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quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Balanço literário de um ano híbrido e longo




2019 foi um ano híbrido, a muitoooos níveis e com os livros não foi excepção!


Julgo não ter havido ano, nesta década que fechou, em que eu lesse, mas não terminasse vários livros e de ter mais de metade por lhes dedicar um texto.

Li 23 livros para os quais fiz um texto de opinião, 12 deles eram da biblioteca, para cumprir o objectivo: "vai mais à biblioteca" e mesmo no final do ano não foi excepção, pois trouxe 5 livros de contos que me têm acompanhado por dezembro e transitaram para 2020.

Produzi pouquíssimo para o projecto Deus me Livro, tão pouco que ainda é uma bênção poder de vez em quando publicar lá, especialmente a reportagem sobre a Noite Europeia da Literatura.

Já com a comunidade de leitores estive mais assídua, mas muito menos participativa com textos.

Tenho 28 por livros lidos sobre os quais não escrevi nada e nem sei bem porquê: preguiça? desleixo? vontade de acumular e ver a pilha a crescer?
Não sei e decidi nem querer saber ou me preocupar. Li-os, estão lidos, outros não os terminei (3) e daqui irão provavelmente para a estante ou para as da biblioteca municipal.

Apetecem-me apenas pequenos parágrafos e saber que os li, recordando-os ou por fotos ou por frases de destaque.
Isso, e ver se cumpri com o desafio lançado por mim mesma no princípio do ano, daí este balanço.

*

Um dos favoritos marcou logo o início do ano, «O filho único», uma narrativa muito bem montada com um narrador de 6 anos a tentar descodificar o mundo dos adultos, quando esse mundo se confunde ainda mais perante a morte de um filho, um outro filho.
O arranque do ano ficou igualmente marcado pelos contos de Ana Margarida de Carvalho, «Pequenos delírios domésticos» que brindam o leitor com uma escrita magnífica, cuidada e enredada, dando-nos sempre vontade de continuar cada conto, navegando assim naquela realidade paralela.

Janeiro de 2019 ficou ainda marcado pelo regresso a Richard Yates e o seu «O Desfile da Primavera» onde a tristeza e a dose certa de desgraça familiar completam a solidão que pauta os livros do autor. E isto, claro, envolvo numa escrita impressionante e que prende desde a primeira frase.

Em Fevereiro perdi-me nos contos e novelas de Mário de Carvalho, fiquei fã de "Cronovelemas» e em Março voltei a João Tordo na reedição de "As três vidas", cumprindo assim mais uma meta do desafio literário: "lê mais autores portugueses".

Ainda em Março regressei a In McEwan e descobri John Banville, mas não tive paciência para continuar com o nobelizado Wole Soyinka, mas o que me arrebatou mesmo foi a maluquice do «Onde estás Bernardette?», um livro no qual peguei por ver vários destaques e opiniões devido ao filme que ainda iria sair durante o ano.

Em Abril voltei a Philipe Claudel, mas também aos portugueses com «Filho da mãe» de Hugo Gonçalves que mesmo não me tendo conquistado, merecia que eu lhe dedicasse um texto. O luto é um dos meus temas favoritos e a forma como o autor faz uma road trip pelas memórias pós-morte da mãe vale bastante a pena e isso fez-me ir ao teatro ver uma peça adaptada de um dos seus livros de contos: «Fado, Samba e Beijos com Língua».

Em Maio perdi-me pelas novidades e li «O fim da solidão» ao qual não dediquei texto e do qual pouco ou nada me lembro. Mas lembro-me muito bem das mulheres que João Tordo trouxe em «A mulher que correu atrás do vento» juntamente com toda uma compilação musical que me fez completar mais partes do desafio literário: "Livro com música dentro" e "lê um calhamaço". Aliás com Tordo e já mais para o final do ano, li outro calhamaço «A noite em que o Verão acabou».

Já o ano ia a meio, voltei aos contos de Murakami com «Os celeiros incendiados», pensando ir ao cinema ver a adaptação cinematográfica, mas não fui a tempo, nem o conto me conquistou, tal como não percebi o furor em torno de "Devias ter-te ido embora" do alemão Daniel Kehlman. Também não me convenceu, o último do nórdico M. J. Arlidge: «A floresta do mal» ou a estreia com a portuguesa Julieta Monginho na reedição de «A terceira mãe". Convenceu-me sim «A criança que sonhava com o fim do mundo» e a «A filha devolvida» ou ainda «Crianças invisíveis», num retorno à escrita de Patrícia Reis. No entanto, para nenhum deles fiz um texto.

Como também descobri, após os empréstimos, que nunca fiz um texto para livros lidos em 2018, tais como «Ecologia» de Joana Bértholo; «Meio homem metade baleia» de José Gardeazabal ou o fabuloso e conciso «Laços» do italiano Dominico Starnone e o qual devo voltar a ler.

