalta.
"A Modista" tem contornos de escárnio e maldizer, de ironia e justiça poética.
Com personagens tão ou ainda mais espectaculares e complexas que Tilly, Dungatar está repleta de crítica social que é tão verdadeira hoje como na época que retrata, os anos 50.
Uma leitura diferente que aconselho a todos que queiram ver o filme não sem antes mergulharem bem fundo no modelito que se cose com as linhas dos piores pecados capitais.
Mal posso esperar por ver o filme. Adoro a Kate e acho que ela dará a vida que falta em alguns momentos a Tilly.
Tenho de levar é um conjunto completamente diferente de expectativas quando for ver o filme que só pelo trailer se afasta alguns bons passos da origem.
Deixo-vos o trailer e a minha vontade de ir a correr para a próxima sessão
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