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sábado, 12 de dezembro de 2015

«Tóquio vive longe da terra» de Ricardo Adolfo :: Opinião

Ao lermos este «Tóquio vive longe da terra» ficamos a saber que é possível casar novamente com o marido, mas sem ter a presença desse no "novo" dia de casamento. Estranho? É verdade, neste livro existem relatos de coisas muito estranhas. No entanto, o estranho, o alien, é o próprio autor e ao que parece protagonista, português a residir em Tóquio que reuniu agora as crónicas que foi publicando na revista Sábado, dedicadas ao modo de vida que tem experimentado desde que se mudou para aquela ilha. 

Afastado da terra, mas sem estar próximo dos ilhéus, Ricardo Adolfo traz-nos, num registo peculiar, as excentricidades de viver numa realidade quase que paralela à nossa. Peculiar é também o mix entre realidade e ficção. Temos o autor e temos um personagem, mas e distinguir a realidade da ficção? Terão todos aqueles episódios acontecido? Ou o autor conseguiu reunir um conjunto muito caricato e hilariante de hábitos que caracterizam o povo japonês!? Ficcionado ou não, os hábitos é o que interessa e a viagem é completamente feita à deriva. 

"(...) os policias não perceberam a pergunta. Como é que alguém poderia querer fazer algo que não se podia fazer?
Enquanto eles tentavam processar o desejo de se fazer algo que não se deve, corri praia fora com um sorriso do tamanho do oceano, sempre à espera de bater com a cara na porta transparente do mar."

Entre quartos gaveta, regras de elevador, um Natal vazio, não ter direito a férias e assédio pós-laboral, concordamos com o autor que amar em estrangeiro é difícil. Ser alien de aluguer é ser pai por um dia sem saber como e lutar pela integração de um alien num casamento singular... Poderia continuar a cruzar os títulos das crónicas do autor, mas nada se compara ao rumo que o livro traça. 

Seja com que ordem for, «Tóquio vive longe da terra» é um livro hilariante e recheado de eventos surreais completamente díspares das nossas referências.

"Se queria ser um alien integrado, mais uma vez teria de ser capaz de descodificar o que ficara por dizer e descobrir qual seria a regra aleatória a cumprir. 
Cada vez mais concluo que o cânone dos nativos não é deste mundo."

As crónicas foram sempre acompanhadas de fotos que se podem ver através dos códigos qr que estão no início de cada capítulo e que remetem para imagens que o autor foi postando na rede Instagram.


Uma leitura com o apoio:
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