A leitura é uma viagem por palavras nacionais, estrangeiras, umas cultas, outras menos, umas mais rebuscadas, outras simplificadas, algumas levam-nos às lágrimas, muitas delas às gargalhadas e as melhores, aquelas que nos deixam abismadas, tamanha é a profundeza da ideia, da genuinidade expositiva, onde a simples contemplação daquelas palavras nos deixa assim: sob o Efeito dos Livros!
Páginas
quinta-feira, 26 de agosto de 2021
"A segunda vida de Olive Kitteridge" de Elizabeth Strout :: Opinião
segunda-feira, 2 de agosto de 2021
"A biblioteca de Paris" de Janet Skeslien Charles - Opinião
"A devoradora de pecados" de Megan Campisi :: Opinião
«A minha irmã é uma serial killer» de Oyinkan Braithwaite - Opinião
E eu que tivera esperança de nunca mais ouvir estas palavras..."
O livro sensação «A minha irmã é uma serial killer» (Quetzal, 2021) de Oyinkan Braithwaite é um livro por camadas ou até mesmo um livro puzzle que se monta por irmos interpretando essas camadas. A irmandade entre Korede e Ayoola vai-se intensificando à medida que a narradora (Korede) desmistifica, por pequenas brechas, acontecimentos do passado e por aí se compreende as margens para onde ambas as irmãs desabrocham. Opostas, mas completando-se (como quase sempre, diria eu!) e são fruto do tratamento dado pelos pais e a forma como a família as caracteriza pela aparência e respectivos actos, desde muito cedo e por aí as condiciona ou enaltece. Sem esquecer que as tradições e a forte presença paternal determina em muito a união que as mobiliza e lhes justifica os actos.
"Pergunto-me onde é que ela guardará a faca. Nunca a vi, a não ser naqueles instantes em que estou a olhar para o corpo ensanguentado (...) Não sei porquê, mas não consigo imaginar a Ayoola a esfaquear uma pessoa (...). Quem sabe se os objectos não têm as sua próprias intenções secretas? Ou se as intenções colectivas dos seus donos anteriores não continuam a orientar-lhes o propósito?"
A orientar-lhes o propósito, a ambas, está o passado e é talvez isso que alimenta a leitura sôfrega, se bem que a autora consegue-o também pela escrita escorreita e sucinta, agarrando o leitor ao ritmo quase aflitivo com que as irmãs vivem cada episódio. Para além disso, a dinâmica de ambas as personalidades também se desenvolve à velocidade de um thriller.
Korede é determinação, Ayoola é descontração. Uma é reconhecida pela sua beleza, a outra pela inteligência e careira. Uma cozinha, a outra come, uma apaixona-se superficialmente, usufrui e pavoneia-se, até se chatear e matar, a outra vem desinfecta, esconde e oculta cadáveres. Juntas são um binómio interessante para matar sem deixar rasto. Ou não, pois uma tem consciência e a outra não.
Dizer mais pode enviesar leituras, mas não me aguento em acrescentar que por aqui restaram alguns mixed feellings com a forma como termina, mas quem ler e quiser trocar umas ideias, são todas bem vindas.