O verão propriamente dito foi marcado pela intensa leitura de «Um estado selvagem» que é talvez o livro do ano, pela dureza daquilo que relata e por falar de violência contra as mulheres juntamente com o clima de guerra que se vive em muitos países africanos, picando assim mais dois pontos do desafio de leitura: livros sobre os Direitos Humanos e livros cujo a narrativa é num cenário de guerra, mas também para este ponto podia eleger o fabuloso, e outro dos favoritos deste ano: «Cai a noite em Caracas» de Karina Sainz Borgo, que tem um enredo completamente fora de tudo o que li este ano, abordando tantos dos temas que têm inundado as notícias da actualidade. Este livro merecia um texto, mas merecia mais ainda uma série ou um filme para que fosse falado inúmeras vezes.

O Verão teve mais duas leituras marcantes: «Uma questão de conveniência» que muito diz sobre a sociedade, o trabalho e as convenções que nos iludem e condicionam e que são transversais, tanto no mundo nipónico como aqui entre nós. Outro marcante foi «Autobiografia» num regresso à escrita de José Luís Peixoto que levanta uma questão muito interessante: "Quantos Saramagos existem?", ou melhor ainda, em quantas pessoas se divide ou multiplica um autor, seja ele quem for, quando cria um livro? E isso é interessante de explorar e ao acaso cheguei a divagações idênticas já mais para o final do ano com os contos de Ali Smith.

No verão ainda houve lugar a alguns livros nos quais peguei, li um pouco e larguei, entre eles com muita pena minha, como é o caso de «Vendedor de sangue», tinha muita curiosidade, mas que não me agarrou de todo! Li ainda e não me marcou «As longas noites de Caxias» e «Eu sou Bolaño». O que me continua a agarrar é Flannery O'Connor de quem li contos e os livros destacados pelo Prémio Leya, de onde li «Torto Arado» que muito me envolveu naquela crueza da roça antiga brasileira, que desconfio ainda existir e ser metáfora para criticas à actualidade.

Entrei em Setembro envolvida em romances mais light com «O que nos fica somos nós», que li bastante envolvida, pois gosto de livros que exploram a culpa. Também gosto de livros com pessoas estranhas e por isso preferi o romance seguinte: «Perto demais» que muito me fez rir. Já «Nenhuma verdade se escreve no singular» do qual adorei o título, explora um enredo pouco plausível e que cansa o leitor.

No trimestre que fechou a década, o tempo dedicado aos livros foi pouco, escrevi apenas sobre «Novembro» tentando perder-me mais no universo das Graphic Novels e da Banda desenhada, e fiz uma excelente descoberta: Enki Bilal que me fez voltar várias vezes à biblioteca.

Li também «Não te afastes» uma ficção juvenil de David Machado e mais um romance a puxar para o thriller, «A mulher entre nós», que muito habilmente confunde o leitor entre saltos cronológicos e relatos de mulheres. Deixando uma questão: "em quantas mulheres uma mulher se multiplica ao longo da vida?"

Mesmo na recta final de 2019 o tempo foi partilhado entre os contos de Tolstói, Ali Smith e o tão badalado trhiller de João Tordo que não foi de todo uma das minhas escolhas, se bem que o arranque e as 100 paginas finais são muito hábeis e viciantes. Viciante e engenhoso foi também «O protesto do lobo mau», livro infanto-juvenil que ganhou o prémio Pingo Doce.

O ano não terminou sem voltar à biografia de David Bowie, que me vai acompanhar em 2020 e o retorno de Possidónio Cachapa, que tem um mote meio delirante, meio sonhado e todo ele uma metáfora e uma critica, mas não era bem o que eu esperava, já que sou fã do universo muito particular que o autor tem criado em todos os seus outros livros.

E com este longo texto, remato assim todos os textos que não fiz desde o final de 2018 e ao longo deste 2019 que pareceu arrastar-se em muitas coisas.

E face ao desafio do blogue, o livro pendente de 2018 ficou pendente na mesma, não li nenhum livro com árvore na capa; com mais de 100 anos peguei em Tolstói, mas não li mais do que um conto ou dois, não li nem o Nobel de 2018, nem a de 2019 e nas metas literárias ficou-me a faltar ler sobre Fernão de Magalhães. O que de melhor o desafio me trouxe foi ler fora da zona de conforto e ter lidos mais contos.



E sem mais demoras, o meu Top 10 são:

"O filho único"
"Pequenos delírios domésticos"
"O desfile da Primavera"
"Um estado selvagem"
"Cai a noite em Caracas"
"A mulher que correu atrás do vento"
"Uma questão de conveniência"
"Autobiografia"
"Bowie, uma biografia"
"O protesto do lobo mau"

4 comentários:

  1. Também escolhi Cai a noite em Caracas como um dos melhores que li este ano

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  2. Eu até gostava de começar a ir à biblioteca, mas tenho 1 mania tão grande de posse em relação aos livros.
    Adoro vê-los no final na estante, mesmo que ela esteja a abarrotar.

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    1. Eu também sou assim. Tenho vários. Livros. Já li muitos. A maioria que já li eu tenho. Alguns acho que ainda vou ler mas ocupa espaço. Coragem pra doar... cadê?
      rs

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  3. Obrigada a todos pelos comentários, é bom vir reler textos nossos e ver que alguém os lê e comenta. Bem haja.

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