«Garra» pode ser sobre a mulher que foi à boleia, subiu uma montanha, mas desceu ao fundo de si mesma e engolida pelo chão encontrou mais mulheres lá em baixo, tantas delas na escuridão que mesmo vestidas com o fato da vergonha, descobriram que partilhar aligeira o espartilho que a todas sufoca já que todas falavam mulher, antes ainda de terem um nome ou um destino. No entanto, não falará dos flagelos mais gritantes ou até dos grotescos que assombram milhares de mulheres pelo mundo fora.
É certo que importa muito a singularidade do caminho, relatando a experiência feminina, conseguindo seguidores para a causa feminista, mas mesmo que essa experiência seja peculiar e até alucinada na forma de contar, como Cecelia Ahern encontrou para relatar estas histórias, como aquela que ficava na prateleira enquanto era alimentada por um pato ou tantas outras que semeavam plantios inteiros de dúvidas ou outras que devolviam e trocavam de maridos, para aceitarem a necessidade de tolerar e viver nos sapatos do outros. Mas o que se precisam é de mais pessoas a se colocarem no lugar de tantas outras mulheres que são limitadas, discriminadas, humilhadas, violentadas e silenciadas, só por serem mulheres. Essa realidade mais negra teimou em não estar nestas garras.
Apesar das histórias que se expandem em tantas áreas da vida e outras tantas metáforas, fica a sensação de vivências que não são necessariamente ou ferozmente femininas. Talvez lhe falte relatos de sobrevivência tipicamente feminina, por exemplo no mundo do trabalho questões tão práticas, mas tão escondidas como a higiene menstrual ou até a própria discriminação associada a essa condição só feminina. Não estranhar a minha repetição de feminina!
Porém há um conto sobre a chegada ao topo de uma montanha que é uma metáfora muito boa para a competição tóxica que existe, desnecessariamente, entre mulheres e que ao mesmo tempo revela falta de conhecimento e investimento individual. É uma boa chamada de atenção.
Existe ainda, uma sensibilização ligeira para a igualdade pelo caminho da empatia, conhecimento e partilha que são precisos de ambos os lados, seja no diálogo de mulher para mulher, sejam entre homens ou como é óbvio entre homens e mulheres, sem que esteja em causa que um lado saia vencedor, pois se superarmos os constrangimentos, a união criará uma mistura astuta e elevada da qual o todo sairá beneficiado, seja o todo de apenas uma e cada mulher, um núcleo familiar, um ambiente empresarial ou um grupo de amigas. No entanto, não é um livro para abanar estruturas, chocando-as com as desigualdades gritantes e violentas que afectam a maior parte da Humanidade, num flagelo que persiste ao longos dos séculos.
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