Tropecei em Jonathan Coe pelas palavras de Vasco Ricardo, autor de «O Diplomata» entre outros títulos e crónicas e com quem tenho o privilégio de ter um maior contacto e algumas boas horas de conversa à volta de livros. A ti, Vasco, agradeço o conselho e a recomendação.
«A Chuva antes de cair» ou talvez o pudéssemos apelidar de o legado de Rosamond tem um enredo denso e uma malha descritiva apertada e encerra em si segredos que esperaram uma vida toda para poderem ser revelados.
E que forma brilhante de serem contados!
Aliás, leva-nos a pensar, se pensarmos na morte, na nossa, como gostaríamos de ser relembrados? E se tivéssemos um segredo para desvendar, qual seria a melhor forma de o contar? Uma carta, talvez. Um álbum de fotografias? Era provável...
Porém, Jonathan Coe, traz-nos um personagem misterioso e melancólico, encerrado em si mesmo e que revela um segredo ao longo de vários episódios de forma criativa.
Descrevendo fotografias, Rosamond narra aproximadamente vinte anos de vida para Imógene. E narra porquê? Narra, gravando a sua voz, afinal Imógene é cega. Por isso, deixar-lhe um mero álbum de fotografias não serviria de muito e só ela saberia explicar e detalhar o que cada fotografia encerrava em si.
Os relatos são profundos, tristes, alguns transparecem até raiva e ressentimento, mas para quem os vai escutando, Gill e as filhas, que têm a missão de encontrar Imógene, ora vão sentindo curiosidade, ora (quase) repulsa, por algumas coisas que vão ouvindo.
Todas as famílias têm fissuras e os relacionamentos nem sempre são fáceis e transparentes. Os anos e o peso dos recalcamentos, abrem fossos ainda maiores e com eles uma maior incompreensão. No entanto, Rosamond já faleceu e só as cassetes é que respondem às questões que ficam no ar.
Na minha opinião o autor não explora no leitor a necessidade de julgar, o que nós queremos é chegar ao fim e compreender, perceber o que se passou, completar as imagens em falta, os anos no vazio e os sentimentos que ficaram por se expressar.
Afinal que pacto e que laço tão forte une ou unia Rosamond a Beatrix?
Um livro que achei muito bem escrito e original na forma de apresentar o enredo, mas há algo nele que não me convenceu, não de forma a não voltar ao autor, nada disso, mas antes a querer ler outro e perceber se o que achei demasiado descritivo neste e até alguma falta de acção, acontecerá num próximo ou se aqui era só força de circunstância e uma estratégia para sentirmos o peso das revelações, sufocando o leitor nesta realidade que mesmo não sendo a nossa nos aflige e queremos ver resolvida.
Haveria muito mais a referir deste livro e das características das personagens, dos episódios e da própria escrita, mas isso revelaria muito...
E quem já leu Jonathan Coe, qual recomenda para próximas leituras?
Terminei esse no fim da semana passada. Gostei muito... embora a leitura não fosse difícil, não foi um livro fluido, talvez pela descrição pormenorizada, mas acho que é isso que o caracteriza.
ResponderEliminarDura jornada aquela...
Sim, concordo contigo. Aliás terei de ler outro do Coe, para perceber se é assim sempre, ou se se transforma a cada livro consoante o seu enredo.
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