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quinta-feira, 26 de abril de 2018

«A Cécula Adormecida» de Nuno Nepomuceno - Opinião



Depois de ter lido «Pecados Santos», não resisti a vir descobrir mais da história do Professor Catalão, bem como o thriller religioso que se sustenta na religião muçulmana. E agora, com ambos os livros lidos, a expectativa é ainda maior para um thriller que se alimente dos pecados do cristianismo.  

Aqui, se o terror está no meio de nós, o abandono e a descrença também. Uns, vítimas da guerra e dos flagelos humanitários que deflagram nos seus países de origem; outros, vítimas do desenraizamento ou da descrença total num sistema no qual, não acreditam ou sequer se identificam. São todos vítimas. E quando existem vítimas, pairam sempre à sua volta bandos de corvos: almas negras e manipuladoras, aproveitando-se da fragilidade e da estranheza de chegar a um país com tantas diferenças. É nessa fraqueza, no medo e na desconfiança, com que a fé os assinalada, que se instalam preconceitos em ambos os lados. Preconceitos alimentados pelo desconhecimento, mas também por muita informação enviesada e viciada. 

"Um sentimento de angústia e desamparo apoderou-se-lhes do coração. Há muito que se encontravam à deriva, exaustos, deixados perdidos nas águas turvas do mar, entregues a um arbítrio que não compreendiam. Era de noite. A escuridão envolvia-os. E eles não mais acreditavam.
Haviam abandonado tudo. (...)"

«A Célula Adormecida» de Nuno Nepomuceno explica, detalhadamente, muitos desses engodos e dá imensas informações, tanto para quem quer saber mais sobre a religião muçulmana, como para quem só quer estar mais esclarecido face à actualidade: Síria - Islão - DAESH/ISIS. Pelo meio, um enredo muito bem conseguido, constantemente em aceleração e claro, oportunamente actual.
Nepomuceno é capaz de informar, fazer rir, criar momentos de tensão, construir personagens credíveis e de quem queremos saber mais e tudo isto em capítulos curtos, viciando o leitor, sempre à espera do detalhe seguinte, da revelação determinante. Por vezes, provoca certas distracções intencionais, com momentos de romance ou quezílias familiares, que tão bem compõem o ramalhete.

O que também compõe muito bem este livro são as "visitas" a Istambul, uma das cidades que mais gosteis de conhecer. A descrição do professor a contemplar o estreito do Bósforo na colina que alberga a imponente Mesquita Süleymaniye levou-me de volta a essa cidade cheia de contrastes, onde navegar nas margens do Bósforo nos dá bem a dimensão tríptica da cidade.

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2 comentários:

  1. Tenho livros deles na minha lista para ler. Estou ansiosa por te-los na minha mão

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  2. Força Princess Cat, boas leituras :D

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