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sexta-feira, 20 de julho de 2018

«O Hipnotista» - Lars Kepler :: Opinião


Publicado em 2010 pela Porto Editora, «O Hipnotista» inicia a saga do detective Joona Linna pela mão da dupla Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril, o casal por detrás do muito aclamado pseudónimo: Lars Kepler.
Aquando da publicação do último volume, «O Caçador», cujo a sinopse me cativou bastante, decidi-me a começar esta longa saga e ficar a conhecer esta dupla, donos de enredos psicológicos e sangrentos. 

«O Hipnotista» parte do mito grego, do deus Hipnos, cujo o nome significa «sono». Hipnos é irmão gémeo da morte e filho da noite da escuridão. Mas indica também que a hipnose remonta à medicina com a data de 1843, como um estado próximo do sono e, ao mesmo tempo, de extrema atenção e grande recetividade. 
Será com esta ambivalência que o leitor se depara durante todo o livro até perceber os motivos do crime inicial e de outros que são descobertos mais tarde. 

Também hipnotizado, o leitor segue com Erik Maria Bark, no frio anestesiante de uma noite nevada e desde logo se percebe que o hipnotista irá ceder e quebrar a promessa. Uma família foi violentamente assassinada, esquartejados, corpos despedaçados pela casa fora, uma carnificina digna de ajustes de contas entre cartéis de droga. 
Bark aceita a sugestão de Daniela e voltará a hipnotizar, mas com resultados que poderão entrar em conflito com o desenrolar da investigação a cargo de Joona Linna, ou pelo menos ele assim decide. Teimoso e persistente, Linna persegue uma investigação de contornos alucinantes, nomeadamente o rapaz que, vítima de inúmeras facadas, se encontrava vivo, contrariamente ao que era suposto.

"O comissário pensa na palavra sueca para «autópsia», obduktion, que vem do latim e que significa, originalmente, «cobrir, ocultar, envolver», quando, na realidade, o que se faz durante esse processo é precisamente o contrário."

Tal como numa investigação, recorra ela a um passado recente ou a um já bem enterrado.
O passado, tão útil a ocultar dramas, mas não a sarar feridas; vive precisamente disso: cobrir, ocultar, envolver e, influenciar o presente. Especialmente quando ocorre o rapto de Benjamin, filho de Erik Bark. É por certo o passado a persegui-lo!

"«O passado não está morto. O passado nem sequer passou», citando o escritor William Faulkner, referia-me a que cada pequena coisa que acontece a um ser humano o acompanha até ao presente. Todas as vivências influenciam (...) tratando-se de experiências traumáticas, o passado passa a ocupar todo o espaço do presente."

É precisamente dessas experiências traumáticas que a dupla Kepler se alimenta para tecer um thriller psicológico intenso e viciante, fazendo o leitor querer logo pegar no volume seguinte: «O Executor» de tão boa que é esta estreia.

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