Hannah surge como um peso, um extra e uma novidade que iria prejudicar o equilíbrio de um mini grupo já bem oleado e treinado, para que as crianças que o integravam pudessem superar as suas limitações. Hannah era um problema ainda maior já que não tinha uma necessidade educativa específica e identificada. MacCracken rapidamente soube que a sua maior necessidade seria: amor. Amor associado a dedicação, atenção e também limites para que a criança percebesse onde se encaixar e perceber o seu papel.
O livro encontra no filme um ideia mais clara sobre sobre o tipo de necessidades especiais que podem ser de espectros de autismo ou outras similares, mas menos identificadas, mas mais ainda os problemas de comportamento e falta de desenvolvimento na infância. As dificuldades de leitura, de aprendizagem de regras básicas, capacidade de interacção e integração social... O livro não aprofunda, mas alerta para diferenças que são necessárias ter em conta para educar e amar as crianças que desenvolvem psicoses complexas e que por vezes são apenas rotuladas como "retardadas" e pelas quais o "sistema" faz pouco.
"Uma criança chamada amor" permite também olharmos a diferenças bastante pertinentes face a questões educacionais de hoje, que até nos leva a perguntar se o caminho tomado foi o mais certo!?
O livro de MacCracken é também autobiográfico, espelhando a vocação e o "dom" de uma mulher, para trabalhar com crianças catalogadas como psicóticas ou "sem solução"... acabando por transformar as vidas daqueles que com ela se cruzavam.
Agindo inicialmente por impulso e actuando de acordo com o que observava, a professora, não certificada, focava-se essencialmente nas necessidades de cada criança do que em rótulos ou teorias. A sua própria aprendizagem foi decorrendo do trabalho que fazia e só mais tarde recorreu à universidade, até mais por exigência oficial.
É importante ler este livro com a ideia que o título é o melhor resumo para a estratégia de trabalho desta mulher com os seu alunos. Será do seu entusiasmo e persistência, mais do que de teorias ou referências bibliográficas que "aprenderemos" algo com este livro. Até a forma como as crianças são
apresentadas é muito menos dramática e vitimizante que outros livros dentro do género.
Uma leitura com o apoio 20|20 Editora - Vogais
Sem comentários:
Enviar um comentário