O homem do puzzle, era também um contabilista, por sinal misantropo, por sinal obsessivo... Mário tentava restaurar a ordem e encontrar a concentração e o entusiasmo, anteriormente perdidos.
Será que são os momentos de lazer a melhor terapia para tudo o resto que corre mal? Trabalho que falha, família que falta, amigos desconectados do real e desinteresse em geral!?
Julgo que mesmo o melhor do livro é colocar-nos a pensar nessas questões. A resistência à mudança, a busca por equilíbrio e estabilidade. A luta entre realização profissional, pessoal e confronto familiar... Podem ser muitas as questões que se levantam, basta ao leitor estar receptivo a essa "conversa".
O registo inicial é bastante intenso e agarra o leitor, aliás em todo o desenrolar, a história vai alimentando bem o leitor com detalhes e enredos, alguns mais previsíveis que outros. Fica sempre uma sensação de intriga, de algo por esmiuçar. Talvez até certa parte seja intrigante o porquê de uns personagens serem brindados com nome e outros só com a sua categoria profissional. Será que, maioritariamente, somos um número, uma categoria, uma profissão!? Talvez não seja ao acaso que quando conhecemos alguém estamos rapidamente a perguntar o que faz. Ter um trabalho ou uma carreira torna-nos, logo à partida, seres mais completos e mais capazes!?
É esse o grande trauma e desespero perante o desemprego? Essa é outra conclusão que se retira a segunda parte do livro.
O mistério da peça desaparecida é uma metáfora igualmente muito interessante. Estamos sempre à espera, à procura, ansiosos por encontrar a peça final, o detalhe que trará felicidade absoluta... a peça que dará por completa a tarefa. Será?!?
Não deixa de ser uma perspectiva interessante.
Fausta Cardoso Pereira traz até ao leitor um livro introspectivo, de leitura fácil, um início intrigante e detalhado que nos faz desde logo aproximar do personagens principal, mas até nisso eu fiquei a pensar. Quem será afinal o personagem principal?
"De um momento para o outro aquela história tinha a ver comigo. Nunca me aconteceu, é certo, mas algum dia podia ser o primeiro."
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Uma leitura com o apoio Editorial Planeta.
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