"Alguém com uma vingança nunca está só."
Há um "não sei o quê" que me puxa para os livros de Alexandra Lucas Coelho (ALC) que eu não sei o que é, mas que me leva a entrar neles adentro e só sair quando atinjo o fim.
Encontro sempre personagens que têm um traço meu, neste claramente é a linguagem desbragada, como muitos me acusam de ter. A narradora consegue ser fulminante com alguns comentários e pensamentos tóxicos, no entanto, o tom que o romance leva, que se esforço por não querer parecer sério, faz-nos cingir essa linguagem à revolta e à fúria que aquela mulher sente e então passa a fazer sentido.
"Lá fui para a Bobadela à hora a que já estaria no centro de Lisboa a nadar, apurando a cada braçada o sofrimento mais adequado a um filha da puta criativo. Roda? Garrote? Esmagamento por pata de elefante? A vingança é muito subestimada até se manifestar (...)"
Neste "O meu amante de domingo" há uma mulher esmagada pela solidão imposta pelo árido Alentejo, sufocando-a num espaço aberto mas exíguo delimitado por um muro. E isso pode, e deve ser, metáfora para tanta coisa seja na vida desta personagem, seja nas vidas que lhe quisermos juntar. Isto para dizer que sinto sempre os livros de ALC como tratados sociológicos cheios de detalhes reais, mas que fogem para um campo surrealista pela riqueza com que a autora divaga e cruza referências. Aqui, a cabeça do autor viaja entre defuntos, vinganças, memórias póstumas e sexo sem compromisso entre viagens a Lisboa.
"Porque confiei naquele cabrão? (...)
O decapitador dará a mão ao filho depois dos trabalhos do dia, talvez até lhe ensine como é isto de cortar cabeças, talvez lhe cante uma canção. Amor total e ausência de amor são quartos contíguos da mesma casa."
Todo o livros está pejado de referências, Machado de Assis, Nelson Rodrigues, entre outras que não Literatura, ainda assim, vemos que o foco central é a revolta de uma mulher que busca no sexo ocasional uma ligação para compreender que é no sexo que tudo conflui: nada nos aproxima tanto, título de um dos capítulos, resumo bem essa ideia. Sexo, paixão, revolta, vingança, geram e são emoções associadas a tantas outras: solidão, desconexão, fracasso, entrega, medo... Tal como a paixão, o sexo ou a amizade.
"Toda a paixão é um ataque ao sistema imunitário. Se precisamos dela para viver, mais precisamos que ela acalme, ou seja, acabe, para continuarmos vivos."
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