Imaginemos cactos. Aqueles arbustos ou árvores, consoante o género, com mais ou menos picos, com ou sem flor, erectos ou ramificados, tortos ou inclinados... não sei... pensemos em cactos desde o início para não pensarmos em outro tipo de espécimes erectos, já que o narrador é o Houellebecq e eu não me apetece imaginá-lo nu.
Com este pequeno livro, quase literatura de viagens, consegui redimir-me e voltar às leituras desde autor. Esse sim, recheado de picos, com certeza na língua, pois parece que nada lhe fica por dizer, ultrapasse ou não o politicamente correcto. Parte na qual, devo concordar, às vezes já enjoa e existem coisas que precisam ser ditas. E Houellebecq não perdoa!
Passando estes parágrafos introdutórios convêm ainda dizer que este pequeno livro é a prova de que mesmo os mais cínicos, espinhosos e do contra, merecem e têm férias. Mal seria se assim não fosse!
Por isso, temos em mãos mais de cinquenta páginas de humor, entre paisagem árida, reflexões cáusticas, banhos de mar e algumas cenas de sexo em grupo. Que mais para ter umas boas férias!?
Companhia? Isso o narrador também terá. Rudy é o companheiro para uns copos e o que permite a viragem da acção e da reflexão durante estas merecidas férias no início do ano 2000.
O sentido da vida, especialmente na viragem do século, está na ordem do dia, mas não se espere uma reflexão muito exaustiva. Afinal é um período de férias e “Podemos viver sem esperar nada da vida?”é a pergunta chave deste relato. Se não esperarmos nada, pelo menos que se usufrua de sexo, em qualidade e quantidade.
"Eu penetrava-a profundamente, devagar e depois depressa. Pam acariciava-lhe os seios. (...)
Empenhou-se com uma tal sensibilidade que Barbara e eu gozámos exactamente ao mesmo tempo...
Fiquei exausto e dirigi-me para a cama suplementar - na realidade, a cama de criança - enquanto Pam e Barbara continuavam a masturbar-se e a lamber-se uma à outra na cama de casal. Eu estava nu e feliz. Sabia que ia dormir muito bem."
A aventura na ilha termina, mas os registos de férias ou o traço critico e hedonista do autor não. Avançamos por outras reflexões e mais sexo. Perguntando até que limite o autor pretende chocar o leitor ou apenas dar-lhe outras formas de observar a realidade. Será?
Se com a leitura de «Extensão do domínio da luta» eu fiquei desinteressada das suas palavras, com este registo mais sardónico, mas no qual até lhe encontro um certo sentido, já fico mais curiosa com a tão falada obra «Submissão».
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Um livro ALFAGUARA
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