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sábado, 16 de novembro de 2013

«O Viajante do Século» - Andrés Neuman - Opinião


Distinguido com o Prémio Alfaguara 2009, Andrés Neuman brinda-nos com este «O Viajante do Século» um romance apaixonante ao estilo dos grandes clássicos com uma boa dose de escrita moderna. Um romance onde a política e as artes se encontram, numa cidade perdida, no meio das diferentes regiões da Alemanha. Apesar das diferenças, um ambiente acolhedor, onde existe ao mesmo tempo um grande sentimento de liberdade e de pertença a este espaço imaginário, palco de uma enorme paixão.


Hans, um tradutor com hábitos nómadas chega a Wandernburgo e rapidamente se perde pelas suas ruas e dificilmente consegue sair. É como se tivesses ficado acorrentado a este lugar estranho, mas aconchegante.

Dividido entre a ideia de ser Hans ou Wandernburgo a personagem principal, passo a explicar-vos o que tanto atraiu este homem das letras a este espaço territorial "dominado" pelas artes e pessoas peculiares.
Hans, encontra uma grande variedade de cidadãos invulgares e apaixonados pelas artes, começo por uma das que gostei mais, o mendigo que toca um belo realejo italiano na praça principal. Um velho que irá ser uma grande surpresa por ser educado, bem falante, mas enigmático, por ter uma visão complemente diferente das dos outros, um velho preso ao seu instrumento como se fosse parte do próprio corpo.

Estranho velho, deveria
eu permanecer junto de ti?
Quererás acompanhar o meu canto
ao som do teu realejo?
Wilhelm Müller/Franz Schubert

Grande parte da acção decorre da convivência entre estes dois homens, tanto na praça a ouvirem a sua musica, como na caverna onde passam serões inteiros a falar sobre a natureza ou os aspectos mundanos da vida, tal como a necessidade de viajar ou a força que os "prende" a esta cidade. A contemplação da Natureza e as conversas mais existenciais e materialistas preenchem os diálogos de muitas e muitas páginas.

Hans ainda tem o prazer de conhecer mais alguns cidadãos como Álvaro um espanhol exilado, o Sr. Gottlieb, Rudi Wilderhaus e o Professor Mietter que em conjunto vão discutir semanalmente na casa Gottlieb,  literatura, poesia, filosofia, artes e pintura, irão debater sobre a política e questões da Europa enquanto continente e potência e ainda as guerras subjacentes entre a Prússia e França.

Reuniões que fariam inveja a qualquer pessoa culta ainda hoje. Digamos que seriam tertúlias onde, para além da discussão politico-social dos temas quentes do momento, se crescia culturalmente. Lia-se poesia, representavam-se pequenas peças de teatro, tocava-se música... enfim algo que quase todas as pessoas iriam apreciar e gostar de ter a hipótese de participar.

Para apimentar mais o livro e o seu lado apaixonado, o enredo integra em si uma história de amor à antiga, aqueles amores proibidos, cheios de floreados e declarações de amor... amores impossíveis, já que Sophie Gottlieb, é uma jovem comprometida a casar com Rudi Wilderhaus e Hans é um cavalheiro que deveria respeitar tal condição de contrato social, como mandava a época!

Afinando o toque clássico, a história de amor começa com a troca de cartas, onde os nossos apaixonados trocam poemas, onde tentam decifrar os pensamentos nas palavras um do outro, cartas enviadas pelos criados que se tornam cúmplices deste amor, permitindo os encontros amorosos e mais quentes que mantêm-a a chama acesa.
Um livro já por si belo, mas que ainda melhora com esta relação entre Sophie e Hans que decidem contornar a impossibilidade de ser amarem, decidindo começar a trabalhar em conjunto nas traduções de grandes poetas e romancistas europeus e americanos.

Um livro que é uma ode ao amor. E na mesma linguagem digo que amei a maneira como esta escrito, envolvi-me muito com as personagens e sobretudo apreciei a maneira, quase épica, como o autor nos consegue prender, seja através dos poemas, do romance ou dos factos históricos, que todos juntos contribuem para fazer deste um grande livro.

Leiam um excerto aqui no site da Editora Alfaguara, uma chancela da Objectiva.


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