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terça-feira, 18 de julho de 2023

"O homem do ciúme" de Jo Nesbo :: Opinião

 

“A taxa de homicídios na Grécia e baixa. Tão baixa que muita gente se pergunta, como tal é possível num país em crise, com grande taxa de desemprego, corrupção e agitação social. A resposta espirituosa é que, em vez de matarem alguém que odeiam., os Gregos permitem que a vítima continue a viver na Grécia. Outra é que não temos crime organizado porque não somos capazes de organização necessária. Mas é claro que temos sangue quente. Temos o crime passional. E eu sou aquele que é chamado quando há suspeita de o ciúme ser o motivo por trás de um homicídio. Dizem que consigo cheirar o ciúme.”

Não sabemos se o ciúme tem cheiro, mas sabemos que Nesbo mete o leitor de nariz bem empinado, olfatando por culpados em cada esquina e com a cauda num frémito como pás de uma ventoinha.

Para o leitor com faro menos apurado ou sem aspirações para roubar o lugar ao inspector, o ritmo pode ir buscá-lo à «Black Dog» dos Led Zepplin e enquanto dá ao pezinho e lê desenfreadamente, cruza os olhos quando os sons se misturam e já o karaoke vai em «Happier» de Ed Sheeran quando os graves roçam a tortura emocional, causada pelo ciúme… mas a verdade é que ela está mais feliz.

Ou parece!

E aqui há muita coisa que parece mas habilmente não é! Por isso, os Led Zepplin retomam o palco e o riff  (que parece) menos harmonioso imita o batimento descompassado do coração do leitor perante alguns finais. Um coração que não sabe se martela e insiste como a pedaleira dupla duma bateria que acusa o ciúme como mote para tudo ou se, tal guitarra se deixa dedilhar e gritar consoante o tom de cada história.

Jo Nesbo agarra o leitor desde o primeiro conto e a morte cola-se-lhe à pele, daí em diante, a luta é entre a ansiedade, para afastá-la, e a atração para ela, como solução para tudo, o que não deixa de ser rebuscado quando misturado com ciúme, actualidade e justiça.

“O homem do ciúme” é um sortido fino de contos, polvilhados com um toque de malvadez, especiarias maceradas no ponto certo, humor refinado, uma pitada de inocentes e uma mão cheia dos culpados do costume, tudo muito bem embrulhado em dilemas intemporais e um laçarote bem repenicado que aponta o dedo aos temas actuais. 


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