“Durante anos senti-me culpada. Culpada de nos termos beijado a primeira vez enquanto a cidade ardia, culpada por ter sido capaz de me perder em ti naquele momento. Mas, mais tarde, compreendi que não éramos os únicos. As pessoas confessaram-me, em sussurros, que tiveram sexo naquele dia. Que fizeram um filho. Que ficaram noivos. Que disseram «amo-te» pela primeira vez. Há alguma coisa na morte que faz as pessoas quererem viver. Naquele dia queríamos viver, e não nos culpo por isso. Deixei de nos culpar.”
Este romance de Jill Santopolo está cheio de culpa e ambiguidades e talvez seja isso que o torna tão plausível.
É a culpa por não se ter o condão de adivinhar qual é o destino de cada um e de uma vida a dois.
Lucy, Gabe e Darren compõem um enredo cheio de encontros e desencontros e até um certo abandono. São vidas cheias, mas ao mesmo tempo vazias, vidas em função de outras vidas; de objectivos, de sonhos, de certezas. Certezas que a vida se encarrega de abalar e baralhar.
Mas mais do que tudo, e como não podia deixar de ser, há aqui um amor absorvente, vivido numa medida maior e com contornos de tragédia. Lucy e Gabe conheceram-se a 11 de Setembro de 2001. Ainda assim, e que por mais que se amem, anos a fio, são pessoas diferentes e seguem - separados - vidas independentes.
"(...) sempre me pareceu que pertencias a ti próprio e que te emprestavas a mim quando te apetecia; nunca te possui completamente"
Mas quem possuí quem, se por vezes é tão difícil possuirmo-nos a nós mesmo!? É nessa dificuldade que Lucy avança com a sua vida e conhece Darren. E toda essa parte mais cor de rosa foi deliciosa de ler, tem detalhes muito bem conseguidos e cenas muito reais. No entanto, o que incomoda (e não sei se essa é a palavra certa) é percebermos que toda a narração é dirigida a Gabe, como se Lucy lhe relatasse a sua vida, numa carta sem fim, anos e anos seguidos.
Gabe é um fantasma maior e assombra todas as outras coisas: a maternidade, a carreira, o casamento ou a família que parece estável e completa.
"Vemos tudo através do filtro dos nossos desejos e arrependimentos, das nossas esperanças e medos."
Para além dos filtros e dos arrependimentos em que o livro nos faz pensar, leva-nos igualmente a reflectir na forma como as relações nascem e se desmoronam, e o difícil que é encontrar o equilíbrio.
Foi uma boa leitura e recomenda-se, seja para leitores apaixonados ou corações despedaçados.
Não gosto da capa mas fiquei interessada no livro.
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