“(…) Mas antes disso, esfreguei as
mãos na terra.
Não teria conseguido se não estivessem
vazias.”
Se oscilarmos
pela poesia de André Tecedeiro, ao sabor dos humores do dia-a-dia, encontramos
sempre algo que nos anime. Ou que nos faça pensar. Não propriamente no sentido
de desarranjar a cabeça. São palavras simples. Assim parecem.
“Cada um lê no poema,
o poema que traz em si.”
No entanto,
em duas linhas e com uma dúzia de palavras tece todo um novelo de ideias que
ajudam a arrumar as do leitor. Pelo menos foi isso que senti. Durante dois
meses, a poesia reunida de Tecedeiro foi o meu livro de cabeceira, as suas
palavras ressoaram dias e noites. Voltei a muitas delas. Repetidamente. É que
se retirarmos algumas linhas e a juntarmos num texto temos um romance com o
corpo, o dele, o nosso, o do outro. Um corpo que se questiona e debate. Um
corpo que existe e persiste no contacto com outros. O corpo é luta e campo de
batalha, o corpo é festa e ninho.
Da axila ao calcanhar, todos os recantos são radiografados. Poetizados. Ao leitor sobra uma vontade, a de tatuar meia dúzia de ideias. O difícil é ter pele que chegue!
“Que comecem
as festividades,
quem perder é pele para tambor.”
“Eu usava uma
armadura
Que me traiu duas vezes:
Foi insuficiente
para defender o golpe
foi eficaz a
esconder a ferida.”
“É na
cicatriz que a pele é mais sábia.”
“Evadi-me
porque
me invadiam.”
“Quando os
olhos se habituam à luz
conseguimos
dizer levemente
o que mais
pesa.”
“Com um poema
ergo paredes
para definir
um espaço interior,
nunca para o
fechar.”
“Se todos os
que me disseram
céus,
como te
abandonas
tivessem
antes pensado
céus,
quantos não
te terão abandonado.”
“(…) Pessoas
são pessoas
para cada
calcanhar, um Aquiles.”
“Ele
perguntou-me:
em que medida
isso te
marcou?
Eu
pergunto-lhe_
Como se mede
uma raiz?”
“A fuga é o
grandioso final em que os milagres acontecem a partir de dentro.”
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