«O Poder» parte do pressuposto de inversão do poder institucionalizado, ou seja, a transferência do poder dos homens para as mulheres. Mas não só. As mulheres têm uma energia electrizante, capaz de alterar o significado mais alargado que atribuímos ao poder. «O Poder» que aqui lhes brota das mãos, talvez metáfora para a forma como Jesus fazia milagres, é uma força extrema capaz de torturar, invocando uma dor excruciante capaz de levar à morte.
Esta força devastadora, como todas as forças, abre possibilidades para os seus detentores, que abençoados por esse poder podem praticar o bem e atribuir papeis mais justos ou decidir-se pelo mal e provocar uma reviravolta total na natureza das coisas. E é precisamente essa reviravolta e inversão que é o mote do livro. O poder total está do lado feminino e também anos de revolta e desigualdade, resta saber se o Mal, antes de erradicar a desigualdade, irá antes provocar um certo caos e violência, às vezes necessárias para despertar mentalidades.
"A forma do poder é sempre a mesma; tem a forma de uma árvore. Das raízes às pontas, o tronco central ramificando-se e voltando a ramificar-se, alastrando sempre com dedos cada vez mais finos e exploradores."
A forma como esta distopia é desenvolvida e o recurso que faz a algumas imagens, levou-me a pensar em outros livros. Acho-o inseparável do «A história de uma serva» de Margaret Atwood (os traidores de género ou os homens necessitarem de uma guardiã feminina), quase um livro-resposta, vingando a submissão a que as mulheres são expostas como servas. Mas o lado que remete ao ancestral, à origem de certas gravuras que vão sendo reveladas, fez-me pensar em «A Fenda» de Doris Lessing, livro esse cheio de feminismo e de como as mulheres devem ter sempre papeis decisivos.
Claro que todo o enredo é uma típica luta entre o Bem e o Mal e o livro assume essa luta de forma muito actual e cinematográfica recorrendo para isso a personagens bastante jovens e de diferentes meios sociais. Facilmente conquistará uma adaptação para série televisiva. No entanto e talvez pelo tom juvenil ou por estar constantemente a ligá-lo a outras referências tive dificuldade em apreciar a leitura e em acabá-lo. As gravuras e o lado de possibilidade histórica tribal captaram a minha atenção, mas o enredo em si não. Deverá ser um livro bastante interessante e desafiante para ser lido pelos mais jovens e até em contexto escolar.
Achei muito interessante.
ResponderEliminarVou procurar ler.
Bjins
CatiahoAlc.