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terça-feira, 6 de março de 2018

"A Cidade de Ulisses" de Teolinda Gersão :: Opinião



Teolinda Gersão escreve de tal forma que inebria o leitor e fá-lo seguir, páginas atrás de página, este romance que é uma declaração de amor a Lisboa, enquanto um homem e uma mulher constroem uma exposição e desconstroem a sua história.

"Eu ouvia-te, surpreendido. Despoletara esse poder em ti, mas não o possuía. Lamentava não partilhar o dom de amar assim.
(...) se continuasses a amar-me desse modo, eu nasceria."

A história gira em volta do trio, Paulo Vaz, Cecília Branco e Lisboa, "(...) e olhávamos a cidade como se nos pertencesse e fôssemos construir alguma coisa a partir dela."A cidade outrora de Ulisses navega anos e anos de história pela relação e pela mente destes dois apaixonados. Um pelo outro e por Lisboa. À volta do romance, a ideia de uma exposição. A Arte como motor desta narrativa: "Como sabe, é provavelmente sempre assim que surgem as obras de arte: a partir de motivações pessoais, em geral egoístas, para prazer do criador, para que ele possa exercer o seu domínio sobre o real, forçando-o a moldar-se ao seu desejo."

Este desejo de moldar o real e o imaginário é um poder expresso na escrita de Teolinda Gersão. Palavras, aparentemente simples, que se combinam em camadas não verbalizáveis que confinam o leitor para logo de seguida o largar em algo tão grande como os séculos de história de Lisboa.

"(...) O mundo transformara-se noutro, e só tu sabias. (...) como se ruim te pudesse atingir e a felicidade fosse uma coisa palpável, concreta, que levavas na mão, fechada dentro do bolso (...)

Dentro do livro esconde-se desejo, impulso, paixão, desencontro, conhecimento, memória, imaginário, criação, descobertas, distracções, jogo, fascínio, subjugação, risco, medo, felicidade, melancolia, ficção, vazio, realidade... ingredientes que agitam e misturam esta massa do que foi vivido e do que podia ter acontecido, tanto na história da cidade, como na história do casal.

"Tudo o que importa na vida se passa também sempre ao nível do imaginário."

Muito ao nível da reflexão, este livro, expõem: literatura, história, política, mitologia; combina ensaio com romance, educa e questiona, mergulha o leitor no passado e chama-o ao presente; mostra-lhe dificuldades, mas também aponta caminhos. E ainda, encaminha por travessas e vielas, e se torna num roteiro de Lisboa.

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Veja também ao vídeo onde a autora explica o seu livro, o seu primeiro com voz masculina.
Carregue na imagem e assista.



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