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segunda-feira, 26 de junho de 2017

Opinião "A Química dos Nossos Corações"

Há feridas que uma vez abertas nunca se conseguem sarar. E a frecha que a existência de Grace criou no mundo de Henry é tão profunda que não há tempo nem costuras de ouro capazes de remendar.


Confesso que a minha reacção, ao terminar a leitura, foi enroscar-me numa bola na cama. Sabem aqueles momentos imediatamente ao acordar ou quando o sono teima não aparecer em que ficam muito quietos a fitar o vazio e a divagar nos vossos pensamentos?
Não?...pois eu tenho muitos momentos desses e "A Química dos nossos corações" tornou-se num desses momento ao dar por terminada a história de Henry, embora Grace tenha muito mais potencial que ele para ser "a pessoa" desta história.

Conhecemos Henry no último ano de liceu. Com um peculiar amigo que usa o sotaque australiano como arma de sedução e uma amiga que se assumiu lésbica após o primeiro beijo (com ele), Henry vive confortavelmente o seu último ano no liceu, de preferência longe de dramas adolescentes e com o foco no seu projecto bebé, o jornal escolar do qual será editor neste ano.
Mas se agora é o momento em que digo que a sua vida mudou no momento em que Grace Town, a miúda nova, entrou na escola e ele se apaixonou.....ahhh estamos muito enganados.

Grace não é a miúda que chame a atenção pelos melhores motivos. Com um ar arrapazado, maltrapilha e até um pouco encardido, Grace desloca-se na sua aura de mistério e com ajuda da sua bengala mas não grita "olhem para mim, mulher fatal, venerem o caminho que eu piso", antes pelo contrário, ela é mais um espectro que deambula pelo dias. No entanto, não é por isso que com o tempo o radar de Henry deixa de a apanhar. A poesia, a música, a montanha russa de humores, os segredos, o humor do dias bons, a distância dos maus...nada parece afastar Henry.
É ao descortinar um pouco do potencial bombástico de Grace que Henry começa a pouco e pouco a cair na armadilha do amar um mistério.
Isso nunca traz nada de bom Henry! NUNCA!
E as lições que tiramos daí....São infinitas. Sim, infinitamente dolorosas 😐

Como falar deste livro sem dizer algo que coloque em evidência o sentido da história ou as lições que daqui advêm? 

"Rapariga certa, altura errada, pensei, mesmo que soubesse que isso era um logro, porque a Grace nunca poderia ser a rapariga certa. Mas caramba, continua a desejá-la tanto"
"Os humanos não pode ser concertados com veios de ouro"

Há três tipos de amores que sempre conquistaram a minha atenção, são eles os primeiros, os perdidos e os desencontrados. Mas se não se esquece o primeiro amor, o que dizer de um primeiro amor que se viveu e perdeu?

"A Química dos Nossos Corações" é mais um calduço na minha cabeça adulta, um lembrete da minha juventude literária desperdiçada, uma chapada na cara de todas as lições que os livros me podiam ter dado se eu tivesse feito deles uma paixão aos 16 e não aos 26.
Por isso quando me perguntam "porque raio lês livros juvenis/YA/new adult?" eu digo que as historias são interessantes, ou que secretamente estou preencher as estantes da adolescência do meu filho mas na realidade estou a dar sentido a pensamentos e sentimentos que o meu eu adolescente teve e que por alguma razão ainda se encontram encerrados em mim, parte integrante da pessoa que sou hoje. Porque se deixamos morrer o passado e esquecemos o que vivemos para trás, acabamos por perder parte de nós e do que a química dos nossos corações se alimenta.

Espero realmente que os rumores que falam da adaptação deste livro sejam verdadeiros.

E porque o nome original do livro me lembrou uma banda da adolescência, hoje a música não tem a ver com o livro :P my bad!

Uma novidade

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