“A taxa de homicídios na Grécia e baixa. Tão baixa que muita
gente se pergunta, como tal é possível num país em crise, com grande taxa de
desemprego, corrupção e agitação social. A resposta espirituosa é que, em vez
de matarem alguém que odeiam., os Gregos permitem que a vítima continue a viver
na Grécia. Outra é que não temos crime organizado porque não somos capazes de
organização necessária. Mas é claro que temos sangue quente. Temos o crime
passional. E eu sou aquele que é chamado quando há suspeita de o ciúme ser
o motivo por trás de um homicídio. Dizem que consigo cheirar o ciúme.”
Não sabemos se o ciúme tem cheiro, mas sabemos que Nesbo
mete o leitor de nariz bem empinado, olfatando por culpados em cada esquina e
com a cauda num frémito como pás de uma ventoinha.
Para o leitor com faro menos apurado ou sem aspirações para
roubar o lugar ao inspector, o ritmo pode ir buscá-lo à «Black Dog» dos Led
Zepplin e enquanto dá ao pezinho e lê desenfreadamente, cruza os olhos quando os
sons se misturam e já o karaoke vai em «Happier» de Ed Sheeran quando os graves
roçam a tortura emocional, causada pelo ciúme… mas a verdade é que ela está
mais feliz.
Ou parece!
E aqui há muita coisa que parece mas habilmente não é! Por
isso, os Led Zepplin retomam o palco e o riff (que parece) menos harmonioso imita o
batimento descompassado do coração do leitor perante alguns finais. Um coração
que não sabe se martela e insiste como a pedaleira dupla duma bateria que acusa
o ciúme como mote para tudo ou se, tal guitarra se deixa dedilhar e gritar
consoante o tom de cada história.
Jo Nesbo agarra o leitor desde o primeiro conto e a morte
cola-se-lhe à pele, daí em diante, a luta é entre a ansiedade, para afastá-la,
e a atração para ela, como solução para tudo, o que não deixa de ser rebuscado quando
misturado com ciúme, actualidade e justiça.
“O homem do ciúme” é um sortido fino de contos, polvilhados
com um toque de malvadez, especiarias maceradas no ponto certo, humor refinado,
uma pitada de inocentes e uma mão cheia dos culpados do costume, tudo muito bem
embrulhado em dilemas intemporais e um laçarote bem repenicado que aponta o
dedo aos temas actuais.
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