«O Diário secreto de Laura Palmer» de Jennifer Lynch - Opinião

«O Diário secreto de Laura Palmer» 

ou o início de um novo vício. Será?

*

"(...)

Não há lágrimas

Nem choro

E eu sou envolvida

Por um pesadelo de mãos

E de dedos

E por pequeninas vozes da floresta.

Tão errada

Tão bela

Tão má

Tão Laura."

Twin Peaks é um fenómeno do qual estive sempre à parte. No entanto, o furor em torno da nova série e tudo o que se tem dito sobre a crianção de David Lynch e o quanto este livro foi mediático na época em que saiu, fez-me pensar que poderia ser agora o tempo certo para agarrar este culto. Pelo livro não fiquei convencida, mas talvez me falte o mistério lançado pela série inicial que dizem dar todo o sentido àquilo que o diário revela. Será!? A ver vamos. 

"Estou encurralada dentro de uma parte de mim que odeio. Uma parte rígida e masculina de mim que veio à superfície para lutar, após pequenas recordações e cicatrizes saírem do meu íntimo com uma rapidez tão racional quanto assustadora, e luto para salvar a Laura que desejo poder voltar a ser. Aquela que todos julgam que ainda existe. Eu, com um vestido leve, cabelo ao vento e um sorriso estampado no rosto devido ao medo terrível de que esta noite um homem venha visitar-me a qualquer momento e tente matar-me."

O diário secreto revela exactamente esse lado secreto, essa outra Laura. A descoberta do sexo como diversão, mas também acto de desespero, bem como o álcool e as drogas e as acções desmedidas que a mesma vai cometendo. O livro acabou por ser um apêndice à série que ficou sem um fim explícito, é assim que leio e é isso que acabamos por também sentir com a leitura do livro. Apesar de ser revelador desse outro lado de Laura Palmer, nunca percebemos muito bem quem a visita e se é que a visita algum homem. Bem como o lado misterioso e obscuro da floresta que a acompanha em muitos momentos, inclusive na sua poesia.

Ouvindo a floresta

Acho que as árvores têm alma

Alma que cresce e muda

No silêncio de cada folha

A memória de momentos que ninguém viu

E nenhum homem jamais ouviu

(...)

Talvez tenham tentado sussurrar

Na palma da mão de alguém

Que se lembram da menina

Que dentro dela há um vazio

(...)

Mas ninguém as ouve ou se importa

Que talvez

As árvores saibam

Que há algo de muito errado

Que quer falar da tristeza

Vista durante tantas noites

(...)

A imagem com que ficamos é de uma rapariga destroçada, meio vazia e em busca de um sentido para os dias em que apenas procura ficar insensível e ausente. 

Uma leitura com o apoio SUMA DE LETRAS