O «Estoril, um romance de guerra» no Livro do dia TSF
Entramos neste livro, recheado de episódios verdadeiros,que fizeram parte da História da Segunda Grande Guerra e tornaram o Hotel Palácio num dos refúgios da Europa, pela mão de Gabi, uma criança de dez anos que chega sozinha ao Hotel Palácio e ali ficará à espera dos seus pais.
O destino de Gabi foi como o de tantos outros que se refugiram neste cantinho idílico e mais seguro, fugindo às perseguições da Guerra e aos possíveis desfechos mais violentos. Apesar de seguro, não era um ambiente isento de ameaças e a prova disso eram os inúmeros espiões e este livros trá-los para dentro do enredos, cruzando a espionagem com as particularidades de cada história.
"O rapaz não gostou da resposta por esta ser pouco lógica.
- Estás a exagerar. O que há de insuportável aqui? Isto é um lugar bonito.
- É um lugar lindíssimo. Parece-me uma espécie de paraíso, claro e triste. Quando vejo estas pessoas, não sinto indignação, nem ironia, mas uma vaga angústia, a mesma que nos assalta num jardim zoológico perante os sobreviventes de uma espécie em extinção. Vestem-se para jantar como noutros tempos. (...) Esforçam-se por experimentar a esperança, o desespero, o medo, a inveja e a satisfação. Tal como seres vivos. É irreal. Lembra um verdadeiro baile de fantoches, mas é triste."
Em tempos conturbados como os actuais, importa reforçar e relembrar a posição de muitos refugiados e aqui neste «Estoril» encontramos refugiados e exilados, nazis e aliados, judeus e cristãos. Ou seja, tanto as vítimas como os carrascos pautam os episódios que Stankovic escolheu.
"- O mérito não é meu. Isso é de família. Um envelhece como uma catedral, outro como um chinelo, mas na velhice não é fácil nem para um nem para outro. (...)"
A forma como vamos acompanhando Gabi e as suas amizades e a forma meio inocente como o pequeno se vai criando e formulando as suas ideias é, a meu ver, a parte mais interessante do livro e a ligação ao livro «O principezinho» está bastante bem misturada com os factos que lhe são narrados e que fogem à sua compreensão.
Os momentos de tensão são equilibrados com os períodos mais documentais e os diálogos ajudam a amenizar o clima do exílio. Cabe realmente ao leitor decidir se lê este livro como um romance meramente ficcionado ou se tem curiosidade por ir descobrir todos os detalhes verdadeiros. De uma forma ou de outra julgo que é um livro capaz de agradar a muitos leitores.
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Dejan Tiago-Stankovic viu o seu romance premiado na Sérvia, país onde nasceu e para onde tem levado alguns dos autores portugueses, fruto do seu trabalho de tradução e o mesmo tem feito com autores sérvios, traduzindo-os cá.
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Book Builders / Letras Errantes, Lda
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